
O rio Paracatu, um dos principais afluentes do Velho Chico, está enfrentando uma seca sem precedentes. Além da falta de chuvas, a devastação ambiental e a exploração sem controle dos recursos compõem o enredo da maior crise hídrica da região
Traduzindo do idioma original, o tupi, Paracatu significa “rio bom”. Mineiro de nascença, adentrando um pedaço de Goiás e do Distrito Federal, ele, “o rio bom”, conta um passado caudaloso. Corria navegável por uns 300 quilômetros e seguia entrecortado por corredeiras e cachoeiras, até desaguar abundante no Velho Chico, com o status de maior afluente do São Francisco. A riqueza do Paracatu já foi tanta que ele protagonizou um dos clássicos do cinema nacional, “A terceira margem do rio”, de Nelson Pereira dos Santos, baseado no conto homônimo de Guimarães Rosa. O presente, porém, é outra história. O rio Paracatu minguou.
A seca é sem precedentes, afetando severamente o abastecimento de água nas cidades da bacia e as atividades econômicas da região, sobretudo a mineração e a agropecuária. Em Paracatu, município mais populoso da bacia, desde 1º de setembro o abastecimento é complementado por caminhões-pipa, com rodízio na distribuição entre os bairros. A falta de chuva na região sudeste do Brasil, especialmente nos últimos cinco anos, poderia ser apontada como o fator causador da crise hídrica, mas, segundo o secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu, Antônio Eustáquio Vieira, o Tonhão, o problema não caiu – ou deixou de cair – do céu. A Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu está inserida no bioma Cerrado, em uma área equivalente a 420 mil campos de futebol, sendo que 300 mil são de áreas desmatadas.
“Nós não temos mais a vegetação que tínhamos no passado e, sem ela, não se tem água infiltrando no subsolo para alimentar as nascentes”, comentou Tonhão. “Outro problema são os inúmeros poços artesianos, que rebaixam ainda mais o lençol [freático], e usuários que, mesmo tendo autorização para usar certa quantidade de água, usam muitas vezes mais”.