sábado, março 14, 2020

Petrolândia: A Janela do Ônibus - Por: Fernando Batista


Por: Fernando Batista

Eu insisto em contar os dias. Indo para a faculdade, me dei conta de que a janela do ônibus nos põe diante da janela da vida. De repente, o pensamento viaja. Olho ao redor e descubro que as coisas que eu quero levar nem sempre podem ser levadas. Elas ultrapassam os tamanhos permitidos.

É nessa hora que descubro a experiência inevitável do partir. Viajar é descobrir o mundo que não temos. Ao longe, o rio e o alaranjado de suas afirmações e mistérios. Um rastro de luz, vida que nos permite parar.

De vez em quando uma curva, uns buracos, paisagens rapidamente passando diante dos olhos atentos a tudo, menos ao que se passa lá fora, pois o que importa se passa dentro de nós.

Bom é partir, é ir. Mas bom mesmo é voltar. É bom ir à faculdade. Melhor ainda é percorrer o caminho. Este ensina mais e melhor. É como se a vida e a viagem seguissem as mesmas regras.

Anoitece. Paisagem noturna de um poeta errante, embriagado de palavras tontas, rotas turvas de sentimento humano. É verbo que se conjuga em partes. O silêncio dos viajantes. O cansaço refletido nas telas de celulares. O amor que está voltando. A cada mensagem se vão quilômetros de distância. Outas viagens, cujos destinos são os mesmos ou não. Afinal, cada janela leva a um lugar, a um coração.

Olhar através do vidro é adentrar a alma. É tentar parar o tempo no exato momento do erro, é tentar pausar aquela felicidade, é dar o “play”. As viagens dão grande abertura à mente. Em verdade, o que vemos não é o que vemos, senão o que somos.

Aprendi que caminho se faz caminhando. Que mais vale a caminhada do que o ponto de partida. Já tive vontade de pedir ao motorista para parar, sentar na calçada e chorar, mas preferi pegar meu caderno e anotar sonhos.

A vida é feita de viagens, de caminhos. Gosto, particularmente da cena em que Alice pergunta: “Senhor gato, que caminho devo seguir?” O gato: “Para onde você quer ir menina?”. Ela: “Não sei.” “Bom, responde o gato, para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”.

Às vezes, na viagem carregamos um monte de coisas que não fazem nada a não ser pesar. Leve, mas seja leve. Carregue apenas o essencial, o que vale a pena, o que agrega. Olhos fitos na janela do ônibus. Ela tem vida própria e quer dialogar com você.

Por: Fernando Batista

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