Um casmurro amigo meu, homem reservado, bastante esclarecido, de barbas e cabelos grisalhos, vingando as cãs de seus antepassados, em virtude da grave crise econômica que motivou o desemprego e as dificuldades que agora assolam o país, para sobreviver a essa tormenta conjuntural, tornou-se pintor de paredes, e nem por isso sente-se diminuído, muito pelo contrário.
Sem maldizer a vida, contou-me que uma jovem irlandesa, de olhos azuis como o céu, muito educada e bonita, poliglota, versada em Português, esposa do filho dele, ao chegar aqui no Brasil e ter vindo visitá-lo pela primeira vez nesse acampamento de Itaparica em 2012, até hoje sob a égide da administração da CHESF, ficara deslumbrada com a largura das ruas asfaltadas, os arvoredos arborizados, os longos canteiros gramados, os jardins floridos, o plácido arvoredo preservado, os bosques ladeados por bromélias e orquídeas; e, ainda, a espetacular infraestrutura com escola rural, mini-shopping, supermercado, igrejas e clube, hospital, e até agência bancária.
Ao ver bodes, cabras, cabritos, ovelhas e borregos, cavalos e burros, cachorros engatados, jumentos copulando sem pejo, a céu aberto; vacas e touros pastando soltos nos finais de semana, devorando a grama verde ainda orvalhada pela brisa da noite, e outros animais de grande porte desfilando sossegados, expurgando sobre as calçadas e vias públicas os seus excrementos fecais, teve a impressão que estava diante de uma grande fazenda com seus estábulos, uma fazenda-modelo, com qualidade de vida superior a qualquer fazenda de país de primeiro mundo. Foi “o naufrágio da ilusão”, do ledo engano. O sogro dela morava em um bairro residencial administrado pela CHESF que, apesar de saber que existe lei que proíbe animais soltos nas ruas, é omissa!
Mas isso não foi tudo. Tal foi o espanto da irlandesa ao voltar agora em 2014, para assistir ao espetáculo da Copa do Mundo no Brasil, e vir novamente visitar o sogro em Itaparica, não pela derrota da seleção brasileira, que perdeu de 7x1 para a Alemanha, mas pelo fato de ter se deparado com o que viu aqui: toda aquela BELEZA de antes, fenecida... as árvores mortas ressequidas, mirradas, tombadas, fatiadas ao lado dos tocos; a terra nua e ocre dos canteiros sepultados; a grave degradação do meio ambiente. Diante do que viu, não se conteve e chorou!
Talvez que para tanta indignação não bastasse o que viu, disse a jovem civilizada: - deploro essa tristeza, esse banzo sepulcral, essa falta de sensibilidade, essa ausência de civilidade... e alongou-se dizendo: lastimo, os gestores daqui são mesmo umas nulidades. A esperança é a educação; a ponte que transcende as outras pontes. Contudo, talvez para mudar este estado baste o voto.
Antonio Francisco de Lima.
Jatobá (PE), 21 de setembro de 2015.
Fotos: Antonio Francisco de Lima