quinta-feira, setembro 10, 2015

Plantem árvores - Artigo de Antônio Francisco de Lima

"Árvores frondosas e endêmicas morreram diante de um reservatório ainda com bilhões de metros cúbicos de águas mansas. O que está acontecendo hoje com a arborização do acampamento de Itaparica, é um crime ambiental sem precedentes na história recente do município de Jatobá", afirma Antônio em seu artigo.
Agosto/2015
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Março/2013

Segundo Marques Rebelo, que já se foi, membro da Academia Brasileira de Letras, conta-se que o velho Beethoven, já surdo e misantropo, numa das múltiplas ocasiões em que mudou de domicílio em Viena, perguntou ao novo senhorio logo ao transpor a porta de entrada: - O senhor tem árvores no quintal? E como o homenzinho respondesse com a negativa, resolveu logo: - "Então não me serve, gosto mais de uma árvore do que de um homem".

Mas não é preciso ser surdo, nem misantropo, nem gênio, para pensar assim. Talvez que para tanto baste ser civilizado. É o eterno ciclo que se repete. O homem transforma de tal modo a crosta do planeta com os cinco dedos de sua técnica que já se aborrece de sua obra fria e acabada. E volta-se então para a velha natureza em busca de vida, de emoção, de saúde.

Até o ano de 2010, 2012, os moradores e as pessoas que visitavam o acampamento de Itaparica em Jatobá (PE), alumbravam-se vendo o encontro que eram os canteiros verdejantes que mais pareciam lindos tapetes espraiados pelos bosques ao longo das avenidas Norte e Sul, construídas pela CHESF, que gastou fortuna no afã de compensar o estrago que causou ao meio ambiente, ao bioma da caatinga, impactando o ecossistema em virtude da construção da hidrelétrica, hoje denominada Luiz Gonzaga.

Os homens do passado não tão distante, respeitáveis administradores da CHESF, visionários, deixaram um legado de qualidade de vida e respeito ao meio ambiente plantando árvores, edificando jardins que, lamentavelmente, hoje, notadamente, encontram-se fenecidos pela falta de sensibilidade dos atuais administradores, como se nulidades fossem.

Restam os tocos, e não são "tocos sozinho", afora os que foram arrancados pela raiz para encobrir o descaso, resta ainda uma pequena porção de grama preservada ao lado da igreja católica, talvez, preservada por causa do receio da excomunhão, da maldição que será impetrada pelos Santos indignados. Restam também resquícios de grama e jardim em frente à Escola de Referência do Estado, o GEI e casa do prefeito; de resto, o banzo da terra ocre que sepultou os gramados e os jardins fenecidos nos bosques tristes, ressequidos pela falta de irrigação e sensibilidade por parte dos homens que não gostam de árvores. O que resta, está fadado a morrer lentamente pela ação do descaso e a mão do desatino.

Não se tem como esconder o que antes era denso, povoado por árvores frondosas e endêmicas morreram diante de um reservatório ainda com bilhões de metros cúbicos de águas mansas, represadas pela barragem da usina.

O que está acontecendo hoje com a arborização do acampamento de Itaparica, é um crime ambiental sem precedentes na história recente do município de Jatobá.

O contrassenso é que milhares de tubos de PVC encontram-se há muito tempo estocados no pátio do almoxarifado da CHESF em Itaparica, próximo a usina, quando pequena parte desses tubos poderia ser utilizada para se fazer uma adutora, com baixo custo, que iria irrigar por gravidade, com água bruta, definitivamente as árvores que ainda restam.

Alega-se contenção de despesas, mas compraram carro pipa com dinheiro suficiente para perfurar vários poços artesianos. Apesar da aguação de faz de conta, as despesas com combustíveis e a manutenção desse veículo custa caro, e é sucessiva. Vale lembrar que a dívida sócio ambiental para com a comunidade que ela deslocou não foi paga, e ela tem sim, responsabilidades pecuniárias para com o acampamento que ela criou no interesse de sua atividade fim, gerar energia.

A despeito dos atuais administradores da CHESF, decúbitos em seus suntuosos gabinetes, envidou esforços para economizar recursos matando o meio ambiente. Seria salutar que atentassem para economizar recursos com os contratos que envolvem cifras elevadas de recursos com a contratação, aquisição de equipamentos, compra de materiais e locação de veículos e seus aditivos; mas não destruindo a beleza que ela mesma criou, e custou caro aos cofres da nação. Certamente os baluartes do passado, não surdos, nem misantropos, enrubesceriam diante desse discurso.

Jatobá (PE), 08 de setembro de 2015.

3 comentários:

  1. Mesmo morando no centro em Jatobá tive o privilégio não só de ver, mas de desfrutar do deslumbrante verde que o bairro de Itaparica possuiu. As fotos assim como o corpo do artigo postado por Antônio Francisco denunciam com clareza a atual situação de algumas árvores e um pouco de grama que ainda insistem no direito de viver jogados a revelia de quem deveria tomar providências com a irrigação destes. A encíclica Laudato Si do Papa Francisco tem algo em comum com o artigo postado, o apelo ao respeito com a Mãe Natureza no cuidado com o Meio Ambiente em que vivemos já defendidos há séculos por São Francisco de Assis. Coincidência ou não temos aí uma declarada preocupação com a deplorável situação da Natureza por parte de 3(três) Franciscos: O Santo, Papa através da sua encíclica e o próprio Antônio Francisco através do seu artigo. Vamos unir forças com esses três e dar o nosso grito de repúdio com o descaso que acontece em Itaparica.
    Brito Jatobá PE.



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  2. Excelente artigo! Reflexão para que se possa chamar a atenção das autoridades responsáveis, a fim de mudar a atual situação do meio ambiente na região, a natureza agradece!
    Parabéns, Antônio Francisco de Lima

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  3. Excelente artigo! Ótima reflexão para que se possa chamar a atenção das autoridades responsáveis pelos cuidados e trato com a destinação das verbas públicas, a fim de mudar a atual situação do meio ambiente da região. A natureza é fonte de vida, árvores são essenciais, é preciso equilíbrio e sensibilidade para não deixar tudo isso se acabar, é preciso ATITUDE.
    Parabéns, Antônio Francisco de Lima!
    Thácia Nayane.

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