quarta-feira, abril 03, 2024

Hino afetivo de Petrolândia, "Recordações" de Ruy Sá é declarada Patrimônio Cultural Imaterial de Petrolândia; Conheça curiosidades sobre o músico e a música

Pessoa iluminada, personalidade marcante, voz inesquecível, música (Reprodução)
Juracy Leal, Ruy Sá, Cilon Leal (Facebook Petrolândia Ontem, Hoje e Sempre) 
Edisio Bezerra, Ruy Sá e Dedé Sobreira (Facebook Petrolândia Ontem, Hoje e Sempre) 
Ruy Sá, todo estiloso, abraçado por Vado de Zelino (Facebook Petrolândia Ontem, Hoje e Sempre) 
Capa de um dos discos de Ruy Sá (Facebook Petrolândia Ontem, Hoje e Sempre) 

Em sessão ordinária da Câmara Municipal de Petrolândia, sertão de Pernambuco, no dia 25 de março, foi realizada a segunda votação do Projeto de Lei nº 1.404/2024, de 29/01/2024, de autoria do vereador Erinaldo Alencar Fernandes, conhecido como Dedé de França, que declara a canção "Recordações", composta por Ruy Sá, como Patrimônio Cultural Imaterial do município. A reunião foi marcada por homenagem póstuma ao cantor e compositor Ruy Sá, falecido em São Paulo, no dia 05 de junho de 2014, aos 49 anos. Todos os vereadores estiveram presentes na sessão. 

A sessão foi aberta com execução do Hino de Petrolândia pela Banda Adolfo Alexandre de Melo. Em seguida, o presidente da mesa diretora, Dedé de França, convidou a compor a mesa de honra da sessão parentes e amigos de Ruy Sá, especialmente convidados para prestigiar a homenagem póstuma. A Secretária Municipal de Cultura, Esporte e Lazer também foi convidada. 

Foram apresentados os expedientes da pauta da sessão, encerrada com a votação do PL 1404/2024, lido na íntegra (Confira o texto completo no final desta postagem). Após leitura do PL, foi exibido um vídeo gravado pela Chesf com imagens e depoimentos de moradores da antiga Petrolândia durante o processo de transferência da sede do município, em 1988, com a música "Recordações" na voz de Ruy Sá. 

Após a exibição do vídeo, a vice-presidente da mesa diretora, Adelina Martins, leu a biografia do homenageado JOSÉ RUI CRUZ SÁ, nascido em 25 de outubro de 1964, na Fazenda Caruru, no município de Glória, na Bahia. Perdeu os pais bastante cedo e ainda era criança foi trazido com a família para morar em Petrolândia velha. Começou a estudar na Escola Delmiro Gouveia e concluiu estudos na Escola de Jatobá. 

Na sequência, a Banda Alexandre de Melo executou a música "Recordações" e a família foi convidada para receber a homenagem da Casa Legislativa. Residentes em São Paulo, os filhos de Ruy Sá, Roni e Biana Politto, enviaram mensagem em vídeo para a cerimônia. 

"Em primeiro lugar, a gente gostaria muito de agradecer a homenagem que está sendo feita ao nosso pai, e principalmente à canção que a gente sabe que retrata bastante a história que viveu a cidade. Nosso pai amava muito os seus familiares, os seus amigos, mas também amava muito a cidade e a música. Então, eu acho que foi isso que permitiu com que ele fizesse essa canção que retratasse o momento que vivia o povo de Petrolândia. Então, acho que hoje é muito feliz pra gente ver o reconhecimento disso, essa homenagem. Então, a gente queria começar fazendo esse agradecimento", disse Biana. 

"Falando um pouco mais sobre o amor que ele tinha pela música, especificamente, esse amor pela música fez com que ele viesse pra São Paulo, pra gravar um disco, mas, a gente sabe, para o artista independente as coisas não são tão fáceis. Apesar de muita luta, ele conseguiu gravar esse disco, que ele era muito orgulhoso desse disco. E esse amor à música dele nos passou, a gente também é apaixonado por música. Eu lembro da gente passar tardes com ele, ele cantando, a gente cantando com ele, ele contando histórias sobre Petrolândia, especificamente, sobre as pessoas, que algumas dessas pessoas, inclusive tivemos o prazer de conhecer. Nós estivemos na cidade há um tempo atrás [os irmãos visitaram Petrolândia em 2018. Veja abaixo vídeo de entrevista deles a Assis Ramalho]. Conhecemos alguns lugares que ele tanto falava, conhecemos algumas pessoas, como Chico Neguinho, Miguel, uns amigos dele que ele tinha. Então, esse reconhecimento, eu tenho certeza que, se ele estivesse vivo, ele estaria muito feliz, porque é a junção de duas coisas que ele amava muito, que é a música que, com certeza, ele amava muito e ele amava muito a cidade, amava muito as pessoas. Então, acho que a gente só tem a agradecer. Muito obrigado a todos que estão fazendo parte desse projeto e que ele (Ruy) estaria completamente realizado com essa homenagem. E esperamos em breve, o mais breve possível, a gente voltar à cidade e conhecer as pessoas que faltou conhecermos e, enfim, muito obrigado a todos", declarou Roni. 

Entrevista de Biana e Roni em 2018 a Assis Ramalho na Web Rádio Petrolândia
Foto: Assis Ramalho/Arquivo BlogAR

Em seguida, amigos de Ruy Sá foram convidados à tribuna para dar depoimentos sobre Rui Sá e sua música. Este blogueiro Assis Ramalho, Vicente Silva, Miguelzinho e Chico Neguinho. A secretária municipal de Cultura, Lazer e Esportes, Maria Helena, também fez um pronunciamento para enaltecer o momento e agradeceu em nome da Banda Alexandre Adolfo de Melo. O vereador Said Souza e a vereadora Adelina Martins também usou a palavra. A cerimônia foi encerrada com breve discurso do vereador Dedé de França, autor do projeto que transformou "Recordações" em patrimônio cultural imaterial de Petrolândia. 

CURIOSIDADES SOBRE O MÚSICO: Amigos de Ruy Sá compartilham recordações

"Quando as águas começarem a alcançar a minha querida Petrolândia eu vou me embora, mesmo que seja com o coração partido, porque para mim nunca vai existir a velha e a nova Petrolândia. Petrolândia será única e eterna". Já contei neste Blog que essa frase de Ruy ficou gravada na minha memória. Ele falou em uma das muitas farras que participamos na velha cidade, animadas com cerveja e violão, que fazem parte das recordações das noites inesquecíveis na velha Petrolândia. Ruy bebia quase nada, mas tocava muito e chamava os amigos de "brother". Naquela noitada de música, lá pelas tantas da madrugada, essa frase dele causou forte comoção entre nós, levando todos às lágrimas, inclusive ele.

A promessa foi cumprida. Ruy Sá não suportou ver as águas do Velho Chico cobrirem a sua querida cidade e foi embora para São Paulo. Lá, morou por mais de vinte anos, mas, chegou sim a vir algumas vezes à Nova Petrolândia, visitar amigos e familiares, pessoas que guardam dele as mais belas recordações. Confira abaixo algumas recordações de amigos que conviveram com Ruy Sá. 

ANCILON LEAL

Irmão deste blogueiro e um dos companheiros de Ruy Sá, Cilon recorda de vários momentos compartilhados com o cantor, sendo alguns na "velha" e outras na "nova" Petrolândia. Cilon afirma recordar pelo menos duas visitas do cantor à nova cidade. Segundo ele, provavelmente na primeira vez em que Ruy retornou a Petrolândia, após o enchimento da barragem, eles visitaram um antigo bar, que hoje já não existe e era localizado bem no centro da cidade, na início da Avenida Prefeito José Gomes de Avelar, onde hoje funciona uma loja de roupas, do lado direito da Farmamed. Nesse episódio, Cilon revela, sem dar nome, que ele ainda perguntou por uma antiga e longa paixão não correspondida que Ruy nutriu por uma moça de Petrolândia. 

Cilon ainda recorda um show realizado por Ruy Sá no Grêmio Lítero, em outra visita à cidade. Ele recorda que o palco foi tomado pelo público que desejava interagir com Ruy durante a apresentação, com certo desconforto para o cantor. Cilon ainda cita o fato de, em uma das passagens por Petrolândia, Ruy ter se hospedado em Paulo Afonso (BA) e ter vindo à cidade somente para fazer um show, o que teria desagradado os petrolandenses. 

Lembranças da velha cidade também são inúmeras, entre elas, a noite em que embarcaram numa F4000 amarela, conduzida por Ricardo (hoje pastor), com Josivaldo (Lobinho de Seu Lon), Ruy com seu violão e Cilon. Rumaram para o povoado Mundo Novo, na zona rural, onde a energia elétrica tinha chegado há pouco tempo. A roda de amigos sentou-se à luz do poste, em frente à casa de Antonio Leal (nosso saudoso pai). Ali, Ruy tocou até o Sol nascer. No raiar do dia, hora de voltar para a cidade, momento em que nosso avó Antônio Nunes aproximou-se e sugeriu preparar uma refeição, para eles "não voltarem com fome". Os rapazes, gentilmente, recusaram e retornaram ao centro de Petrolândia.

Ainda foi resgatada por Cilon a memória de uma apresentação da cantora Amelinha, durante um comício no centro de Petrolândia. O palco/palanque era a carroceria de um caminhão estacionado no centro da cidade, no trecho entre o bar O Redondo e o clube Piçarrinha. Cilon recorda que, para atravessar a avenida, ele e Ruy passaram por baixo do caminhão-palanque. O ano, salvo engano, era 1986 e a música "Foi Deus quem fez você" era um grande sucesso. 

Cilon vai mais fundo no baú de recordações. A música "Sonhos" de Peninha fez também muito sucesso e, no clube Piçarrinha, os jovens se reuniam e, por insistência dos amigos, Ruy era obrigado a tocar e cantar essa mesma canção várias vezes. 

Outra memória de Cilon é uma festa que aconteceu na casa em que Ruy morava com Juracy Leal, uma república de rapazes, localizada próxima ao Bar O Redondo, no centro de Petrolândia. Cilon tem dúvida se foi uma festa de aniversário ou a festa de despedida de Ruy, antes dele partir para São Paulo. O certo é que se tratou de uma festa surpresa. Para tirar o homenageado de casa e permitir a entrada dos amigos para o "assustado". Juracy levou Ruy para um passeio de carro no caminho da AABB, onde supostamente aconteceria um jogo. No trajeto, o carro supostamente teve um pneu furado e os amigos retornaram. Quando entraram na casa, às escuras para a revelação da grande surpresa, Ruy se viu entre  muitos amigos, os quais Cilon não recorda todos, mas, entre eles: Fátima de Pariconha, Dedé Sobreira e outros. Segundo Cilon, houve outra festa de despedida no Grêmio Lítero. 

Cilon também comenta o ser humano diferenciado que foi Ruy Sá. Educado, com coração de ouro, sensível e gentil. Como exemplo, lembrou o fato de Ruy ter deixado de frequentar uma rua de Petrolândia, após indignar-se com o procedimento do dono de um ponto comercial que "aperriava" um portador de deficiência mental - "Bilu" - que perambulava pela cidade. 

EDÍSIO BEZERRA

Por mensagem de áudio, o amigo Edísio Bezerra apontou grandes qualidades de Ruy, que era um bom conselheiro e amigo-irmão. "Eita, meus amigos! Falar de nosso amigo Ruy Sá, saudoso Ruy Sá, grande amigo, grande conselheiro. Era demais Ruy. Ruy eu lembro que Carnaval a gente, todo mundo novo, todo mundo namorando, e Ruy não era muito de Carnaval não. Ele ficava muito em casa, ali na casa de Juracy, e a gente dormia lá, todo mundo. E, quando era de manhãzinha, lembro como hoje, ele botava (para tocar) aquela música, não sei se era de Maria Bethânia, "tô com saudade de tu, meu desejo, o seu amor é gostoso demais" (Edísio canta), todo dia de manhãzinha no Carnaval pra acordar a gente, e sempre preocupado com a gente. "Como é que foi a festa?", "como é que foi a noite?". Era um cara que sempre dava conselhos à gente, apesar de ser da mesma idade nossa, mas Ruy tinha uma cabeça melhor, Ruy era um cara que estava sempre preocupado com a gente. Isso é uma coisa que marcou a nossa juventude e é um cara que faz muita falta pra gente. Hoje não tem mais amigos como antigamente, hoje as amizades é de interesse, e naquele tempo não, naquele tempo era irmandade mesmo. E o nosso Ruy era tudo isso. Saudades eternas do nosso amigo-irmão Ruy Sá. Um abraço a todos". 

EDSON "MADERA" BEZERRA DA SILVA

Irmão de Edísio, Edson "Madeira" também comentou alguns momentos vividos com o amigo Ruy Sá. Em mensagem de áudio, Madeira conta sobre seu apoio ao processo criativo de músicas de Ruy. "Vou relatar aqui uma simples historinha de nosso querido amigo Ruy Sá. Eu tive o privilégio, na Petrolândia antiga, em que a gente tinha uma república (eu, Juracy e Ruy) e, por coincidência, eu morava no mesmo quarto de Ruy. E naquela época a gente bebia muito, principalmente, eu. E Rui, logo quando ele estava compondo essas letras do LP dele, na época era LP, e eu chegava de madrugada, já daquele jeito, e, como a gente morava no mesmo quarto, ele estava lá, concentrado, pra fazer as composições dele e tal, essas coisas. E naquela época quando eu bebia, eu sempre gritava, essas coisas, e ele, quando eu deitava lá, era até no chão, um colchão, ele dizia "Ô, tricolor!", que ele só chamava os amigos mais próximos de tricolor. "Ô, eu tô aqui, concentrado aqui", tal e tal. Aí, pronto, eu dizia: "Não, tá bom, Ruy, tá bom, Ruy. Vou ficar calado!". Aí pronto. Daqui a pouco, eu ficava lá batendo papo com ele, daqui a pouco ele dizia que estava no violão pegando os tons. Eu já estava quase cochilando, aí ele dizia "Tricolor! Tricolor! Madeira, veja aí se ficou bom esse verso aqui. Eu nem olhava, nem entendia nada, mas dizia "Tá bom todo, Ruy! Tá bom todo, tricolor!" (Risos). Então, é uma simples recordação do nosso querido e inesquecível Ruy Sá. E se a gente for contar todos os momentos bons que nós passamos juntos, são inúmeros e só me deixou saudades pra gente e serão eternas as saudades". 

CÉSAR ARAÚJO (CÉSAR DA FEIJOADA)

César foi um dos amigos mais emotivos na solenidade de homenagem a Ruy Sá na Câmara de Vereadores. Após o evento, ele realmente não conteve as lágrimas, que segurou durante muito anos. César não usou a palavra durante a sessão da Casa Legislativa, porém, a nosso pedido, relembrou um momento marcante que viveu com o amigo Ruy Sá, em mensagem de texto. 

"Rui sempre foi um cara muito especial. Além de cantor, ele também foi jogador e possuía um time chamado Botafogo. Na minha lembrança, participavam desse time João Cambão, João de Terto, Miguelzinho, Binho de Waldemar e outros conterrâneos que, por hora, eu não lembro. E fomos jogar lá no estádio de Itaparica contra um time de lá, e o jogo foi 1x0 para o Botafogo e o gol foi dele. Na hora da comemoração, foram todos abraça-lo e cairam por cima de Rui, e o machucaram. A sorte é que já estava no final da partida e o Botafogo venceu. Mas, o pequeno grande Rui saiu machucado!

COMENTÁRIOS NA MATÉRIA SOBRE O FALECIMENTO DE RUY SÁ, DE PESSOAS QUE O CONHECERAM EM SÃO PAULO. 

"Olá! Aqui é o Carlos. O Ruy foi um grande amigo meu, ele era amigo verdadeiro fui visita-lo ainda no hospital, agora no fim da vida dele. Ele morava na Vila Madalena, aqui em São Paulo. Aprendi a gostar da música boa mais por ele. Cantores tipo Belchior, Zé Ramalho, Faganer, Zé Geraldo, que era vizinho da gente lá da Vila Madalena, e que Deus agora coloque ele em um bom lugar!" (13/agosto/2014)

"Nossa! Hoje lembrei do Rui Sá, e fui pesquisar na internet sobre ele e, muito triste, vi essa matéria... Conheci Rui Sá quando ele era garçom em um bar na Avenida Paulista. (Ele) me presenteou com um LP. Muito atencioso, simples e simpático. Nos chamava de Bacaninha. Hoje o Bacaninha faz alegria no Céu; Esteja em paz, bacaninha! Forte abraço em sua família! Givaldo" (17/maio/2021)

"Conheci Rui Sá em um bar na Avenida Paulista, onde ele era garçom, de grande carisma, respeito e educação kkkk agitado, alegre, nos chamava de bacaninha. Sinto muito ao saber desse ocorrido." (Autor não identificado, 15/julho/2021)

CURIOSIDADES SOBRE A MÚSICA: "Recordações" e o Festival Uma Música para Petrolândia

Você sabia que a música "Recordações" foi composta por Ruy Sá com inspiração em outra canção sobre Petrolândia? Salvo engano, no ano de 1985, no mandato do ex-prefeito Dr. Francisco Simões de Lima, antes da transferência da sede política do município para a "nova cidade", foi realizado o festival Uma Música para Petrolândia, dentre as ações que marcaram a despedida da velha cidade, em vias de ser inundada pela barragem de Itaparica. Uma das músicas do festival foi composta por Nestor Soares e este blogueiro Assis Ramalho.

Numa manhã de domingo, após um jogo de torneio de futebol na Cidade Livre (centro do município de Jatobá, emancipado alguns anos depois), fomos a um barzinho. Todo mundo alegre, inclusive eu, e Nestor no violão tocava Raul. Aí entra na mesa o fim da velha cidade, que aconteceria somente em 1988, e entramos na rodada de nostalgia pelas coisas que iríamos perder. Os olhos até marejavam de tristeza. Então, surgiu a ideia de participar do festival marcado para a sexta-feira seguinte e ali mesmo fizemos a música e cantamos, várias vezes, para a galera que estava no bar. Todos com uma cervejinha a mais no juízo e todo mundo gostando da nossa música. 

No entuasiasmo, decidimos inscrever a música no festival, embora eu já soubesse que o prazo de inscrição já tinha terminado. Então, eu disse a Nestor que mesmo assim iria tentar fazer a inscrição. Com um jeitinho brasileiro, consegui fazer a inscrição. Durante a semana, nos reunimos uma ou duas vezes para ensaiar, na casa de Loucha. Nós o convidamos para fazer a percussão. No palco, Nestor e eu cantamos e tocamos violão, com Loucha na percussão. Mais uma vez, o público gostou, mas nossa música não foi classificada. Os vencedores foram duas músicas do Coral Vozes do São Francisco, uma delas do padre José Maria. Eronides, irmão de Euclides Modas, também ficou entre os três melhores.

Mas valeu nossa participação. Pouco tempo encontrei Ruy Sá. Ele disse que iria para Recife gravar um compacto (disco de vinil) com duas músicas. Ele me chamava carinhosamente de "painho". Na ocasião, ele disse que tinha feito uma música e nela tinha alguns trechos da canção que Nestor e eu tínhamos cantado no festival. Ele perguntou se podia usar, pediu nossa autorização. Tanto eu quanto Nestor concordamos, para nós era uma honra nossa música ter sido uma inspiração para ele. A outra música gravada por ele nesse disco foi "Nudez". 

Após a solenidade na Câmara Municipal de Petrolândia, com tantas emoções e memórias despertadas, este blogueiro trocou mensagens com o amigo artesão e ex-vereador jatobaense Nestor Soares, um verdadeiro professor, impecável no YouTube com o canal Emoldurando Histórias. Surpreendemente, Nestor ainda guarda na memória a primeira estrofe da nossa música e relembra que o ritmo foi inspirado nas músicas de Raul Seixas, que tanto nós cantávamos nas rodas de amigos. Confira no vídeo abaixo as palavras de Nestor.


Nossa música, da qual sequer recordamos o título, infelizmente não foi preservada por nós em escritos, porém, foi lapidada e imortalizada pelo talento de nosso inesquecível amigo Ruy Sá, que emociona o coração dos petrolandenses que conheceram e não conheceram a antiga cidade, talento que transformou uma melodia simples nos mais puro hino afetivo de Petrolândia. 

RECORDAÇÕES: PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DE PETROLÂNDIA

Família de Ruy Sá recebe homenagem do vereador Dedé de França (Foto: Assis Ramalho)
Mesa Diretora da Câmara Municipal de Petrolândia (Foto: Assis Ramalho)

Abaixo o vídeo, na íntegra, com a transmissão ao vivo da sessão da Câmara Municipal de Petrolândia


Ilustração usada pela Câmara Municipal em quadro condecorativo à memória de Ruy Sá (Fotomontagem de Lúcia Xavier/Arquivo BlogAR)

Projeto de Lei nº 1.404/2024

Ementa: Declara Patrimônio Cultural Imaterial do Município de Petrolândia a Música Recordações de autoria do Músico Ruy Sá, e dá outras providências.

A Câmara de Vereadores do Município de Petrolândia, Estado de Pernambuco, faz saber que o Plenário aprovou o seguinte Projeto de Lei:

Art. 1º - Fica reconhecida a Música RECORDAÇÕES, de autoria do músico Ruy Sá, como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Município de Petrolândia/PE.
Parágrafo único: Entende-se por Patrimônio Cultural, os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, em conformidade com o artigo 216 da Constituição Federal.

Art. 2º - A presente disposição estabelece que a execução da composição musical intitulada 'Recordações' terá caráter obrigatório durante todas as Sessões Solenes realizadas nas dependências da Câmara Municipal de Petrolândia, em conformidade com os preceitos legais estabelecidos para a valorização e preservação do patrimônio cultural imaterial local.

Art. 3º -Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se todas as disposições em contrário.

Sala das Sessões, em 29 de janeiro de 2024.

Erinaldo Alencar Fernandes
Presidente

JUSTIFICATIVA

Temos às margens de um rio Petrolândia, Cidade que um dia esse nome bonito se deu Famílias que tiveram seus filhos assim como eu Petrolândia Um dia chegou bem mais forte a força do progresso, Falando primeiro e mais alto do que a própria razão, Sangrando e desmarcando o compasso do coração Petrolândia. Em cada manhã de setembro quando eu acordar Lembrarei de uma banda tocando alvoradas no ar O céu todo azul tão bonito Gente querendo olhar Bandeiras, crianças, desfiles E um hino pra se cantar Petrolândia Levo guardado na mente Lembranças que serão permanentes Recordações...Quantas emoções Petrolândia ... Petrolândia.( Recordações, Ruy Sá).

 A letra da música narra a história de Petrolândia, desde o momento em que recebeu o nome até os desafios enfrentados com o avanço do progresso. A narrativa é impregnada de sentimentos de pertencimento, resgatando memórias de famílias e suas relações com a cidade. O autor destaca eventos marcantes, como as manhãs de setembro com bandas tocando alvoradas, o céu azul, desfiles e hinos que ecoam na mente dos habitantes.

A música "Recordações" serve como um testemunho poético da cultura e das tradições locais, proporcionando uma representação artística única e autêntica da experiência de viver em Petrolândia. Sua preservação como patrimônio cultural imaterial é crucial para a valorização da identidade local e a transmissão dessas vivências às gerações futuras.

Ao tornar "Recordações" patrimônio cultural imaterial de Petrolândia por meio deste projeto de lei, reconhecemos sua importância como um elo que conecta passado, presente e futuro da comunidade. Este reconhecimento não apenas honra a obra e seu autor, mas também reforça o compromisso de preservar e promover a rica herança cultural de Petrolândia para as gerações vindouras.

Em vista do exposto, solicito o apoio dos nobres vereadores para a aprovação do Projeto de Lei que declara a Música Recordações, como Patrimônio Cultural Imaterial do município de Petrolândia, em reconhecimento à sua significativa contribuição para a identidade e cultura local.

Certamente, essa iniciativa fortalecerá o compromisso com a preservação e valorização de nosso patrimônio cultural, enriquecendo a história e as tradições da região.

Sala das Sessões, em 29 de janeiro de 2024.

Erinaldo Alencar Fernandes
Presidente

Redação do Blog de Assis Ramalho

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