sábado, novembro 16, 2019

Petrolândia: SUBJETIVIDADES - Por: Fernando Batista


Construímos muros ao redor de nossas casas, reforçamos as portas com fechaduras mais resistentes, instalamos câmeras de vigilância e colocamos uma placa com dizeres nada discretos: “Cuidado! Cão bravo.”.

Todo esse esforço legítimo é para nos manter distantes dos saqueadores, daqueles que podem invadir nossas casas e tomar de assalto os nossos bens mais valiosos. Mas o que estamos fazendo para nos proteger dos saqueadores de emoções e sentimentos? Daquelas e daqueles que chegam de mansinho, invadem nossa vida, conquistam nossa amizade, atraem nossa atenção, nos fazem criar expectativas e, depois de roubarem toda a nossa energia, vão embora deixando nossa casa interior desolada.

Há um poema de Eduardo Alves da Costa que, analogamente, tem similaridade com a abordagem. Chama-se “No Caminho com Maiakovski”. “Na primeira noite eles se aproximaram e roubaram uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”

Cuidado! Haverá sempre alguém à espreita. Alguém que só vemos chegar, mas não vemos partir. Alguém que em um movimento silencioso, aos poucos instaura um processo destrutivo e irremediável.

As relações humanas estão sempre vulneráveis aos riscos dos atos violentos e velados. Um só descuido e as relações podem evoluir para uma violência silenciosa. Basta que as pessoas se percam de seus referenciais e se ausentem de si mesmas. Pequenas permissões abrem espaços para grandes invasões.

Por: Fernando Batista

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