sexta-feira, janeiro 05, 2018

Belém do São Francisco/São Paulo/Jatobá: Com ajuda do sogro, Toró supera assalto e amor à distância para brilhar no São Paulo F.C

O tradicional "coração" acompanha Toró nas comemorações "Eu cheguei a falar para o meu pai que gostaria de voltar. Fica o trauma, não tem jeito. Mas ele não deixou eu desistir, e segui. Os meninos foram embora, e acabei ficando sozinho"
Toró reencontra a namorada a cada quatro meses na aldeia Pankararu, no município de Jatobá-PE (Foto: Celio Messias/saopaulofc.net)
Nos braços de Elinha, Toró curte o amor da sua vida (Foto: Arquivo pessoal)

Até os 16 anos, Toró vivia de peladas em Pernambuco. Ganhava R$ 80 por jogo no futebol amador de Belém do São Francisco-PE, cidade onde morava com os pais. Encarava de tudo. Amigos, desconhecidos, adversários de todas idades, em diferentes campos da várzea pernambucana.

Como levava jeito para a coisa, foi convidado para uma peneira na aldeia Pankararu, localizada no município de Jatobá-PE. Era o início de uma história de amor, dentro e fora das quatro linhas.

Clênio, que convidou e hospedou o garoto durante o teste, anunciou a aprovação - duas semanas depois - e o colocou dentro de um ônibus com outros oito garotos para jogar num time da cidade de Salto, interior de São Paulo. Foram aproximadamente 1.000km de estrada e três dias de viagem, carregados de esperança e saudade.


Esperança, obviamente, pela oportunidade no futebol. Saudade porque ele deixava, na aldeia Pankararu, a filha de Clênio, Elinha, com quem pouco conversou, mas já despertava sua paixão. Ela era tímida (Toró também), mas ambos já sabiam que algo pairava no ar. Assim como o talento para o futebol.

No Comercial, time de Salto, Toró não recebia salário. Jogava, literalmente, pelo prato de comida. Era café da manhã, almoço e jantar, em troca de gols e boas atuações. Dinheiro para um sorvete fora do alojamento, para uma chuteira, era enviado pelos pais, de Belém do São Francisco.

As condições, que já não eram atraentes, ficaram ainda piores duas semanas após desembarcarem na cidade. Certa madrugada, enquanto dormiam no alojamento do clube, os garotos foram surpreendidos. Assaltantes armados invadiram o local. Levaram quase tudo. Toró, que ficava no quarto mais ao fundo, passou ileso. Os companheiros, traumatizados, voltaram para Pernambuco a pedido dos pais.

- Eu cheguei a falar para o meu pai que gostaria de voltar. Fica o trauma, não tem jeito. Mas ele não deixou eu desistir, e segui. Os meninos foram embora, e acabei ficando sozinho - lembrou Toró, que superou a solidão e destacou-se no time de Salto. As boas atuações renderam uma chance no Primavera, time da vizinha Indaiatuba.

Foi bem no Paulista Sub-17, marcando três gols em apenas dois jogos. Se dentro de campo as coisas melhoravam, fora, a saudade apertava. Assim que terminou o estadual, Toró voltou para Pernambuco para ver a família e, obviamente, Elinha. Era o gol que faltava.

- Ela não era minha namorada, mas gostava de mim. E eu gostava dela. Foi muito difícil no começo pois tive que voltar para São Paulo. Eu fiquei com ela pela primeira vez e, no dia seguinte, tinha que voltar. Ela nunca tinha namorado, era tímida, e eu era tímido. Na despedida, ela chorou, e eu também. Isso tudo ficou marcado. Não era uma despedida. Era um até logo - relembrou, sem esconder o sorriso apaixonado.

De bem com as vidas, dentro e fora de campo, o atacante do Primavera foi bem no Paulista Sub-20, marcando dez gols em dez partidas. Chamou a atenção e recebeu uma proposta do São Paulo. Porém, seu empresário achou que não era o momento. O Primavera disputaria a Copa São Paulo de 2017, mais uma vitrine para ele.

- Ele apostou no meu potencial. Achou que se eu fizesse uma boa Copinha, poderiam surgir outras propostas, outros clubes, e foi o que aconteceu. Fui bem, fiz gols e fui convidado para conhecer o São Paulo. Acabei indo no início de 2017 - relembrou Toró, que foi um dos destaques do São Paulo nesta quarta-feira, na goleada sobre o Cruzeiro-DF por 6 a 2, no estádio Santa Cruz, estreia do time na Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Ao marcar o gol no primeiro tempo, Toró mandou um recado à namorada e aos familiares que assistiam à partida.

- Eles agradeceram a homenagem. Ela ficou muito feliz, agradeceu. Fico muito feliz por poder retribuir o carinho que eles têm por mim.

Amor à distância, planos a longo prazo

A distância e a saudade nunca atrapalharam o sonho de Toró. Segundo ele, Elinha, o sogro e os pais, Zé Carlos e Lurdes, sempre o apoiaram no futebol.

- Ela sempre esteve ao meu lado, dizendo que era o meu sonho, a minha oportunidade, e eu nunca desisti. Sempre tive o apoio dela, dos meus pais. Meus sogros sempre me ajudaram quando precisei. Sou muito grato a eles.

Ainda é cedo para falar sobre futuro. Toró, embora destaque do São Paulo, sabe que a caminhada é longa. Enquanto o estrelato não chega, a ideia, segundo Toró, é que Elinha siga com os estudos em Pernambuco e, em breve, esteja com ele na capital paulista.

- Ela terminou os estudos em 2017 e vai fazer faculdade. Fazemos planos mais para frente, e se as coisas acontecerem, ela deve vir para São Paulo - comentou.

G1

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