sexta-feira, janeiro 24, 2020

Petrolândia: Epifania da Palavra - Artigo de Fernando Batista

Por: Fernando Batista

Dentro de nós se esconde tão cheia de viço. O grão de seu verbo, a raiz de seus pronomes. Nós somos o seu experimento. Guardamos sua fala ainda em estado de repouso. Da palavra, somos seus livros ainda não escritos, seus discursos ainda não pronunciados, seu gosto ainda não provado.

Talvez seja por isso que os poetas têm livre acesso ao sentimento do mundo, têm o poder de restituir ao coração humano as suas perdas e ganhos. Ela, a palavra, deixa de ser verbo e se nos apresenta como personagem. Olha-nos e disseca-nos. Em seguida, nos descreve e nos emociona. Por vezes, nos confunde com seu poder de silêncio, ora clareando, ora nos afogando no breu de nossas dúvidas.

Em cada ser vivente ela está alojada. Fica nas esquinas da existência tal qual prostituta observando olhares solitários e bocas emudecidas, desejosa de possuir os interiores inabitados da alma humana, onde a dor é apenas dor e a alegria é apenas alegria.

Ela sulca com propriedade os mais recônditos e obscuros espaços do olhar alheio. Nela está a sonoridade que cura e mata, acrescenta e retira, fortalece e enfraquece. desprende-se em gesto que se cumpre aos poucos. Um insight muitas vezes embriagado prevendo a ressaca moral das turvas rotas do sentir humano.

Ladra, andarilha. Anda nos mesmo bondes, mas não retorna de mãos vazias. Há dias em que retorna tranquila, há outros em que volta ancorada no desassossego. Anda por aí recolhendo saudades sofridas e risos gratuitos.

Cada palavra que se levanta deste papel empoeirado é um osso que se junta aos outros para recompor o corpo que já foi do tempo. Ouvi dizer que o amor não morre, vira palavra. A mim, basta saber que ele [ o amor] existe e que religiosamente visita a minha casa, seja verbalizado ou silencioso. Pode entrar. Sente-se comigo. Conjugue-me, caso queira.

Da Redação do Blog de Assis Ramalho
Texto: Fernando Batista

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