segunda-feira, agosto 19, 2019

Petrolândia e sua relação de amor e ódio pelo Patrimônio Histórico da cidade


Obra do artista plástico Marcel em Petrolândia (Foto: Lúcia Xavier/Arquivo BlogAR)


No último sábado, 17 de agosto, foi comemorado o Dia Nacional do Patrimônio Histórico. A data homenageia o historiador e jornalista mineiro Rodrigo Melo Franco de Andrade e é celebrada desde 1998, ano do centenário de nascimento de Andrade, primeiro presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e grande defensor do Patrimônio Cultural Brasileiro. Em Petrolândia, no Sertão de Pernambuco, a efeméride se presta a reflexões sobre a relação de amor e ódio dos moradores com o Patrimônio Histórico da cidade.

Estação Ferroviária, Cais, Usina Hidrelétrica de Itaparica (a primeira), a antiga Igreja Matriz de São Francisco de Assis, submersos na represa da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga, entre Pernambuco e Bahia, são alguns dos locais históricos pranteados pelos saudosos amantes da história de Petrolândia.

O Patrimônio Histórico mais amado da cidade, ainda existente (ou resistente), são as ruínas da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, com sua imponente silhueta contornada pelas águas do rio São Francisco, no Lago de Itaparica. Porém, amado não significa necessariamente respeitado, apesar do ditado "quem ama, cuida". Ações dos visitantes do famoso atrativo turístico da região, como escalar e usar as ruínas como trampolim, aceleram a degradação das ruínas já precarizadas pelo tempo e pelas intempéries. Em seguida, também relativamente conhecido e visitado, o prédio da Charqueada, visível quando o lago perde volume. 

A Furna do Padre e o Letreiro do Sobrado são dois famosos sítios arqueológicos, que já foi rico nesse quesito. Vários dos pontos de interesse para a arqueologia foram encobertos pela água e a lama. Perdidos estão. No Letreiro do Sobrado, supostamente tombado pelo Iphan há anos, a única coisa a tombar foi a placa - do tamanho de um outdoor - indicativa de que o local pertenceria ao Patrimônio Histórico Nacional, sucessivamente erguida e derrubada. 

Todo esse patrimônio foi herdado pela "Nova Petrolândia" da "Velha Petrolândia", como são conhecidas as sedes atual e antiga, respectivamente, a partir da transferência da sede do município para outro local, em 1988, com o advento do Lago de Itaparica. E a nova cidade, não tem patrimônio histórico? Pelo comportamento de algumas pessoas, parece que não, mas a resposta é sim. 

O Patrimônio Histórico de Petrolândia foi enriquecido, na "nova cidade", com a Orla Fluvial (calçadão e quiosques), Praça dos Três Poderes (praça, quiosques, prédios dos Três Poderes), Ginásio de Esportes, Estádio Municipal, Parque de Vaquejada (hoje na triste condição de abrigo municipal de animais também abandonados), Praça da Matriz e Pátio de Eventos, Mercado Municipal, Mirante da Serrota. O Patrimônio Histórico inclui as obras de arte que adornam esses locais. 

Patrimônio Cultural de Petrolândia, o calçadão da Orla Fluvial, construído com pedras portuguesas, é um dos mais antigos locais de descarrego do ódio pela cidade, com as pedras pretas e brancas arrancadas e atiradas longe. Recentemente, a Prefeitura anunciou a recuperação das áreas depredadas por vândalos e desocupados. A Praça da Matriz e o Pátio de Eventos, lado a lado, também são contornadas por pedras portuguesas que formam belíssimos desenhos, com temas religiosos em uma e musicais na outra. Toda a calçada de frente para a Igreja Matriz já mostra sinais de degradação, com a falta de pedras. O que mais chama a atenção, entretanto, são as duas árvores, plantadas em extremos da mesma calçada. 

Completamente inadequadas para o local, onde a preocupação principal deveria ser com a preservação do Patrimônio Histórico e Cultural, as árvores já começaram a levantar o calçamento e a destruir os desenhos da calçada onde foram plantadas. Não será muito agradável, daqui a alguns anos - ou talvez meses - ver a belíssima calçada da Praça da Matriz em condições idênticas aos canteiros da Avenida Prefeito José Gomes de Avelar (na altura do Comercial JS), mas, infelizmente, é o que está em andamento, e será lastimável, no futuro, ilustrar uma nova matéria sobre o Dia Nacional do Patrimônio Histórico - ou Cultural, como queiram - com outra foto de arquivo, com mais algum exemplar do Patrimônio Histórico Cultural do município que deixou de existir na "Nova Petrolândia". "Quem ama, cuida". 

Lúcia Xavier/Blog de Assis Ramalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário