quarta-feira, abril 20, 2016

Línguas indígenas podem desaparecer, alerta antropóloga da UFRJ


O Brasil corre o risco de perder um de seus grandes tesouros culturais, as línguas indígenas, se não forem tomadas medidas de preservação desses idiomas ancestrais. O alerta é da antropóloga e linguista Bruna Franchetto, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela falou sobre o assunto nesta terça-feira (19), quando foi comemorado o Dia do Índio, em palestra no Museu do Amanhã, no centro do Rio.

“Estamos lutando conta a perda da diversidade linguística no Brasil, representada pelas mais de 150 línguas indígenas que ainda são faladas, e contra o enfraquecimento e o empobrecimento dessa diversidade. Calcula-se que, desde o momento da conquista, há mais de 500 anos, até os dias de hoje, houve uma perda superior a 80% da diversidade cultural, étnica e linguística nativa”, disse Bruna.

Diversidade

Segundo ela, há no Brasil línguas que pertencem a 40 famílias distintas, que se organizam, não todas elas, em troncos principais, o Gê e o Tupi. Além disso, têm mais 10 línguas isoladas, que não pertencem a nenhuma família. “É uma diversidade incrível. Preservar e lutar por sua sobrevivência é fundamental. Cada língua carrega um universo de conhecimentos, tradições, artes e beleza estética. Cada velho índio que morre é como se queimasse uma biblioteca.”

Bruna esclareceu que a perda linguística deveu-se ao genocídio e à extinção de povos inteiros, desde a época da conquista. “Hoje ainda há genocídio de populações indígenas, com a morte física de falantes, causado pelas armas, invasão de territórios, invasão das áreas, dispersão de populações e doenças trazidas pelos colonizadores.”

Além disso, segundo ela, a assimilação cultural violenta também se encarrega de fazer desaparecer as línguas ancestrais. “Há uma cultura homogênea chamada de nacional e isso causou o empobrecimento cultural e linguístico do Brasil indígena. Isso se deu através das escolas, dos missionários, da catequização e da própria mídia.”

A linguista acredita que há medidas possíveis para frear o processo e garantir a preservação desses idiomas. “Estamos fazendo, timidamente, de modo muito incipiente. São pesquisas realizadas nas universidades, em centros de pesquisas. O número de linguistas que se dedicam ao estudo e documentação dessas línguas ainda é muito pequeno. Nós temos dois grandes centros de documentação, que é o Museu do Índio, no Rio de Janeiro, e o Museu Emílio Goeldi, no Pará.”

Outro assunto que ela considera essencial é melhorar a formação dos professores indígenas, responsáveis pela manutenção da língua diretamente nas aldeias. “É uma formação ainda muito precária. Uma corrida contra o tempo. Estamos remando contra a maré.”

Agência Brasil

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