sexta-feira, março 07, 2014

A polícia do pensamento

O direito de livre expressão, frente ao viés autoritário em ação no planeta

Do céu, tenho certeza que o escritor George Orwell, autor da obra 1984, deve estar atento aos movimentos e ações perpetradas aqui na Terra.

Recentemente, acessando o site da Globo, tive o desprazer de esbarrar com notícia advinda destes famigerados "reality shows", onde foi aberta discussão acerca das opiniões de um participante sobre relações homoafetivas.

No episódio citado, o envolvido se dizia incomodado com demonstrações de carinho explícitas capitaneadas por dois homens, manifestando sua repulsa quanto a cena em questão.

Assim, de forma bem sincera, o sujeito declarou que não gostaria de flagrar dois indivíduos se beijando, indicando que se o fizesse, daria meia volta e buscaria evitar observar o ato em curso.

Imediatamente, os reacionários de plantão, ávidos por levantar a bandeira da moralidade e do politicamente correto, resolveram se posicionar de forma contundente, repudiando e criticando o emissor dessa declaração.

Em linhas gerais, logo após a divulgação deste fato, milhares de mensagens atacando o participante do programa em questão, inundaram a rede mundial de computadores, fazendo rebuliço e causando destaque nas redes sociais.

Estupefato, fiquei confuso sobre as razões que motivaram esses ataques, já que na minha inocente visão, o participante estava apenas emitindo sua opinião sobre o caso, e em nenhum momento foi contrário a demonstração de homoafetividade.

Ao invés disto, o homem apenas declarou que em presenciando o fato, iria deixar o recinto respeitando o direito dos envolvidos na ação, de maneira absolutamente pacífica!
Re melius perpensa, num misto de espanto e sensação de "déjà vu", senti-me parte da obra escrita por George Orwell, 1984, percebendo claramente a atuação da famigerada polícia do pensamento, que almejando um estado de controle de opiniões, resolveu agir, movimentando milhares de agentes, todos em prol de uma causa, a qual seria criticar todos aqueles que são contra o pensamento predominante, segundo as escalas e interesses sociais e políticos.

Com o devido respeito a todos os companheiros em sociedade, sou um entusiasta no que tange o direito das minorias e excluídos, mas nesse caso, fui surpreendido com manifestação agressiva e exagerada, que impunha ao emissor da declaração efetuada, o dever de contrariar os seus próprios sentimentos, em prol daquilo que o Estado e a sociedade moderna preceituam.

Neste lanso, os militantes exaltados estavam impondo ao sujeito que ele aceitasse cordialmente o beijo de dois homens, sob pena inclusive de prisão, motivada pela suposta homofobia!

Senhores, se a correnteza seguir neste sentido, penso que tempos sombrios nos aguardam na próxima esquina, já que esta militância ávida por emanar ordens e homogeneizar comportamentos, agiu de maneira quase fascista, equiparando-se a "Schutzstaffel", ou a famigerada "Waffen-SS", temida polícia do estado nazista.

Indubitável é que o homem tem o direito constitucional de gostar ou não de determinada coisa, contudo, não é facultado a este sujeito o direito de agir com violência em caso de discordância, mas garantindo ao ser, sobremaneira, o pleno direito de discordar!

Desta forma, acredito que deve ser respaldado o direito de qualquer pessoa em se manifestar contrário a algo, contudo, impondo-lhe os limites legais sobre os seus gestos e pensamentos, e assim, devemos proteger qualquer um que se incomode com manifestações de carinho em público, sendo elas praticadas por casais homo ou heterossexuais, tanto quanto devemos respeitar os sujeitos que se acariciem em público, nos limites e condições impostas pela legislação, evitando agir somente impulsionados pelo que preceitua um dos lados da questão.

Verdade seja, estamos vivendo sob a ditadura de poucos, que buscando intimidar a todos, atuam de forma agressiva, com o escopo de limitar nossas manifestações e pensamentos, na intenção de condicionar o comportamento geral, sob o prisma de uma filosofia grupal, a qual não deve ser implementada coletivamente por pura e simples imposição de ideias!

É no mínimo contraditório que os defensores da diversidade, sejam os primeiros a atacar aquele que é diverso!

Ademais, sou a favor das relações de homoafetividade, mas sou contra o reacionarismo dos bons costumes, que objetivam pasteurizar condutas, sufocando a própria diversidade, em prol apenas de uma veia de pensamento.

Se estamos em tempos de abraçar o diverso, então que aceitemos visões divergentes, ou então estaremos entrando em um tempo que na prática, buscando defender nossa individualidade, passaremos a impô-la a todos, desconsiderando a natureza do companheiro ao nosso lado, delegando seu destino ao quarto 101, com o escopo de condicionar o seu proceder, em prol do direto dos excluídos e discriminados.

Um verdadeiro contrassenso ao meu modo de observar!

Ao ensejo da conclusão deste fiem, devo relatar que manifestações afetivas em público, se exageradas, me incomodariam de qualquer forma, sejam elas patrocinadas por casais hétero ou homoafetivos, simplesmente porque entendo que determinados locais não são propícios para determinadas ações.

Outrossim, a mera opinião contrária a um beijo homoafetivo, pode estar relacionada com outros fatores que não a homofobia, fatores estes ligados a criação, comportamento ou simples e singela visão particular do ser humano, que pode e deve ter seu direito de pensar preservado, ou na busca por um direito, estaremos suprimindo milhares de outros igualmente importantes.

Melhor seria que na defesa das diversidades, seguíssemos as palavras de Voltaire que certa vez disse: "Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo."

Viva a homoafetivadade, viva o careta, viva a vida, viva o respeito e um VIVA A TODAS AS DIFERENÇAS!

Fonte JusBrasil

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