sábado, novembro 06, 2021

Petrolândia: Deus mora na beleza: Por Fernando Batista


Outro dia observei uma cabeleireira e sua cliente. o Salão era seu templo e, com respeito, adentrei ao recinto. Elas[cabeleireira e cliente], na verdade pareciam confidentes. Não havia formalidades entre elas. Eu, apenas um ouvinte, atento aos detalhes. Deus tinha olhos claros e, ao mesmo tempo estava sentado com pele achocolatada como que bronze de primavera. Extraí daquela manhã ensinamentos que nenhum catedrático ousaria sorver. Isso porque, é no cotidiano da vida que o sentido se revela.

Foi como se eu estivesse diante da lógica dos contrários que rompe o senso comum. O antagônico em mim fez morada. Elas falavam de belezas que vão além das aparências, falavam de religião como se estivem esbarrando no próprio Criador que, sem censuras acolhia cada frase. Os risos não eram de zombaria, mas de cumplicidade. Lavar o cabelo naquele dia foi a liturgia mais perfeita. O toque das mãos denunciava o conhecimento do território que carecia cuidado.

Cada Pincelada nas mechas dava cor e vida aos fios e aos sorrisos. Uma frase de efeito, um "fuxico", uma risada. Afinal, Deus também está nas confidências, queiramos ou não. A espera para que o produto fizesse efeito não foi eterna, mas deu espaço a outrem, enquanto se acariciava afável o "couro" de quem escolheu para amar nem q fosse por aquela hora. Afinal, o tempo para quem se ocupa da beleza interior exige calmaria e segurança.

Aquelas duas almas conversavam sobre coisas das quais eu não conhecia , porém entendia. Elas se entreolhavam pelo espelho e ultrapassavam aquela superfície linear. O espelho refletia verdades secretas cuja confissão não cabe a mim penitenciar. Aquelas almas conversavam sobre coisas que as tocavam: realidades vividas, sofridas, superadas e desejadas. Deus de olhos claros em pé e ao mesmo tempo com longas madeixas e sorriso fácil, sentado pacientemente. Embora duas , eram uma só, pois ultrapassavam a realidade palpável e as aparências.

Creio que todas as vezes que ultrapassamos a superfície da realidade, nós somos apresentados com profundidade. Isto é, além do reflexo do espelho há refração, há esperança, há vida. O desenrolar da escova, desenrolava lembranças e superações. O calor do secador esquentava fios e coração. Elas eram guiadas pela confiança, porque ultrapassar os limites das aparências é verdadeiramente conhecer. Ao sair do salão, foi perceptível: Estavam refeitos cabelo, autoestima e confiança. Então lembrei que Deus mora na beleza. Foi inevitável vê-lo naquele salão. Lá eu vi Deus através do espelho.

Por: Fernando Batista

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