quarta-feira, dezembro 05, 2012

Petrolândia: Pankararu - Perto do rio, longe da água

O periódico Notícias do São Francisco, jornal do CBHSF-Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, traz em sua edição nº 03, de novembro/2012, uma matéria sobre os Pankararu, povo indígena do Sertão de Itaparica. A reportagem fala sobre a situação crítica de acesso à água tratada. Reproduzimos abaixo a matéria na íntegra.
Terras Pankararu, com visão do reservatório da Usina de Itaparica, no submédio São Francisco
Pankararu: Perto do rio, longe da água 

A pouca distância do rio São Francisco, o povo indígena Pankararu vive uma situação crítica de falta de água para consumo humano. Praticamente sem fontes próprias de abastecimento, a população de mais de 5 mil pessoas está em regime de severo racionamento hídrico, valendo-se do atendimento emergencial oferecido pelas prefeituras dos município de Petrolândia, Jatobá e Tacaratu, em Pernambuco, por meio de carros-pipa que abastecem as cisternas das famílias.

A questão assumiu maior gravidade nos últimos meses, com o prolongamento da estiagem que atinge o Semiárido e a maior parte da bacia do rio São Francisco. No final de setembro, durante o II Seminário de Povos Indígenas da Bacia do Rio São Francisco, realizado em Petrolândia, essa foi a temática de maior repercussão, causando indignação nas lideranças indígenas da Bahia, Minas Gerais, Alagoas, Sergipe e Pernambuco.

Para ler a matéria completa, clique em "mais informações" abaixo.


O comunicador indígena Alexandre Pankararu calcula que 90% dos índios Pankararu estão sobrevivendo com carros-pipa. As exceções são duas comunidades, Carrapateira e Tapera, que têm água encanada, e algumas famílias de Brejo dos Padres, que canalizaram água da nascente. As demais contam apenas com um olho d’água, já que os riachos e as nascentes secaram. O quadro é mais preocupante na aldeia Lagoinha, onde falta até mesmo água para beber, e em Caldeirão e Saco dos Barros.

“Isso é revoltante, ainda mais considerando a proximidade do rio São Francisco. Estamos a apenas quatro quilômetros do rio e não temos água, e, no entanto, tem água para levar para o Ceará”, protesta Alexandre, referindo-se ao projeto de transposição. Ele explica que os Pankararu não podem bombear a água do São Francisco até suas terras, porque as margens estão ocupadas, e sequer o acesso é permitido: “O rio tem dono. A gente não pode botar bomba, bem mesmo tomar banho”.

Além do risco de desidratação, principalmente para crianças e idosos, a situação favorece a ocorrência de enfermidades, vez que a água disponível não é tratada, acarretando, portanto, risco de doenças de veiculação hídrica, como a diarreia, coléra e outras. As casas, conforme Alexandre Pankararu, dispõem de banheiros e vasos sanitários, mas quando falta água nas cisternas para abastecer as caixas d’água, duas pessoas dividem um balde 20 litros no banho.

Os Pankararu denunciaram no II Seminário de Povos Indígenas que há dois anos a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf iniciou a implantação de um sistema de abastecimento na área, mas somente foram concluídas as ligações em Carrapateira e Tapera. As obras foram paralisadas desde 2011. No documento conclusivo do evento, os participantes solicitaram ao Comitê do São Francisco que realizasse gestões junto à Codevasf para solucionar o problema.

Quatro dias depois, em 27 de setembro, o presidente e secretário executivo do Comitê, Anivaldo Miranda e José Maciel Nunes de Oliveira, estiveram pessoalmente na sede da Codevasf, em Brasília, onde relataram a situação aos dirigentes do órgão,solicitando providências no sentido de agilizar a conclusão das obras.

A origem
Os estudos sobre os Pankararu relatam que eles são parte dos “índios do sertão”, ou Tapuia. Expulsos do litoral pela expansão dos Tupi e encontrando a oposição dos Jê a oeste, se estabeleceram no Submédio São Francisco.

Os primeiros contatos com não-indígenas aconteceram no século XVII, com os missionários da congregação de São Felipe Nery, que vindo da Bahia criaram um aldeamento em Pernambuco, próximo ao rio São Francisco, no lugar que ficou conhecido como Brejo dos Padres.

A sua territorialidade ia desde a cachoeira de Paulo Afonso até a cachoeira de itaparica, onde enterravam seus mortos. A memória oral do povo Pankararu registra que receberam do Imperador Pedro II a doação de um território de quatro léguas em quadra, que abrangia mais de 14 mil hectares. No final dos anos 1980 eles tiveram parte das terras inundadas pelas águas do reservatório da barragem de Itaparica, sendo relocados para as áreas atuais.

Para ler o Jornal CBHSF Notícias do São Francisco, edição nº 03 (novembro/2012), clique na imagem abaixo. Clicando na palavra EXPAND a imagem será apresentada em tamanho grande.

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (cbhsaofrancisco.org.br)
Fonte: Jornal do CBHSF Notícias do São Francisco, edição nº 03 - novembro/12, Pág. 03

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