terça-feira, junho 03, 2014

Pnud realiza profundos cortes e demissões coletivas


O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), uma das maiores agências da Organização das Nações Unidas (ONU), cujo orçamento médio é calculado em mais de US$ 5 bilhões, realizará demissões em grande escala, rebaixamento de categoria, reduções salariais e supressão de postos de alta hierarquia.

“Se o plano for aplicado segundo o previsto será uma das maiores demissões da ONU que se tem lembrança”, afirmou à IPS um antigo membro do pessoal do fórum mundial. “Antes nunca foi tão grave, porque agora todos esses empregados que perdem seus empregos e seus vistos G-4 terão de regressar aos seus países de origem”, acrescentou em referência aos vistos que permitem aos estrangeiros trabalhar em organizações internacionais com sede nos Estados Unidos.

Barbara Tavora, presidente do Sindicato do Pessoal da ONU, disse à IPS que sua entidade – que supervisiona os interesses dos funcionários nas operações da secretaria e de campo das Nações Unidas – se preocupa com a “revisão estrutural” que realiza atualmente a administração do Pnud.

“Entendemos que isso pode causar rebaixamento de categoria, bem como a perda de pelo menos 30% dos postos de trabalho na sede de Nova York e de vários postos relacionados com a segurança no terreno também”, pontuou Tavora. “Apenas estamos conhecendo os detalhes desse exercício e me pergunto se há alguma base legal para as ações da administração do Pnud”, acrescentou a sindicalista. Seu sindicato “apoiará plenamente nossos homólogos do Pnud e os ajudaremos em tudo o que pudermos”, acrescentou.

Para Helen Clark, administradora do Pnud, “nossos serviços estarão muito mais centrados nas regiões e seremos mais econômicos”, conforme anunciou em carta dirigida aos membros do pessoal nos últimos dias, na previsão de uma forte reação negativa. “Teremos um número consideravelmente menor de cargos categoria D (nível de diretor) com relação a outros níveis de serviços profissionais e gerais”, acrescentou.

Isso significa que serão eliminados muitos postos de trabalho e “entraremos em um processo de realinhamento para ser o mais justo e transparente possível na hora de preencher os novos cargos”, explicou Clark.

“Entendo, entendo que alguns membros do pessoal poderão aproveitar a oportunidade para deixar o Pnud, em lugar de competir por novos cargos”, diz Clark na carta. “Para facilitar isso, vamos oferecer um número limitado de pacotes de afastamento voluntário”, acrescentou a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia e chefe do Grupo de Desenvolvimento da ONU.

Atualmente, a Secretaria das Nações Unidas tem mais de 11.700 empregados em Nova York. O total do pessoal do Pnud é calculado em cerca de 6.400, dos quais mais de 1.100 se encontram em Nova York e aproximadamente 5.300 em operações de campo, segundo estatísticas referentes a 2012 do Sistema de Recursos Humanos da ONU. Sua sede fica em Nova York, mas mantém escritórios em 170 países e territórios, e é o principal organismo da ONU no estrangeiro, dirigida por um Representante Residente em cada país.

Desempenha função crucial no desenvolvimento socioeconômico, um dos mandatos fundamentais da ONU. Seu trabalho se concentra em quatro áreas principais: redução da pobreza e cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio; governança democrática; prevenção e recuperação das crises, e ambiente e energia para o desenvolvimento sustentável.

Em todas suas atividades o Pnud fomenta a proteção dos direitos humanos e o empoderamento das mulheres, das minorias e dos setores mais pobres e vulneráveis. Em sua sede nova-iorquina conta com escritórios para a política de desenvolvimento, prevenção e recuperação das crises, gestão, relações exteriores e defesa.

Também possui escritórios que supervisionam as seguintes regiões: África, Estados árabes, Ásia e Pacífico, Europa e Comunidade de Estados Independentes, e América Latina e Caribe. Os recursos ordinários do Pnud provêm inteiramente de contribuições voluntárias de diversos associados, entre eles os Estados membros, organizações multilaterais e de outro tipo. Essas contribuições entram como recursos do orçamento ordinário ou como outros aportes destinados pelos contribuintes, segundo a agência.

Em 2012, contribuíram 50 países com os recursos ordinários, que chegaram a US$ 846,1 milhões. O valor correspondente a “outros recursos” chegou a US$ 3,79 bilhões no mesmo ano. Os recursos locais proporcionados pelos países aumentaram 5,3% em 2012 com relação ao ano anterior, enquanto as contribuições multilaterais aumentaram para mais de US$ 1,5 bilhão.

Clark disse que a mudança estrutural foi idealizada pela junta executiva do Pnud, que compreende 36 Estados membros, representados por regiões. A junta aprovou em 2013 “um novo Plano Estratégico para o Pnud”, e desde então toda a organização realiza as mudanças necessárias para aplicá-lo. Um dos três pilares desse plano é a melhora na eficácia institucional.

Para isso a organização fez uma análise importante de seu rendimento e, segundo disse Clark ao pessoal, “todos participamos do planejamento e da implantação das mudanças”. Nos escritórios em nível nacional foi aplicado um “exercício da sustentabilidade financeira”, que deu lugar a muitas mudanças, ressaltou. Além disso, nos últimos meses houve um exercício de mudança estrutural em curso na sede e nas diferentes regiões para conseguir uma série de melhorias na eficiência, afirmou.

“Nos comprometemos a passar mais de nossas políticas e de nossos serviços de apoio ao nível regional para estarmos mais perto de nossos escritórios nos países”, detalhou Clark. E isso inclui a eliminação da superposição desnecessária entre os escritórios, garantir que as funções estejam alinhadas corretamente por meio da organização, para melhorar as normas de prestação de contas e profissionais e “nosso âmbito de controle de modo a termos melhores possibilidades de carreira para o pessoal mais jovem”, acrescentou.

Os planos “para reduzir o gasto com salários permanecerão dentro dos limites orçamentários fixados pela junta executiva em setembro”, explicou Clark. “Deixem-me dizer a todos vocês que reconheço que esse não é um momento fácil para o pessoal. Também sei que podemos ser uma organização de desenvolvimento mais forte e eficaz que pode fazer uma diferença real na vida de milhões de pessoas. Não tenho nenhuma dúvida de que há muitas oportunidades aí fora para o Pnud”, enfatizou Clark. 

Envolverde/IPS

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