sexta-feira, julho 22, 2016

A importância do fitomelhoramento do sorgo para o Semiárido

Doutor em tecnologias energéticas nucleares com aplicações no fitomelhoramento pela UFPE, o pesquisador José Nildo Tabosa foi entrevistado pelo Núcleo de Comunicação do IPA.

O Programa de Pesquisa de Feijões, Cereais, Raízes e Tubérculos, do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), objetiva a geração de informações de cunho científico e técnico no âmbito do melhoramento genético de plantas. Nesse âmbito da agricultura familiar, o desenvolvimento de cultivares e de tecnologias voltadas para o semiárido visa à elevação da produtividade, volume produzido e aumento da renda líquida do produtor além da inclusão social destes.

O programa contempla as culturas do feijão comum e feijão caupi, da mandioca, inhame e batata doce, do milho e do sorgo. Com relação a cultura do sorgo pode-se afirmar que esta constitui uma das alternativas viáveis para o semiárido brasileiro no tocante à produção de biomassa (voltada para alimentação animal e produção potencial para bioenergia – bioetanol) e grão principalmente no período estival do ano ou mesmo nessas secas seqüenciais, onde as principais culturas nada produzem.

Em razão disso, o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) mantém além de um BAG – Banco Ativo de Germoplasma (de conservação in vivo e in situ – fonte de gens para geração de novos materiais de sorgo), um programa de pesquisa em busca de materiais genéticos cada vez mais eficientes, quanto à tolerância aos fatores ambientais adversos como o estresse hídrico e à salinidade do solo, inerentes a essa região.

O método utilizado na geração de novas progênies e de cultivares de sorgo é o PEDIGREE. Consiste no cruzamento intervarietal entre genótipos com características desejáveis. As gerações seguintes são avançadas por autofecundações sucessivas até a uniformização para a fixação do caráter que se busca.

Assim, em entrevista ao Núcleo de Comunicação do IPA, o pesquisador, José Nildo Tabosa, fala sobre o trabalho desenvolvido com essa cultura. Doutor em tecnologias energéticas nucleares com aplicações no fitomelhoramento pela UFPE, Tabosa desenvolve atividades de pesquisa e de difusão tecnológica nos últimos 40 anos com a cultura do sorgo no semiárido de Pernambuco e de outros estados da federação.

1 – Qual a importância do sorgo para a região semiárida?

Essa cultura já vem ocupando boa parte do espaço semiárido mundial em face das suas características de resistência ao estresse hídrico. Para se ter uma idéia, o sorgo do tipo granífero é o quinto cereal em área cultivada de maior importância do mundo, ficando somente atrás do trigo, milho arroz e cevada. Além disso, é utilizando como suporte alimentar por mais de 500 milhões de pessoas na Ásia e na África. No Brasil hoje detém uma área cultivada de cerca de 1,5 milhões de hectares. Além do sorgo granífero que ocupa a maior parcela, aparece o tipo forrageiro e também o sacarino. Na região do semiárido brasileiro essa cultura ocupa hoje cerca de cem mil hectares voltados basicamente como alimento animal.

2 – Quais os tipos de sorgo cultivados?
Primeiramente em ordem de importância vem o sorgo granífero. É uma planta de porte baixo de ciclo precoce onde o produto é o grão e no mundo hoje existem cerca de 45 milhões de hectares. É utilizado também na alimentação humana em países da África e da Ásia. Na Argentina, México e Estados Unidos que detêm os maiores níveis de produtividade o sorgo é utilizado na confecção de rações para a alimentação animal. Pesquisas hoje mostram o sorgo como alimento funcional e sem glúten. Além disso, segundo a Embrapa Milho e Sorgo, apresenta concentração de uma substância em sua composição – a antocianina – encontrada em poucos cereais e outros alimentos, como frutas e verduras, e de elevada atividade antioxidante. “Isso distingue o sorgo dos demais cereais. Em sua composição, há compostos fitoquímicos com propriedades altamente antioxidantes, como ácidos fenólicos e flavonóides.

O sorgo forrageiro – Este consiste de plantas de elevado porte onde o produto principal é a forragem verde. Pode ser utilizado in natura, para feno e para silagem. Os materiais forrageiros tradicionais e de uso para silagem, são chamados de silageiros.

O sorgo Sacarino – São plantas de porte elevado que foram desenvolvidos para elevada produção de biomassa (elevada produção de colmos) e com elevado teor de sacarose no caldo. O principal ponto desse tipo de sorgo é a produção de bioetanol. Outro ponto importante é que os seus resíduos podem ser utilizados na alimentação animal. Tanto o IPA como a Embrapa detém cultivares de sorgo sacarino de uso na alimentação animal.

O sorgo vassoura – É um tipo de sorgo de uso em artesanato e também na confecção de vassouras para uso prático. É muito comum em alguns países da Ásia. No Brasil fica concentrado como nicho de mercado nos Estados de São Paulo e do rio Grande do Sul, em localidades interioranas. Na realidade é uma planta de porte médio a alto, cuja panícula apresenta um formato de vassoura.

Sorgo herbáceo ou sorgo sudanense – É um tipo de sorgo de ciclo precoce, de porte médio e de uso apropriado para fenação e para pastejo. É uma espécie botânica diferente do sorgo convencional (Sorghum bicolor) é o Sorghum sudanense.

Sorgo de dupla finalidade ou de duplo propósito – Esse tipo compreende principalmente o sorgo granífero colhido na fase de grão leitoso e de uso para silagem. A principal vantagem é o enriquecimento dessa silagem quando os grãos moles são adicionados. Outra vertente é a utilização do restolho após a colheita dos grãos. Quando os grãos são colhidos, a parte que fica (restolho) ainda está completamente verde. Nessa situação podem-se submeter animais ruminantes para pastejo. Na realidade o sorgo de duplo propósito é somente uma questão de manejo de colheita, dependendo de cada condição de exploração zootécnica.

3- Qual a importância do sorgo para o semiárido no período de seca?

De forma geral, o objetivo da pesquisa agropecuária é a melhoria da qualidade de vida do produtor rural, aumentando a sua renda, reduzindo custos de produção, criando, inovando e introduzindo alternativas para serem exploradas principalmente pelos classificados como pequenos, médios e pela agricultura familiar que representa 88 % dos estabelecimentos da região.

Vale frisar que a pecuária representa para a agricultura familiar um dos principais fatores para a garantia de geração de emprego e renda. Para isto é necessário que seja estruturado um adequado suporte alimentar que garanta reservas no período seco, garantindo assim, o manuseio de rebanhos maiores, mesmo em pequenas propriedades. 

É observada no semiárido, a ocorrência de ecossistemas não-equilibrados e com flutuações acentuadas na disponibilidade de forragem ao longo do ano.

Os produtos da pecuária no semiárido brasileiro são em grande parte dependentes das flutuações climáticas, notadamente de fatores adversos como uma errática e escassa distribuição de chuvas. Sendo este fator de ocorrência normal, é importante o somatório de medidas e ações que objetivem uma convivência adequada no âmbito da oferta permanente de volumosos para o suprimento alimentar do rebanho produtivo regional no tocante à exploração de leite e carne.
Dentre estas ações, vêm sendo recomendado nos últimos anos (documentos veiculados em diferentes conferências mundiais de clima) o uso de plantas forrageiras de elevada economia hídrica e que detenha mecanismos adaptativos de convivência como o semiárido, como a palma e o sorgo forrageiro/silageiro. Esse tipo de recomendação visa o uso do sorgo principalmente o período estival do ano, atendendo o manejo e ao uso estratégico da forragem, potencialmente digestível, na forma de corte, feno, restolho e silagem.

Nesse âmbito, o IPA (através de atividades de melhoramento genético de plantas), vem desenvolvendo cultivares de sorgo forrageiro, silageiro e sacarinas (de elevada produção de biomassa e com características de lavoura xerófila) para uso na alimentação animal, destinadas à recomendação para o semiárido de Pernambuco e regiões similares.

Vale frisar que um hectare de sorgo forrageiro atende em consumo de volumoso a oito unidades animais bovinos ou 50 caprinos/ovinos, por um período de 150 dias.

Outro fato importante é que no Zoneamento de Risco Climático do MAPA (agricultura.gov.br), o estado de Pernambuco apresenta condições de cultivo de sorgo para a grande maioria dos municípios do semiárido, considerando as exigências de solo e de clima “per se”.

Ressalta-se, contudo que essas tecnologias contribuirão com a melhoria da remuneração na elevação da renda líquida, na inclusão social no campo, em curtos e médios prazos, contribuído no atendimento ao segmento da agricultura familiar e a programas de assentamentos.

4 - Quais foram as cultivares já lançadas pelo IPA?

O IPA detém no RNC Registro Nacional de Cultivares do MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 08 (oito) cultivares de sorgo (graníferos, de dupla finalidade, forrageiro, sacarino e herbáceo). São todas variedades desenvolvidas para o semiárido.

5 – O BAG – Banco Ativo de Germoplasma de sorgo do IPA é representado por quantos acessos?

Cerca de 870 materiais genéticos. Cultivares de domínio público que funcionam como fontr de genes e progênies avançadas ainda em avaliação.

6 - Existe alguma parceria técnica ou científica do trabalho de sorgo do IPA com outras instituições?

Tem uma intensa parceria com Secretaria de Agricultura de Alagoas no desenvolvimento de materiais forrageiros para a bacia leiteira de ambos os estados – Al e PE.Temos co-participação direta na confecção/elaboração de teses de Doutorado e dissertação de Mestrado onde são utilizadas as cultivares de sorgo ou / as ações de pesquisa do IPA – pelas Universidades Estadual do Ceará, Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal da Paraíba – Campus de Areia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal de Campina Grande e Institutos Federais de Educação. Todos com as culturas do sorgo forrageiro e sacarino.

Fonte: Núcleo de Comunicação do IPA

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