segunda-feira, setembro 17, 2012

Blog de Assis Ramalho entrevista José Luiz da Silva, poeta cordelista de Petrolândia

José Luiz da Silva e a literatura de cordel
na Praça dos Três Poderes, centro de Petrolândia.
No último sábado (15), a reportagem do Blog de Assis Ramalho entrevistou José Luiz da Silva, poeta da Literatura de Cordel de Petrolândia. José Luiz, petrolandense, é o baluarte da cultura de cordel em nossa região, único representante da arte cordelista a manter uma produção regular de lançamentos quinzenais em nossa cidade, talvez em nossa região. Suas criações, através da J. L. Silva Produções, estão disponíveis nos dias 15 e 30 de cada mês. 

Naquela manhã, José Luiz lançou o livreto de cordel de número 102: "O amor me consumiu". O vídeo em que ele declama sua nova criação foi postado ontem (16), no Blog de Assis Ramalho. 

Esta entrevista dá início ao projeto Petrolândia Cultural do Blog de Assis Ramalho, destinado à divulgação de nossos talentos, nas mais diversas linguagens artísticas e manifestações culturais. Este espaço está aberto, inicialmente, aos artistas de Petrolândia, que tenham interesse em divulgar seu trabalho. A divulgação é gratuita. Contatos: 87-9638-1618 ou 9628-5351. E-mail assis.ramalholeal@gmail.com. 

Clique em "mais informações" (abaixo) e confira a entrevista do Blog de Assis Ramalho com o petrolandense José Luiz da Silva, guardião e mensageiro da literatura de cordel.



Blog de Assis Ramalho: José Luiz, primeiramente, agradecemos sua participação gostaríamos de saber como você iniciou seu trabalho na literatura de cordel.

José Luiz: Bom dia e meu abraço pra vocês que estão encabeçando este projeto, partindo com toda criatividade. Eu iniciei os meus trabalhos de cordel a partir de 1982/83. Mas na verdade, profissionalmente, eu encaro a partir de 89, quando eu comecei a produzir alguns cordéis. Meu bisavô era cordelista e eu tive aquela curiosidade em seguir essa linha.

Blog de Assis Ramalho: Fale um pouco sobre a origem do cordel.

José Luiz: Alguns historiadores citam a origem do cordel em Portugal, mas existem historiadores que se estendem e dizem que o cordel nasceu na França e foi levado para Portugal. Mas quanto a esses dados não existe algo concreto, o que se sabe é foram os portugueses que trouxeram o cordel para o Brasil. No início, a figura da capa dos cordéis era feita com xilogravura, uma técnica de entalhar o desenho na madeira e depois imprimir no papel, como um carimbo. Na verdade, o cordel era fabricado com tablóides de madeira, em que as letras eram entalhadas, uma por uma, depois passava-se a tinta para imprimir no papel.

Blog de Assis Ramalho: Onde você busca inspiração para fazer suas obras?

José Luiz: A inspiração pra fazer minhas obras vem de tudo que eu encaro no dia a dia, porque tudo é essencial pra que você produza cordel. Na realidade, o cordel é a forma mais antiga e mais gratificante de se fazer poesia. Então, eu me inspiro no dia a dia, nas coisas do dia a dia, no amor, no afeto, na amizade, nos amigos, colhendo tudo de bom que existe para que pratique e faça um trabalho bonito.

Blog de Assis Ramalho: Suas produções são lançadas quinzenalmente. É fácil realizar isso?

José Luiz: Olha, não é fácil, viu? É trabalhoso realmente. Às vezes, eu preciso de uma ajudazinha pra manter essa linha de produção, dia 15 e dia 30. Quando é dia 8 eu já estou aperreado, porque tenho que produzir a nova matéria. E começa aquela agonia, o corre-corre. Se minha esposa não me der ajuda, ou um filho, às vezes, que eu peço uma ajuda pra poder escapar e tentar realizar, eu não faço. Aí, já vem a produção do dia 30. Quando eu verifico, já são 23, 24 do mês e eu digo: “tô ferrado!” Mas eu consigo, estou conseguindo aos poucos, graças a Deus. Eu acho que isso é uma arte muito gratificante e que a gente tem que encarar como algo sério. Eu tento manter a linha de produção quinzenal para que o público se ligue e veja que vale a pena trabalhar a cultura. E o cordel está aí, tentando abrir a mente de todos e que todos possam abraçá-lo.

Blog de Assis Ramalho: Eventualmente você faz apresentações em escolas, em bibliotecas, em feiras culturais. Você se sente realizado e valorizado? A sua arte é valorizada?

José Luiz: Como eu pratico cordel, às vezes dou aulas nas escolas. Quando me chamam, eu vou fazer apresentações e faço palestras a respeito do cordel e ensino a prática do cordel. Eu acho que não existe, ainda, essa valorização do artista em si. Pra se ter uma valorização, eu acho que os órgãos públicos deveriam olhar mais pra nós, pro nosso trabalho, pras nossas qualidades e ver que a gente se arrasta há muito tempo, já tem uma bagagem e lida com isso, apresenta pra o povo, apresenta pras comunidades. Por isso, eu não me sinto realizado ainda. Eu acho que pra eu pudesse me realizar, eu ainda teria que galgar tantos degraus nessa vida e me deixar satisfeito com tanto trabalho. Enfim, quando eu puder dizer “graças a Deus, estou alcançado o meu objetivo”, mas ainda não consegui.

Blog de Assis Ramalho: E quanto ao apoio da família e apoio de parceiros e patrocinadores?

José Luiz: Apoio da família eu tenho. Eles me apóiam muito bem, graças a Deus, é como eu consigo realizar (meu trabalho), muitas vezes. Agora, quanto a parceiros e patrocinadores, há mais ou menos um ano quem vem me dando apoio seriamente é o comércio e papelaria KRD, de seo Gilberto Souza e filhas. Esse dá uma força total, apóia como pode. Às vezes, chego lá, faço um apelo e ele, com a carinha bem triste, que às vezes a situação não está boa, mas ele diz: “vamos lá, vamos continuar, vamos ajudar”. E outro parceiro que algumas vezes me deu alguma ajuda é a empresa Construtora Rueta. Tem também a Veneza Informática, que muitas vezes me ajudou. Vou citar também a Eletroleo. Existiram alguns momentos em que ela ajudou. Mas depois deixaram de ajudar. Essa ajuda pra cultura, ela é muito falha. O povo não tem esse encanto pela coisa, enquanto que a gente continua encantado, e permita Deus que a gente consiga mudar a cabeça das pessoas e enfim lutar pela cultura, pra que ela seja justa e digna pra todos.

Blog de Assis Ramalho: Você já pensou em desistir de fazer cordel?

José Luiz: Já existiu algum momento em que me deu vontade de parar de praticar o cordel, essa cultura tão bela. Eu fazia entregas aqui em um supermercado aos funcionários. Não vou citar nomes porque isso é meio chato. Mas aí ele avisou aos funcionários que o comércio dele não era recinto pra que eu fizesse essa prática. A partir desse dia, eu me afastei muito, fiquei meio triste. Fui refletir, pra ver se valia a pena. Mas minha mente é aberta e eu continuo abraçando essas pessoas, esperando que um dia elas mudem o modo de pensar e que eu não possa ficar tentado novamente a pensar em desistir. Mas eu continuo, graças a Deus. É tanto que eu já estou no centésimo segundo suplemento. Hoje são 15/09/12 e eu continuo, normalmente, lançando nas datas previstas.

Blog de Assis Ramalho: José Luiz, além do cordel, você trabalha outras formas de literatura?

José Luiz: Trabalho, porque literatura é tudo aquilo que você cria, escreve, você expõe pra que ela seja observada e utilizada por alguém. Além dos trabalhos que eu faço em cordel, escrevo poesias, fragmentos, paródias. Já trabalhei muito nisso tudo e ter essa experiência ampla facilita o meu trabalho no cordel.

Blog de Assis Ramalho: Você já pensou em criar um blog, por exemplo, para mostrar sua arte?

José Luiz: Já. Eu até que tentei, mas não deu certo, o trabalho foi perdido e eu pensei em desistir da idéia. Mas eu estava pensado em procurar a minha colega poetisa Lúcia Xavier e Assis Ramalho, que já têm seu blog, para me dar um amparo nessa área, pra que eu possa dar o pontapé inicial nesse sentido, com o meu trabalho e a prática do cordel.

Blog de Assis Ramalho: É uma boa sugestão. Criar blogs culturais ligados ao Blog de Assis Ramalho. Gostei da idéia. Vamos projetar. Zé, fale agora sobre seu novo trabalho.

José Luiz:  Meu novo trabalho, lançado hoje (15/09/12), traz como título “o amor me consumiu”, o 102º livro de cordel produzido por mim.

No vídeo, José Luiz da Silva declama o cordel
"O Amor me consumiu", de sua autoria

Blog de Assis Ramalho: Continuando nossa entrevista, qual é sua filosofia de vida?

José Luiz: Existe uma frase, no rótulo que prende a embalagem dos meus cordéis, que diz: “o poder, como as nuvens, é passageiro.” Então é isso: eu tento simplificar as coisas, pra que as pessoas olhem pra mim e digam “é um trabalho simples, ele é simples”. Isso é uma cultura e nós temos que vivê-la. Quando você complica as coisas, a vida vai se tornar cada dia mais difícil e você não vai a lugar nenhum. Nós estamos aqui pra viver a vida, na base da simplicidade.

Blog de Assis Ramalho: Quando uma pessoa tem um grande talento artístico, é comum a gente pensar que ela nasceu com aquele dom e não tem como outra pessoa fazer o que ela faz, tão bem quanto ela. Você acredita que a arte pode ser aprendida?

José Luiz: A arte é uma coisa que todo ser humano que tiver a mente aberta, a cabeça boa, deveria tentar aprender. Qualquer arte você pode aprender nesta vida. Menos se você não quiser, porque aí você não vai a lugar nenhum. A arte ficou para ser aprendida, praticada e repassada para outras pessoas que têm interesse em aprendê-la.

Blog de Assis Ramalho: José Luiz, você tem algum seguidor em Petrolândia, alguém pronto para ser o seu sucessor na arte de literatura de cordel?

José Luiz: No momento, eu acho que não. Apesar de eu ter aplicado tantas aulas, palestras. Até em faculdades eu me apresentei e apliquei tudo isso. Mas o que existe é o pouco interesse de se aplicar e aprender a literatura, aplicando ela devidamente, porque a literatura de cordel é uma poesia e tem os padrões. É preciso você analisar, e ver qual o padrão que você mais se assemelha, e tomar gosto pela coisa. Tem alguns que já produzem cordel. Tem alunos a quem dei aulas que já produziram 2, 3, 4 livros. Mas não descobri, ainda, nenhuma riqueza em nossa terra que tenha conhecimento do cordel e queira galgar esse caminho. No momento, sou só eu, até agora. Eu dei uma entrevista, certa vez, a uma emissora do Paraná que esteve aqui em Petrolândia. Na oportunidade, eles fizeram a entrevista comigo e, segundo eles e segundo a universidade, o único poeta de cordel na ativa, que mais tinha trabalhos produzidos, desde a nascente do rio São Francisco até a foz, que é a desembocadura do rio, sou eu. Não tinha outro poeta que trabalhasse como eu, igual a mim. Dois meses depois, veio uma equipe de TV e também foi feita uma entrevista comigo para faculdade da cidade deles. E eles disseram a mesma coisa, porque fizeram levantamento, fizeram pesquisa. Então é importante que eu estou fazendo essas aulas, essas palestras. Mas não tem ninguém ainda que tenha interesse (em levar adiante a cultura do cordel na cidade).

Blog de Assis Ramalho: Para encerrar nossa entrevista, você acha que existe preconceito em relação à literatura de cordel?

José Luiz: Acho. Sou bem claro, bem taxativo: acho. Muita gente ainda desvaloriza, acha que não é uma coisa em que deva se ligar. Mas a gente tem que se ligar, porque é a nossa cultura, é de onde viemos. Tudo na vida tem que ter uma base. Se você não tem uma base, você não vai a lugar nenhum. Bem assim é a nossa cultura. A base é o nosso cordel, de onde a gente veio. A gente tem que esquecer o cordel? Não! A gente passou por ele, com o surgimento de novas literaturas, mas ele continua nos seguindo, continua nos ensinando, continua dando lições de vida, assim como a poesia. Já que o cordel é uma poesia, ele continua, está aí no auge. Então, vamos abraçar o cordel, vamos fazer a prática do cordel, vamos embelezar os nossos dias, fazer momentos felizes junto com o cordel e com tudo de bom que existe.

Blog de Assis Ramalho: José Luiz, o Blog de Assis Ramalho agradece sua entrevista. Fique à vontade para acrescentar alguma coisa que eu não lhe perguntei.

José Luiz: Além do cordel, faço trabalhos também em fotografia (slides). Por sinal, estou publicando slides. Se Deus quiser, vou concretizar esse sonho. Está marcado para dezembro e terá como título “terra de guerreiros”, “terra de bravos”. Estou tentando colocar um título bem atraente, para que o povo sinta na nossa cultura o que foi a velha cidade de Petrolândia, quem foi o seu povo, o quanto eles tinham valor e continuam tendo dentro dos nossos corações. Então, eu tenho um belíssimo trabalho de slides. Tenho mais três para publicar. Tem um pessoal da escola que me procura e eu não tive tempo de terminar esses trabalhos. Mas tenho um slide já pronto. É algo em que eu trabalho a mais e, com fé em Deus, a gente chega lá. Se Deus quiser. Obrigado, amiga.

Blog de Assis Ramalho: O Blog de Assis Ramalho é quem agradece e lhe deseja muito sucesso e saúde, para você continuar lançando duas obras por mês.

Para ver o álbum com fotos tiradas durante a entrevista, clique no atalho abaixo:
https://plus.google.com/u/0/photos/114906541770310634201/albums/5789119711892000865

Da redação do Blog de Assis Ramalho
Reportagem e fotos: Lúcia Xavier

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