segunda-feira, setembro 23, 2019

Petrolândia: O parquinho está montado e Avenida dos Três Poderes vira País das Maravilhas


Finalmente, é início da Primavera, melhor época do ano em Petrolândia. No final de setembro, todos os problemas deixam de existir e a cidade se transforma num cenário de contos de fadas, na capital do País das Maravilhas, aromatizado pelo perfume de banheiro a céu aberto. Metade do centro da cidade é privatizado e a outra metade é terra de ninguém. Na Avenida dos Três Poderes, feito Alices, faixas de rolamento e vagas de estacionamento, insultuosamente reclamadas e ditas insuficientes durante todo o resto do ano, deixam de existir e ninguém reclama. O trânsito de carros, motos, bicicletas, carroças, animais e pessoas, complicado no dia a dia, flui por uma faixa de cerca de 3 metros de largura e, felizmente, ninguém é atropelado.

No canteiro central, as árvores que esfregam os dedos (os galhos) na cara de quem não vale nada porque anda a pé, dividem espaço o apertado espaço com barracas, brinquedos e bilheterias. Cadeirantes, que já não têm espaço nem respeito no dia a dia, se querem atravessar a avenida têm que colocar a cadeira de rodas na cabeça ou debaixo do braço, num arremedo de "levante-te e anda" ou o clássico "te vira", promovido por quem deveria resguardar-lhes os direitos.

Mas, algumas coisas não mudam. Os locais de estacionamento proibido continuam a ter veículos estacionados, além de barracas e brinquedos. Calçadas e vagas reservadas desaparecem, totalmente ocupadas. A faixa de pedestres, sem guia rebaixada para não virar retorno, se torna oficialmente local de estacionamento, afinal, quem precisa de faixa de pedestres se é impossível atravessar a avenida de um lado a outro. Sem calçadas e sem canteiros, anda-se pelo meio da avenida, compartilhando o espaço restrito com carros, motos, bicicletas, carroças e animais, num encantamento que nos leva à Índia. 

À noite, o trânsito no centro é bloqueado e o espaço é completamente privatizado. A hipnose causada pelo brilho piscante das luzes coloridas, pela magia lúdica dos brinquedos, torna todos felizes para sempre, enquanto houver dinheiro para pagar o ingresso. O dono da festa, São Francisco de Assis, trabalha muito nesses dias. Milagrosamente, dezenas de metros de cabos elétricos serpenteiam pelo chão e ninguém jamais foi eletrocutado.

É final de setembro, é primavera, é festa do Padroeiro, e tudo que é proibido, ilegal ou reprimido durante o restante do ano, é permitido agora, quando a privatização da cidade é institucionalizada. Só ambulantes e feirantes, obrigados a cumprir regras e desocupar espaços mínimos no cotidiano podem se perguntar: por que se pode fazer isso agora e depois não?

Redação do Blog de Assis Ramalho

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