sábado, janeiro 12, 2013

Centenário do nascimento de Rubem Braga, "pai" da crônica moderna, é comemorado hoje

Rubem Braga (12/01/1913-19/12/1990)
Rubem Braga era um homem que sabia da importância de, em meio a um dia de trabalho, simplesmente se decidir por seguir uma borboleta amarela. Possivelmente o maior nome das crônicas no Brasil, o autor capixaba nasceu em um 12 de janeiro como este há 100 anos, disposto a fazer do mundo e da escrita um lugar de passeio lento, distraído e atento ao mesmo tempo, enquanto todos os outros andam apressados. As epifanias, por menores que sejam, só acontecem com que se dá o direito a olhar a cidade, as pessoas, a paisagem e, claro, o próprio pensamento.

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De certa forma, ele foi um dos principais escritores a apresentar ao Brasil o próprio cotidiano lírico do País em suas crônicas. Nascido na pequena cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, Rubem Braga começou a trabalhar como jornalista aos 15 anos, já escrevendo suas primeiras crônicas. Seria, durante toda a vida, um raro caso não só de um escritor fiel a apenas um gênero, mas de um amante monogâmico dessa fusão lírica do jornalismo com a ficção.

Para o jornalista, escritor e crítico literário piauiense José Castello, Braga pode ser considerado uma espécie de “pai” da crônica moderna. “Ele não só ajudou a consolidá-la, mas meio que a inventou”, aponta, citando também os nomes de Carlos Drummond de Andrade, Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Otto Lara Resende. “Braga é o maior símbolo dessa crônica. Entre todos que escreveram, é o único que se dedicou exclusivamente a ela”, destaca o cronista de O Globo.

“Pode-se dizer ainda que ele foi um dos primeiros na sua geração a produzir crônica com mais lirismo, consolidando a linguagem literária nos seus textos. Com Braga, a crônica adquire maior feição de literatura”, defende o professor de Letras da Universidade Estadual de Londrina Luiz Carlos Santos Simon, autor do livro Duas ou três páginas despretensiosas: a crônica, Rubem Braga e outros cronistas.

Rubem Braga gostava de brincar com os limites do jornalismo e da escrita poética. Inspirado pelo lirismo da poesia Manuel Bandeira – costumava apontá-lo como maior influência para suas crônicas – nunca precisou dissociar a observação da vida social da escrita sensível. “É na simplicidade encantatória que Bandeira e Braga se aproximam, um em versos e o outro em prosa poética”, expõe Ana Karla Dubiela. Segundo ela, Braga foi até o fim da vida uma espécie de flâneur. “Dos seus 15 para os 77 anos, a diferença é a fonte das crônicas. Quando era jovem, ele ia mais à rua. Mais velho, ele flanava pela memória, através de antigas cartas, dos móveis da casa, de uma conversa com amigos”, aponta a pesquisadora.

Apesar de formado em Direito, Braga sempre atuou na escrita. Chegou a morar alguns meses no Recife em 1935, quando fundou o jornal Folha do Povo. Escreveu algumas crônicas em Pernambuco, mas sua passagem é mais marcada pelas amizades com Gilberto Freyre (foi, como lembra na crônica Recordações de Pernambuco, testemunha da prisão do sociólogo por atentado ao pudor), Capiba, Cícero Dias e Ascenso Ferreira, entre outros. Foi durante a estada em Pernambuco que declarou gostar do Nordeste por ser, antes de tudo, um lugar “rico de povo”.

Para Augusto Massi, professor da USP, poeta organizador da coletânea Retratos parisienses, com crônicas e entrevistas de Braga que sairá pela José Olympio, o autor capixaba coloca nos seus textos a experiência nacional da passagem da roça para a cidade e consolida nelas as principais conquistas modernistas – algo que vai bem além do mito de homem solitário e de poucas leituras que criaram para ele. “Num certo sentido, ele ajudou a modelar a língua brasileira atual, conferiu poesia ao cotidiano e soube valorizar aquelas coisas que a maioria das pessoas ainda considera desprezíveis e insignificantes. Rubem Braga é uma espécie de reserva ética. Suas crônicas tem caráter”, define Massi.

Para ler mais sobre o centenário de Rubem Braga, no Jornal do Commercio, clique no atalho.

Diogo Guedes
Jornal do Commercio
jconline.ne10.uol.com.br

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