08 setembro 2025

Morre no Rio de Janeiro a cantora Angela Ro Ro


Angela Ro Ro (1949-2025) — Foto: Marco Antonio Rezende / Agência O Globo

Ela estava internada no Hospital Silvestre, no Cosme Velho, na Zona Sul do Rio, desde julho, quando passou por uma traqueostomia em decorrência de uma infecção pulmonar

Por Ricardo Ferreira, Em O Globo — Rio de Janeiro

Morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos, a cantora Angela Ro Ro. A notícia foi confirmada por Laninha Braga, ex-namorada que estava cuidando da cantora, e pelo produtor Paulinho Lima, amigo de longa data da artista. Angela teve uma parada cardíaca após um procedimento cirúrgico. Ela estava internada no Hospital Silvestre, no Cosme Velho, na Zona Sul do Rio de Janeiro, desde julho, quando passou por uma traqueostomia por conta de uma infecção no pulmão.

Angela vinha recorrendo às redes sociais para pedir ajuda financeira. "Sem perspectiva de alta ou cura para trabalhar, humildemente peço ajuda a vocês", disse ela em um dos vídeos postados em seu perfil no Instagram. Ao GLOBO, o advogado da cantora, Carlos Eduardo Lyrio, confirmou que ela dependia de doações para seguir se tratando.

— Angela não tem aposentadoria, não tem investimentos, mora num pequeno apartamento que herdou em Copacabana. Sua única fonte de renda é um repasse de direitos autorais, que é muito pouco — afirmou Lyrio.

Faxineira e garçonete antes de ser cantora

Angela Ro Ro em foto de 1981 — Foto: Aníbal Philot / Agência O Globo

Nascida no Rio em 5 de dezembro de 1949, Angela Maria Diniz Gonsalves ganhou o apelido Ro Ro ainda na na infância, devido à sua voz rouca e grave. Na década de 1970, ela iniciou sua carreira, após uma viagem para a Itália, onde conheceu o cineasta Glauber Rocha. Depois mudou-se para Londres, onde foi faxineira em hospital, garçonete e lavadora de pratos num restaurante. Nesta época, fez diversas apresentações em pubs da capital britânica.

Por indicação de Glauber Rocha, em 1971, participou do álbum "Transa", de Caetano Veloso, tocando gaita na música "Nostalgia (That's what rock'n roll is all about)". Na volta ao Rio, começou a se apresentar em casas noturnas e foi contratada pela gravadora Polygram/Polydor (atual Universal Music). Seu primeiro álbum, que levou seu nome, lançado em 1979, trouxe apenas composições suas, entre as quais alguns sucessos que marcariam suas carreira, "Gota de sangue", "Balada da arrasada", "Agito e uso", "Tola foi você" e "Amor, meu grande amor".

Farras e polêmicas

Ao longo de sua trajetória, Angela Ro Ro conviveu com o alcoolismo e a dependência química. Começou a fumar aos 11 anos e a beber com 20, "para desinibir", conforme contou uma vez ao GLOBO. "Antes, era uma natureba, macrobiótica, tímida. Desinibi tanto que o fígado quase veio para fora. Depois, ansiolítico para mim era balinha, tomava aos borbotões", relatou em entrevista de 2006.

Angela tinha personalidade forte e frequentemente se envolvia em polêmicas. Em fevereiro de 1997, a síndica do prédio onde a cantora morava, em Copacabana, chegou a denunciá-la na polícia por supostamente tê-la ameaçado de morte. Os moradores do edifício diziam que a cantora tumultuava o dia-a-dia no prédio, andando bêbada e nua pelos corredores. Disseram, inclusive, que ela tentou colocar fogo num apartamento do segundo andar. À época, Angela negou todas as acusações.

Angela Ro Ro no fatídico show de Zizi Possi, no Teatro da Praia, em 1981 — Foto: Antônio Nery / Agência O Globo

No começo dos anos 1980, Angela Ro Ro viveu um romance com Zizi Possi. Inconformada com o término, ela causou um escândalo num show da ex, no Teatro da Praia, em 1981. "Essa mulher já foi minha!", teria gritado Angela, que saiu do episódio com a imagem arranhada por ter revelado a bissexualidade de Zizi Possi. Na época, também houve um rumor de que Angela teria agredido fisicamente Zizi, fato que a primeira sempre desmentiu e sobre o qual a segunda sempre se calou.

"Gostava muito da farra", disse a artista em entrevista à revista ELA, do GLOBO, publicada em dezembro do ano passado. "Até os 30 anos, morei com os meus pais e, depois de uma certa hora, não podia tocar piano. Então, saía para o Baixo Leblon, onde ia ao Real Astoria e à Mykonos, ou para a Flag, em Copacabana, em busca de um piano. Tinha também a 706, que era fantástica, com o Osmar Milito no piano. E os crooners eram Djavan, Áurea Martins e Emílio Santiago. O que você quer mais? Essa era a minha noitada", contou.

'Seja louco, pare de beber'

Na década seguinte, lançou os discos "Só nos resta viver" (1980) e "Escândalo!" (1981), com a faixa-título composta por Caetano Veloso em sua homenagem. No auge de sua carreira, lançou ainda "A vida é mesmo assim" (1984) e "Eu desatino" (1985). Após lançar apenas um disco nos anos 1990, "Ao vivo - Nosso amor ao Armagedon" (1993), ela lança o disco "Acertei no milênio", em 2000.

Nesta época, Ro Ro decide largar as drogas, a bebida e o cigarro. Passa a fazer ginástica e perde cerca de 35 quilos. Lança o disco "Acertei no milênio", em 2000. Em entrevista publicada na Revista O GLOBO, em 2006, ela disse que a decisão de mudar de vida aconteceu após um incidente ocorrido num show, em 1999. Na ocasião, ela avisou ao público que não conseguia cantar "All the way", de Frank Sinatra. Dali, foi direto para o hospital.

— Viver sem drogas é fácil. Difícil é viver sob os maus tratos. Seja louco, pare de beber! Seja doidão, pare de fumar — disse Angela, às gargalhadas.

Para continuar no processo de reabilitação, Angela Ro Ro refez a casa inteira e teve uma conversa franca com sua funcionária, que também convivia com a dependência química.

— Passei numa loja de eletrodomésticos e comprei tudo novo para minha casa: geladeira, fogão, secretária eletrônica. Não parece, mas isso foi muito importante para concretizar a vida nova. Depois, fui franca com a minha empregada, que usava drogas pesadas. Disse: “Ou eu, ou as drogas”. Não podia ficar com ela e ser vítima do meu próprio desgosto. Estava super obesa, com 118 quilos e, ao mesmo tempo, com uma aparência cadavérica. Seria presa fácil de minha fraqueza, que era o vício químico. Penha já era uma amiga, na verdade herança de outra amiga, Berenice, que morreu de Aids também por uso de drogas injetáveis. Penha foi embora. Morreu de derrame cerebral, do excesso de drogas — contou.

Entre 2004 e 2005, a cantora apresentou o talk-show "Escândalo", no Canal Brasil. No ano seguinte, Angela gravou "Compasso" (2006) pela independente Indie Records e um disco ao vivo gravado no Circo Voador, em 20 de setembro de 2006. Nos anos 2010, lançou, pela Biscoito Fino, "Feliz da vida!" ( 2013), e foi homenageada em "Coitadinha bem feito: As canções de Angela Ro Ro" (2013), tributo com regravações de suas canções com vozes masculinas. Seu último álbum foi "Selvagem" (2017).

Por Ricardo Ferreira, Em O Globo — Rio de Janeiro


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