quinta-feira, março 31, 2022

Advogado florestano LEONARDO FERRAZ GOMINHO toma posse na Academia Brasileira de letras e Artes do Cangaço


Cássia Ferraz Gominho e Leonardo Ferraz Gominho


O advogado florestano LEONARDO FERRAZ GOMINHO foi empossado como membro na Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço (ABLAC). 

O evento aconteceu no dia 25 de março/2022, na cidade baiana de Paulo Afonso, ocasião em que Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço aproveitou a ocasião para dar posse aos novos membros. Confira abaixo a íntegra do discurso do advogado florestano LEONARDO FERRAZ GOMINHO.

 DISCURSO DE LEONARDO FERRAZ GOMINHO, REPRESENTANDO OS DEMAIS ACADÊMICOS QUE TOMARAM POSSE NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E ARTES DO CANGAÇO (ABLAC) NO DIA 25/03/2022, NA CIDADE DE PAULO AFONSO/BA:

Ilustríssimo Sr. Presidente Archimedes Marques, muito digno presidente da Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço - ABLAC;

Ilustríssimo Sr. Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço, em nome de quem saúdo os demais componentes da mesa;
 
Prezadas confreiras e prezados confrades que, no dia de hoje, tomam posse nesta Academia e aos quais tenho a honra de representá-los: MEMBROS EFETIVOS Raul Meneleu Mascarenhas dos Santos, Adriano de Carvalho Duarte, Múcio Roberto Procópio de Araújo, Antônio Osmiro de Matos Neto, Afrânio Oliveira Alves e Emmanuel Conserva de Arruda; ACADÊMICOS CORRESPONDENTES Maria Otília Cabral Souza e Sulamita de Souza Buriti.
Meu caro confrade e poeta Osvaldo Abreu, a quem desde já transmito os agradecimentos dos acadêmicos recém-empossados por sua mensagem de acolhimento.
Prezadas confreiras e confrades;
Senhoras e senhores.

Há quinze dias recebi uma ligação do Presidente Archimedes.
Convidava a mim para, neste momento, dizer algumas palavras em nome dos confrades que, de forma solene, tomam posse nesta Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço.
Quando eu procurava me esquivar, o Presidente passou o telefone para a Secretaria da ABLAC e esta, sem perda de tempo, alterou a natureza jurídica do convite, transformando-o em ato decisório: já não era convite, era decisão, era convocação. A mim só restava atender.
Em sendo março o mês em que se comemora o dia da mulher, não me restou alternativa. Aqui estou, confreira Elane, a cumprir sua ordem.
Em outubro de 2020, logo após participar, ao lado do primo Cristiano Ferraz e do amigo Manoel Severo, de uma live do Cariri Cangaço (FLORESTA: TERRA DE BRAVOS), recebi honroso convite do presidente da ABLAC para ingressar nesta Academia.
A Instituição ainda não tinha completado seu primeiro ano de existência.
Na ocasião, tardei por dois ou três dias a dar a minha concordância. Entendia – e ainda penso assim – que pessoas bem mais qualificadas poderiam ocupar a cadeira que me era ofertada.
Mas, ao tomar conhecimento de que ainda havia várias cadeiras vagas e de que a ABLAC se encontrava em uma fase de consolidação, decidi por aceitar, emprestando meu nome e meus esforços no sentido de auxiliar esta entidade a cumprir sua finalidade, que é, em resumo, promover o estudo, a pesquisa e a divulgação do tema central – o cangaço – nas áreas da literatura, da música, da cultura, das artes plásticas e cênicas, porém evitando qualquer distorção em relação à compreensão do fenômeno.
Creio que os que, junto comigo, são hoje solenemente empossados, comungam com esse pensamento e tiveram propósitos, se não idênticos, com certeza semelhantes.
Lembro-me de que, por ocasião dos preparativos para a realização do primeiro Cariri Cangaço em Floresta, fui procurado por meu parente Manoel Serafim, de saudosa memória, o qual me convenceu a acolher e apoiar o evento depois que me fez perceber que seus integrantes são pessoas sérias, estudiosas do cangaço e que buscam a verdade, sem procurar elevar qualquer cangaceiro à categoria de herói, ao estilo Robin Hood, que roubava dos ricos para dar aos pobres, mas também sem deixar de reconhecer a inteligência, a sagacidade, o tino estratégico e bélico de muitos deles.
Nesta Academia, da qual já participo há um ano e cinco meses, desde cedo percebi em seus membros a mesma linha, a mesma compreensão do fenômeno do cangaço e sua relação com o meio em que prosperou.

Sobre esse meio, lembro que, já em 1883, ao apresentar e defender um projeto de criação de cadeiras de primeiras letras no município de Floresta, o deputado provincial Francisco Serafim de Souza Ferraz dizia:

“Os filhos do pobre não têm instrução, e o primeiro ofício que aprendem é trabituarem-se ao bacamarte, e para provar isso posso mostrar o mapa dos criminosos situados na Serra Negra.
A falta de instrução concorre para o crime.
O que se encontra ali são rapazes de 10, 12 e 16 anos já com a faca de ponta na cintura e o bacamarte e a cartucheira para mostrarem-se habilidosos, porque não têm em que se ocupar: na seca não podem trabalhar; no inverno trabalham n’um pequeno roçado, o que pouco tempo leva, e passam o resto da vida tratando de valentia, que é o gosto principal d’aqueles que não receberam outra instrução.
Os que não recebem nenhuma instrução vão munir-se da cartucheira e do bacamarte e reunir-se aos criminosos da Serra Negra, que são em número de 80 e tantos, tenho aqui o mapa”.

Por ocasião desse discurso, um deputado da capital perguntou se nos lugares onde havia cadeiras não se davam crimes. O deputado, meu parente, respondeu, brusco:

“Dão-se em menor escala. A instrução não faz desaparecer o crime, mas concorre para o bem-estar, e se não concorresse, então podíamos acabar com todas as cadeiras que existem, começando aqui pelas da capital”.

A instrução tardou a chegar ao sertão nordestino.
Em 1936, em discurso na Assembleia Legislativa de Pernambuco, o deputado Afonso Ferraz, também meu parente, abordando o problema do banditismo do Nordeste, defendeu não só o combate pela via convencional, a policial, mas também enfrentando os seus antecedentes históricos, levando-se a civilização ao sertanejo.
Interessante notar a visão míope de alguns deputados. Um deles, em aparte, perguntou se nos meios civilizados não haveria banditismo; e explicou que em Nova York existiam “gangsters”.
O deputado Afonso Ferraz preferiu responder de outra forma. Disse:

“A instalação de uma Escola Normal no Sertão, a construção de grupos escolares nas sedes dos municípios, a elevação do número de escolas existentes, a aprovação de leis que facilitem a distribuição da justiça, a localização do 3º Batalhão na zona das operações e boas estradas, são medidas que concorrerão para elevar o nível mental dos sertanejos, tornando-os refratários às ideias tendenciosas.
Essas medidas não devem ser mais proteladas.
Não tenho conhecimentos técnicos sobre o assunto. Entretanto, conheço perfeitamente o meio onde os bandidos exercem suas atividades e posso afirmar que a adoção das medidas preconizadas produzirá resultados satisfatórios”.

O fenômeno cangaço é complexo.
Com frequência vemos manifestações equivocadas – intencionais ou não – que devem ser combatidas, sob pena de termos uma história distorcida, uma não história.
Penso ser este um dos principais objetivos dos membros da ABLAC e tenho certeza de que, de forma especial, é nosso compromisso, de todos nós que ora somos acolhidos nesta instituição.
Muito obrigado.

Blog de Assis Ramalho
Informação: Marcelo Ferraz


Blog de Assis Ramalho
Informação: Marcelo Ferraz

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