domingo, abril 11, 2021

Petrolândia/ Ibimirim: A RETA DE IBIMIRIM, por Aderson Machado

Trecho da Reta de Ibimirim (foto do arquivo pessoal de Aderson Machado)

Encravada no Sertão pernambucano, a Reta de Ibimirim, como é conhecida, é a rodovia BR-110/316-PE, que liga Ibimirim, cidade que fica na microrregião do Sertão do Moxotó, à cidade de Petrolândia, esta pertencente à microrregião do Sertão de Itaparica.

Trata-se de uma rodovia terrosa, toda em tangente (reta), construída pelo IFOCS – Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas -, na década de 40, e que depois foi repassada para o então DNER, hoje DNIT, daí a denominação de BR.

Antes da construção da barragem de Itaparica, a Reta de Ibimirim tinha uma extensão de 94 quilômetros; depois, essa extensão diminuiu para 70 quilômetros, isso em função da construção da nova cidade de Petrolândia, que fora recuada.

A famosa Reta de Ibimirim tem, para mim, um valor nostálgico, pois, em 1979, recentemente ingressado no então DNER, fui designado para coordenar uma equipe mecanizada que fazia a conservação dessa rodovia. Essa foi a minha primeira experiência como engenheiro rodoviário.

A equipe que comandava tinha aproximadamente 30 funcionários, e todo tipo de equipamento rodoviário.

É importante esclarecer que a equipe em apreço era formada por funcionários e equipamentos do próprio DNER. Contudo, com o passar dos anos, os funcionários foram se aposentando, os equipamentos se deteriorando, e como não houve a devida reposição de pessoal nem equipamento, o resultado final não poderia ser outro senão a extinção da nossa briosa equipe. Uma pena.

Hoje, passados mais 40 anos, os ex-funcionários de campo, por mim comandados, morreram quase todos. Pelo que me consta, não há mais do que três remanescentes. É de se lamentar, mas é uma realidade da vida, porquanto o tempo é implacável.

Com o fim da nossa turma de campo, a rodovia em questão ficou à deriva. E se não fora a intervenção de algumas prefeituras da região, ela teria se acabado de uma vez por todas.

Em 2010, o DNIT contratou uma empresa que finalmente retomou os serviços de conservação da Reta de Ibimirim. Destarte, ela continua trafegável, para a felicidade de todos que a utilizam. Afinal de contas, essa rodovia é de grande importância para o escoamento da produção agrícola de várias cidades do Sertão pernambucano bem como encurta deveras o caminho para quem se desloca à região Sul do Brasil.

É bom frisar que, há cerca de seis anos, o DNIT celebrou um convênio com o Exército Brasileiro, que está procedendo à conservação dessa importante rodovia federal, deixando-a em boas condições de trafegabilidade.

Um hotel hitchcockiano



Ruínas do Hotel do Peba (foto do arquivo pessoal de Aderson Machado)

Não poderia falar na Reta de Ibimirim sem mencionar o Hotel do Peba. Este ficava a 33 quilômetros de Ibimirim, mais precisamente no entroncamento da Reta (BR-110) com a BR-316, que passa pela cidade de Inajá/PE, e daí segue para o Estado de Alagoas.

É bom esclarecer que a Reta em apreço se divide em duas Brs. De Ibimirim até o Hotel do Peba ela é apenas a BR-110; daí até Petrolândia, ela coincide com a BR-316.

Nas décadas de 40 a 70, e até a primeira metade da década de 80, o Hotel do Peba era muito requisitado, posto que a Reta tinha um grande movimento de veículos e caminhões.

A propósito, conta-se que alguns hóspedes (notadamente motoristas de caminhões) foram misteriosamente assassinados enquanto dormiam no Hotel, a mando de seu proprietário. Porém os corpos eram devidamente ocultados e nunca encontrados. A suposta trama criminosa tem, entre suas versões, um desfecho cinematográfico.

Contam que um determinado caminhoneiro, sabedor da fatídica história, um dia foi lá e se passou por hóspede. Quando foi “dormir”, colocou na sua cama um boneco de pano à semelhança de seu corpo. Não deu outra: lá para as tantas da madrugada, eis que o assassino entra sorrateiramente no quarto do “hóspede” com um punhal na mão, e, ato contínuo, desfere uma série de punhaladas no boneco, pensando ser o motorista. Este, por sua vez, estrategicamente escondido atrás de uma porta, atira no assassino, ferindo-o mortalmente.

Mistério desfeito, a partir daí o Hotel do Peba nunca mais foi o mesmo. No dia 25 de março de 2010, estive de volta à Reta, depois de mais de vinte anos que lá estivera. E passei pelo Hotel do Peba, encontrando-o em completa ruína.

Com dois dias depois dessa minha visita, tomei conhecimento de que o proprietário do Hotel do Peba, que fora assassinado, era pai de um funcionário que fazia parte da equipe de campo por mim chefiada. Entretanto, não sei informar se esse ex-funcionário ainda é vivo.

Por Aderson Machado
Aderson Machado é Engenheiro Civil e Bacharel em Letras

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