terça-feira, setembro 01, 2015

Petrolândia: Conferência Municipal incentiva participação de mulheres na política


Fotos: Lúcia Xavier









Na quarta-feira passada (26), no auditório da Escola Municipal Dr. Francisco Simões, Petrolândia realizou a 2ª Conferência Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres, com participação de público predominantemente feminino, inclusive transgênero. Lúcia Xavier, do Blog de Assis Ramalho, participou do evento como convidada e, é claro, como fotógrafa.

Os participantes foram recebidos às 8 horas, com café da manhã servido no horário do credenciamento, com serviço de buffet da Kidecor (Josivaldo e Cristiane: 99616-8576/99921-5533). A decoração da área de recepção, com cenários para fotos, explorou bem a expressão da vaidade feminina. O banner, com um grupo de mulheres de Petrolândia, foi outra marca do bom gosto dos organizadores.

A conferência foi iniciada com momento cultural. Grupo das Mulheres Quilombolas apresentou número de dança. Na sequência, jovens do grupo Erê EREM, da EREM Mª Cavalcanti Nunes, representaram o poema 'Gritaram-me Negra!' (Me Gritaron Negra!), de Victoria Santa Cruz, compositora, coreógrafa e desenhista peruana. Em seguida, o grupo cantou Olhos Coloridos, de Sandrá Sá.

De volta ao cerimonial, conduzido pela locutora Hislaine Menezes, foi composta a mesa de honra, uma das mais bem ocupadas dos últimos eventos. Representantes: Prefeitura Municipal de Petrolândia - vice-prefeita Janielma Souza; Secretaria de Desenvolvimento Social, Cidadania e Juventude (SEDES) - Socorro Alencar, também representante do CRAS; Secretaria de Saúde - Andreza Leite; Secretaria de Educação - Bernadete Matias; CREAS Regional Sertão de Itaparica - Marília Cantarelli; Conselho Municipal dos Direitos da Mulher - Lívia Leite de Carvalho; Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres - Eliane de Sá Alves; Coordenadoria Regional dos Organismos Municipais e representante da Secretaria Estadual da Mulher - Ivete Venâncio; Câmara Municipal de Petrolândia - Maria do Socorro Santos de Souza (Dona Santa); Associação dos Pescadores Artesanais e Aldeia do Brejinho da Serra - Maria Josineide dos Santos; Marcha das Margaridas - Cícera Maria Barbosa Leite; EREM Mª Cavalcanti Nunes e grupo EREM Erê - Professora Jussara Sá; Escola de Jatobá - Professora Suemys Pansini; Artesanato local e mulheres artesãs - Fátima Belém (Associação Café com Arte); Guarda Municipal - Maria Verônica Nascimento Silva; Associação Catingueira - Ana Paula dos Santos; Comunidade Quilombola - Silvaneide Rosália da Silva. O prefeito Lourival Simões e a Primeira Dama não compareceram, por motivo de viagem à Capital.

Após a composição da mesa e falas das autoridades, foram entoados o Hino Brasileiro e o Hino de Petrolândia. A programação oficial teve início, então, com a leitura e aprovação do Regimento Interno da II Conferência de Políticas para Mulheres.

A Palestra Magna foi proferida por Ivete Venâncio, com o tema "Mais Direitos, Participação e Poder para as Mulheres". A palestra não foi um monólogo, mas um momento de interação entre as mulheres, inclusive com depoimentos espontâneos.

Em seguida, foi servido o almoço acompanhado por apresentação musical de Vilma (voz) e Airton (violão). De volta ao auditório, após dar testemunho de sua trajetória de realização pessoal e profissional, Vilma convidou o público a cantar, de mãos dadas, Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré.

Ver mais fotos>II Conferência Políticas para as Mulheres em Petrolândia
Para fazer download do álbum>Conferência da Mulher Petrolândia (422 fotos)

Na sequência, foram realizados os trabalhos de discussão dos quatro eixos temáticos da Conferência da Mulher: I- "Contribuição dos conselhos dos direitos da mulher e dos movimentos feministas e de mulheres para a efetivação da igualdade de direitos e oportunidades”; II - “Estruturas institucionais e políticas públicas desenvolvidas para as mulheres no âmbito municipal, estadual e federal: avanços e desafios”; III - “Sistema político com participação das mulheres e igualdade”; e “IV - Sistema Nacional de Políticas para as Mulheres”.

Os quatro grupos debateram os temas e elaboraram sugestões que, de volta à plenária, foram apresentadas e aprovadas pelos delegados da Conferência. Fechada a pauta de sugestões, foram eleitas as delegadas para a Convenção Estadual, que será realizada no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, de 9 a 11 de dezembro de 2015.

Neste ponto, encerrada a cobertura do evento, tem início nossa reportagem sobre o assunto, abaixo.

O objetivo central da Conferência da Mulher 2015 é incentivar as mulheres a adentrarem, de forma atuante e proativa, no cenário político do país. Um detalhe, percebido no credenciamento para os eixos temáticos da Conferência, dá uma noção da dificuldade de tornar a política um assunto atraente para as mulheres. Ao preencher a ficha de participação, optei pelo Eixo I, com a intenção de poupar a mente de elaborações mais sofisticadas. Entretanto, fui orientada a escolher os eixos 3 ou 4. Motivo: os grupos 1 e 2 "já tinham muita gente". A principal causa das poucas inscrições foi a falta de visibilidade das opções disponíveis. Os temas dos eixos temáticos foram colados na toalha da mesa de credenciamento. Adicionalmente, a combinação das palavras "sistema" e "político/a" parece complicada e indigesta. Inscrevi-me no grupo 3, do sistema político, no qual comprometi-me a ajudar as mulheres de Petrolândia na criação do canal de comunicação e divulgação.

Uma das constatações da Conferência é que "mulher não vota em mulher". No Brasil, em 2014, as mulheres representavam mais de metade da população (51,5%) e do eleitorado (52,13%). Mas, entre os candidatos a mandato eletivo, da vereança ao Congresso, as mulheres sempre estão em minoria, de forma que, para incentivar o aumento da representativade do gênero, a legislação brasileira assegura 30% das vagas de candidatos para as mulheres.

A situação em Petrolândia é similar. Aos 105 anos de emancipação política, Petrolândia ainda espera sua primeira prefeita. Mas, salvo engano, desde Brites de Albuquerque, Pernambuco ainda não teve nem uma vice-governadora.

Para retratar a subrepresentação da mulher em Petrolândia, verificamos, nos resultados das duas últimas eleições municipais (2008 e 2012), a participação feminina na disputa para vereadores. Na disputa à prefeitura não houve candidata, mas registre-se a bem-sucedida coadjuvação de Jane, vice-prefeita eleita. Foi a única mulher nas três chapas concorrentes em 2012. Em 2008 nenhuma mulher concorreu à majoritária, como titular ou vice.

Em 2008, 71 candidaturas a vereador foram registradas em Petrolândia, com 20 mulheres no pleito, ou seja, 28,71% de participação. Dona Santa, então (única) vereadora, foi a mulher mais bem votada naquele ano, obtendo a 5ª colocação com 809 votos (46,87% da votação feminina). Não foi reeleita devido aos critérios de proporcionalidade. A segunda colocada entre as candidatas, Maria Helena, aparece na 29ª posição, com 204 votos. A professora Alba, terceira mulher mais bem votada, ficou em 35º lugar, com 115 votos. Ou seja, das 20 candidatas, apenas 3 aparecem entre os 50% mais bem votados. Entre os 11 candidatos que receberam menos de 20 votos, 6 mulheres, uma delas com zero voto.

Naquele ano, entre os 16.432 votos válidos para vereador, a soma de votos de todas as candidatas foi de apenas 1.726 (10,5%). Entre 2009 e 2012, Petrolândia não teve representante mulher na Câmara, entre os 9 vereadores.

Nas eleições de 2012, passou para 11 o número de vereadores em Petrolândia. O número de concorrentes também aumentou. Chegaram à disputa 83 candidatos, entre os quais 27 mulheres. As mulheres tiveram, assim, 32,53% de participação no pleito, superior à eleição anterior, mas o resultado foi decepcionante.

Entre os 18.124 votos para vereadores, apenas 1.790 (9,88%) foram para as mulheres. Dona Santa, mais uma vez a mais bem votada, recebeu 1.016 votos (56,76% da votação feminina) e obteve o 4º lugar no ranking de número de votos. Foi eleita, novamente é a única mulher na Câmara. A segunda mais bem votada, Paula Francinete, ficou em 35º lugar, com 158 votos. Além dessas, as outras candidatas que se enquadraram entre os 50% mais bem votados foram Hislaine Menezes (38º, com 110 votos) e Alzira (40º, com 108 votos).

Em 2012, entre os 22 candidatos que obtiveram menos de 20 votos, aparecem 16 mulheres, 6 delas com nenhum voto, o que comprova a fragilidade de candidaturas feitas para "fechar a cota" e não para legitimar a representação de gênero. Em comparação com 2008, o desempenho feminino de 2012 em Petrolândia foi mérito de Dona Santa, que alavancou de 4,57% para 5,24% sua votação de um pleito para outro.

À exceção do desempenho de Dona Santa, o resultado da ala feminina piorou - e muito - de um pleito para o outro. Em 2008, excluindo Dona Santa de nossa conta, sobraram 917 votos que, se divididos igualmente entre as demais 19 candidatas, cada uma teria 48 votos, em média.

Em 2012, excluída novamente a votação de Dona Santa, restaram 774 votos. Rateados igualmente entre as 26 outras candidatas, daria uma média de 30 votos para cada uma.

Compreende-ses que há um longo trabalho a ser feito neste setor. Mas nem tudo está perdido. Percebemos que há lideranças naturais na ala feminina, ainda inexploradas na política local. Na conferência, constatamos isso em relação a Fátima Belém, empreendedora, produtora cultural e articuladora social, atuante em segmentos representativos dos artesãos, empresários/comerciantes e piscicultores. Nunca a vimos fazendo política, mas Políticas ela produz incansavelmente todos os dias, e com um empenho e dedicação tão grandes que desenvolver articulações e projetos parecem ser vitais a ela, como é o ar para oxigenar o sangue. Exemplo de liderança feminina inspiradora, é o tipo de mulher que não se queda para reclamar e chorar diante das dificuldades, mas levanta a cabeça, sacode a poeira e vai atrás de soluções, onde quer que estejam.

Redação do Blog de Assis Ramalho
Fotos: Lúcia Xavier

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