domingo, agosto 11, 2019

Empresa denunciada por escolas canadenses afirma que vai honrar dívida referente ao programa Ganhe o Mundo

Empresa diz que vai honrar dívida com escolas do Canadá referentes a Ganhe o Mundo
O diretor da empresa 2G, acusada pela Associação de Escolas Públicas do Canadá de dever 2 milhões de dólares canadenses referentes a intercâmbios de estudantes do Programa Ganhe o Mundo, se defendeu das alegações, neste sábado (10). (Veja vídeo acima)

Segundo Jameson Nascimento, o valor equivale a 1,69 milhão de dólares canadenses e a dívida ocorreu por causa de uma oscilação entre o valor repassado pelo governo pernambucano, previsto em licitação, e o valor do câmbio na época da viagem dos estudantes.

Na sexta-feira (9), a diretora da associação canadense, Bonnie McKie, declarou que não receberia mais estudantes inscritos no programado governo do estado, por causa da dívida com a empresa. Em reais, o valor que a entidade estrangeira diz que a empresa está devendo equivale a quase R$ 6 milhões.

O valor que Jameson Nascimento diz dever, no entanto, seria de R$ 4,835 milhões e é referente às viagens de 495 alunos do segundo semestre de 2018 e do primeiro semestre de 2019.

Nascimento também afirma que fez um acordo com as escolas, para pagar a dívida em parcelas entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020. Ele diz que repassou para o Canadá todo o dinheiro que recebeu da Secretaria de Educação de Pernambuco, por ter vencido a licitação.

"Reconheço a dívida. O que ocorreu é que, em 2018, entramos num impasse muito grande, sobre enviar ou não os meninos, uma vez que o contrato fechado com o governo não cobriria todas as despesas. Optamos por levá-los, entramos em contato com os nove distritos no Canadá e informamos que só teríamos condições de pagar 50% do que tínhamos acordado. Fizemos um plano de pagamento escalonado até agosto de 2019 e todos os distritos aceitaram", afirma.

Segundo Nascimento, a 2G participa do Programa Ganhe o Mundo desde 2013 e, desde então, levou mais de 2 mil estudantes também para países como Colômbia, Austrália, Nova Zelândia e Espanha.

Ainda segundo Jameson, a 2G pediu ao governo para reajustar o valor passado na licitação, com base na oscilação cambiária. "Entramos com um pedido junto ao governo do estado para fazer um reequilíbrio do que foi nosso contrato de 2018-2019. O governo não disse que concordava, apenas pediu a documentação e iria estudar", diz.

Por telefone, a assessoria de comunicação da Secretaria de Educação disse que o governo está analisando o pedido de reequilíbrio econômico feito pela 2G.

Documentação

Segundo a associação, alguns estudantes do Ganhe o Mundo chegaram ao país da América do Norte sem documentação. O Ganhe o Mundo oferece vagas para intercâmbio em países de línguas estrangeiras. Os estudantes podem escolher cursos na Argentina, Chile, Espanha, Colômbia, Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália.

Sobre os problemas com a documentação, alegados pela associação canadense, Jameson Nascimento negou e afirmou que um distrito descumpriu o que havia sido acordado com a empresa, ao negar receber 50% do valor devido e não o valor integral e que não receberia os jovens pernambucanos.

"No dia do embarque, uma dessas nove entidades nos telefona e exige o pagamento integral. O proprietário do distrito foi enfático ao dizer que os meninos não entrariam no Canadá e que eles deportariam essas crianças se eu não depositasse. Não cedi à chantagem e disse que levaria a público. Não fiz e tomei a atitude de, os meninos em vôo, procurar outros distritos. Como o Ganhe o Mundo é um programa muito forte, gigantesco, conseguiu realocar os 14 meninos que esse senhor, levianamente, disse que não receberia", afirma.

Licitação

Também na sexta-feira (9), a diretora da Associação de Escolas Públicas do Canadá, Bonnie McKie, informou que estava preocupada com o fato de um dos sócios da 2G Turismo ter constituído uma nova empresa, a You Viagens & Turismo, para se inscrever na licitação para o Ganhe o Mundo, em 2020.

Jameson Nascimento confirmou o fato e disse que está concorrendo à licitação com uma empresa chamada You Turismo, já que a 2G pertenceria também à sua família.

"Somos um grupo familiar. A 2G não é minha oficialmente. Sim, estou me candidatando, licitamente, porque a You, que é, de fato, minha, é uma empresa séria, correta, com toda a visibilidade, com sede própria, física, e não teria nenhum problema em levar os meninos", diz o diretor da empresa.

Sobre a possibilidade de não poder honrar os futuros contratos, que ocorreriam caso ele vencesse a licitação, Jameson Nascimento diz que, no novo processo licitatório, o governo reajustou o valor a ser repassado, e por isso a You Turismo seria capaz de enviar os estudantes.

"Diferente do que ocorreu lá atrás, o governo entendeu e fez uma equiparação a todas as perdas cambiais que houve no passado. O valor do contrato anterior sofreu um acréscimo agora e com isso nós não teríamos o mesmo problema. Sem falar que esses sete distrito que fazem parte do grupo que quer receber os meninos têm um passivo conosco e nós vamos liquidar cada centavo", declara Jameson.

Entenda o caso

Os estudantes interessados em participar do programa Ganhe o Mundo devem estudar na rede estadual e passar por uma seleção. O Canadá recebe, em média, 460 pessoas a cada ano, de acordo com o governo do estado.

Na sexta-feira (9), Bonnie McKie, diretora da Associação de Escolas Públicas do Canadá, disse que a decisão de não receber mais estudantes do Ganhe o Mundo estaria em vigor até que as instituições recebam o dinheiro que está sendo devido pela empresa 2G.

A associação liderada por McKie atua em 130 distritos do país. As divisões de escolas públicas canadenses matriculam mais de 40 mil estudantes internacionais a cada ano.

A 2G Turismo venceu a licitação aberta pelo estado para participar do programa entre 2018-2019, no lote do Canadá. Com esse dinheiro, são custeadas todas as despesas do estudantes, incluindo educação e hospedagem.

Na entrevista, Bonnie Mckie afirmou que, em nenhum momento, contou com suporte do governo de Pernambuco nem da embaixada para resolver as pendências financeiras com a empresa 2G. Ela também disse que ocorreram problemas durante a vigência do contrato com a vencedora da licitação.

As queixas da Associação Escolas Públicas do Canadá começaram em março deste ano. No dia 30 daquele mês, Mckie enviou uma carta ao governador Paulo Câmara (PSB) apontado problemas com a 2G Turismo.

Também na sexta-feira, o secretário de Educação de Pernambuco, Frederico Amâncio, disse que a postura da associação de escolas públicas do Canadá, de que não vai mais aceitar estudantes, não prejudicará o Programa Ganhe o Mundo. Segundo ele, há outras associações desse tipo naquele país, que podem fazer parte da iniciativa. Sobre os problemas entre a 2G e a associação, ele afirmou que se trata de uma questão envolvendo dois entes privados.

Por Mônica Silveira e Pedro Alves, TV Globo e G1

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