sábado, novembro 21, 2015

Microcefalia pode se espalhar pelo país, diz diretor do Ministério da Saúde


Diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch afirmou ontem que os casos de microcefalia devem aumentar no Brasil e que o país já enfrenta uma epidemia. Um balanço divulgado na terça-feira pelo ministério mostra que foram registrados 399 casos este ano em sete estados da Região Nordeste. Em 2014, o Brasil inteiro teve somente 147 registros. A microcefalia, uma malformação em que os bebês nascem com o crânio menor do que o normal — com perímetro cefálico igual ou inferior a 33 centímetros —, leva a problemas neurológicos e motores. Até então, o repentino aumento do número de casos era tratado como um surto.

— Se quisermos usar o termo epidemia, do ponto de vista técnico, ele é absolutamente correto. E acreditamos que sim, a doença vai se expandir — disse Maierovitch, durante reunião da Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados.

O termo “epidemia” é usado, em nível nacional, quando vários estados apresentam súbito aumento na notificação de determinada doença. Já “surto” ocorre quando se comprova que o crescimento de casos da enfermidade atinge apenas uma área específica do país.
Até o momento, nenhum estado de fora do Nordeste relatou um número acima da média de casos de microcefalia. No entanto, ainda ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, endossou que, caso seja confirmado que o vírus zika contraído pela mulher durante a gravidez pode causar a doença no bebê, é clara a possibilidade de a epidemia se espalhar por outros estados. Castro classificou como “gravíssima” e “preocupante” a alta nos casos no Nordeste. Durante um evento da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Brasília, ele recomendou às mulheres muita cautela na hora de decidir engravidar.

— Tomem os cuidados devidos quando forem engravidar. Sexo é para amador, gravidez é para profissional — disse Castro.

Atualmente, há registro de aumento do número de bebês com a malformação em Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Piauí e Bahia.

FALTA DE VERBA PREOCUPA

Deputado da bancada da Saúde, Darcísio Perondi (PMDB-RS) reclamou da falta de recursos para a área, o que poderá prejudicar o combate à doença. Segundo ele, por meio de várias manobras, o governo vai retirar mais de R$ 11 bilhões da Saúde em 2016. Vários deputados dessa bancada deverão se encontrar com o ministro na manhã de hoje.

— O governo está reagindo, mas vai precisar de recursos — afirmou o parlamentar — Deve tirar (recursos) até do Bolsa Família se for preciso (para repassar para a Saúde).

O principal suspeito para a epidemia dessa malformação congênita é o vírus zika, que começou a circular pelo país no início deste ano e é transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo mosquito da dengue e do chicungunha. Essa hipótese se fortaleceu após a detecção do vírus no líquido amniótico de duas grávidas da Paraíba, conforme foi divulgado anteontem pelo Ministério da Saúde.

— Evidentemente, vamos reunir todos os cientistas envolvidos na questão para podermos dizer com segurança se o aumento dos casos de microcefalia, principalmente em Pernambuco, foi mesmo causado pelo zika — garantiu o ministro.

Esse vírus provoca sintomas parecidos com os da dengue — como manchas vermelhas, dores nas articulações e febre —, mas de forma muito mais branda. Diferentemente da dengue, o zika não tem uma versão hemorrágica e não leva à morte. Ainda não existe, porém, um teste específico para identificar o vírus, nem uma vacina para preveni-lo.

Uma mãe de Pernambuco que teve, há pouco mais de 40 dias, um bebê com microcefalia e prefere não se identificar acredita ter tido zika no terceiro mês da gestação. Na época, porém, ela foi tratada por médicos como se tivesse uma virose comum.

— Senti dores de cabeça, febre e tive manchinhas vermelhas na pele. O meu marido também teve manchas cerca de duas semanas depois de mim. Esses mesmos sintomas também apareceram em muitos vizinhos. Fiz sete consultas e, em nenhum momento, surgiu a suspeita de que poderia ser algo além de uma virose. Não podia imaginar que meu filho estava em risco — conta ela, que está passando, junto com o bebê, por uma série de exames no Hospital Oswaldo Cruz, no Recife.

De acordo com o ministro, ainda não há uma decisão tomada sobre como serão os investimentos para o combate ao Aedes aegypti. A OMS foi avisada formalmente sobre a epidemia.

— O Ministério da Saúde do Brasil está trabalhando muito de perto com a OMS e a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) para saber se há associação entre zika na gravidez e o surgimento de microcefalia. Mas eu devo enfatizar que essa ligação ainda não está determinada — diz a diretora-geral da OMS, Margaret Chan.

RJ NOTIFICA MANCHAS VERMELHAS

No Rio de Janeiro, a Secretaria estadual de Saúde informou que passa a ser obrigatória a notificação de manchas vermelhas no corpo de gestantes. A medida será publicada hoje no Diário Oficial.

Independentemente da idade gestacional da mulher, esses casos devem ser notificados em até 24 horas pelos médicos que a atenderem. A notificação deverá ser feita por telefone, e-mail ou formulário on-line, e a medida vale para os setores público e privado.

— As gestantes que notarem manchas vermelhas devem procurar seus médicos e passar por uma investigação para ver se têm alguma infecção, que possivelmente seria zika. Isso vai nos ajudar a traçar o mapa epidemiológico do estado — diz Alexandre Chieppe, subsecretário de Vigilância em Saúde da secretaria. — Estamos planejando uma campanha de prevenção ao Aedes, que deve começar em breve. Precisamos do apoio de toda a população.

Este ano, até o momento, houve nove registros de microcefalia no estado do Rio. Em 2014, esse índice foi de dez casos e, no ano anterior, de 19.

O Globo

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