quarta-feira, dezembro 18, 2013

Especialista diz que Transposição do São Francisco não termina porque é mau planejada e vai gerar disputas pelo uso da água

“Dentro da bacia do São Francisco não existe viabilidade dos perímetros, o que impossibilita a leva das suas águas. Daqui a quatro ou cinco anos, quando as obras estiveram funcionando, os conflitos internos (pelo acesso à agua) começarão.”

“A transposição do São Francisco já é uma instituição”, disse o engenheiro civil, hidrólogo e professor da Universidade Federal de Rio Grande do Norte – UFRN, Joao Abner Guimaraes Junior, ao tentar definir a “interminável” obra de transposição do rio São Francisco, programa do governo federal que teve início em 2005 para beneficiar os estados do Rio Grande do Norte, Paraiba, Pernambuco e Ceará. Ele apresentou, a convite do CBHSF e durante programação do primeiro dia da XXIV Plenária Ordinária, pontos estudados que comprovam a ineficiência das obras.

Segundo Abner, as intervenções nunca irão terminar por conta do mau planejamento que vem marcando o projeto desde o início dos trabalhos. “Levar água para duas das maiores barragens do Nordeste é desnecessário, uma vez que nesses locais já se encontra água em abundância”, revelou ele, referindo-se ao estado do Ceará, um dos beneficiados do projeto.

O professor salientou ainda que, diferentemente do que se evidencia na grande mídia, as obras continuam em andamento e não estão abandonadas, devendo gerar em breve conflitos pelo uso da água. “Dentro da bacia do São Francisco não existe viabilidade dos perímetros, o que impossibilita a leva das suas águas. Daqui a quatro ou cinco anos, quando as obras estiveram funcionando, os conflitos internos começarão”, pontuou ele, que expôs ao público os gastos das obras inicialmente orçados em R$5,5 bilhões, e que, hoje, ultrapassam o valor de R$8,5 bilhões.

Por fim, o estudioso destacou a importância do CBHSF dentro do projeto. “O Comitê do São Francisco tem que se manifestar e saber o que ocorre. As obras devem possuir um norte e o CBHSF, principalmente com a revisão do plano bacia, é fonte essencial para o melhoramento disso“, concluiu João Abner.

Questionamentos

Após a apresentação do técnico, alguns questionamentos foram levantados pelos membros do CBHSF. “As informações não procedem. Não são oficiais. Suposições foram levantadas de forma equivocada, e gostaria de expor, quando possível, dados oficiais do governo”, disse José Luiz de Souza, representante do Ministério da Integração Nacional, órgão responsável pela execução das obras.

O professor da Universidade Federal da Bahia – UFBA, Marcelo Latuf, parabenizou a apresentação do especialista e revelou o seu descontentamento com relação ao tratamento que vem sendo dado às organizações técnicas, de ensino e pesquisa dentro do comitê. “Essa não é a primeira vez que as universidades são desmerecidas aqui no plenário. Gostaria apenas que fosse respeitada a opinião e o estudo de pessoas que lutam em prol dessa bacia”, defendeu ele.

O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, fez questão de elogiar a apresentação do hidrólogo. “Joao Abner é um admirável estudioso que, há dez, teve a coragem de questionar a execução e os desperdícios dessas obras faraônicas”, disse ele.

ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF

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