terça-feira, junho 07, 2016

Pesquisador do IPA fala sobre as pesquisas para a cultura de inhame

Pernambuco é o segundo maior produtor de inhame do Brasil. Saiba mais sobre a cultura.

O Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) desenvolve pesquisas sobre a cultura de inhame desde o começo da década de 90, na Estação Experimental de Itapirema, no município de Goiana. A cultura é de grande importância para a economia da Zona da Mata. Atualmente, o IPA mantém uma coleção com 18 acessos,pertencente ao gênero Dioscorea, onde se incluí: Dioscorea cayennensis, Dioscorea rotundata e Dioscorea alata. Pernambuco é o segundo maior produtor de inhame do País, com 25 mil toneladas/ano, de um total de 230 mil toneladas produzidos anualmente.

O pesquisador do IPA, Almir Dias, coordena as ações, voltadas para o melhoramento genético da cultura e trabalhos de aprimoramento de adubação , fertilidade do solo, práticas culturais, e na condução da cultura, por meio de tutoramento por arame. Engenheiro Agrônomo, formado pela UFRPE, Dias é mestre em Fitomelhoramento pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em melhoramento de planta (YUCA) pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), em Cali, Colômbia. Em entrevista ao Núcleo de Comunicação do IPA, ele detalhou o assunto.

NUC - Qual a importância da cultura do inhame para o Estado de Pernambuco?

Almir
- O inhame é uma monocotiledônea tropical, perfeitamente adaptada às condições edafo-climáticas de algumas regiões do Estado de Pernambuco, principalmente a Zona da Mata, onde vem se destacando como um dos segmentos mais rentáveis do setor agrícola estadual. O valor econômico da cultura está representado pelas raízes tuberosas, que variam em média de 1 a 5 Kg, possuindo um ótimo sabor e excelentes qualidades culinárias e alimentares, além de apresentar enorme aceitação por parte de produtores e consumidores.

Ao longo das últimas décadas, o inhame passou a ser encarado como atividade econômica que propicia bons retornos, pois apesar de ser um cultivo de considerável custo de implantação, esta cultura oferece excelente perspectiva de retorno financeiro aos que lidam com a mesma. Além disso, desempenha importante papel social na economia do Estado, quando garante o sustento por boa parte do ano da população que desenvolve atividades agrícolas na Região da Mata do Estado.

Que trabalhos o IPA vem desenvolvendo com a cultura do inhame? 

Almir - Recentemente, o IPA realizou trabalhos no que diz respeito à adubação química e orgânica do inhame em solos de tabuleiros, tendo também testado o método de obtenção de túberas-sementes através do método de fracionamento de túberas (micro-túberas ou micro-seções). Também foi testado a substituição dos tutores convencionais de varas por arames esticados sobre estacas, sendo comprovada sua viabilidade prática e econômica.

O grande entrave, entretanto, continua sendo a pouca variabilidade genética das variedades de inhame em uso pelos agricultores, as quais são extremamente susceptíveis a doenças como a pinta preta causada pelo Curvularia spp e ataques de nematóides, tanto o Meloidogyne como o Scutellonema. Os trabalhos do IPA têm visado, principalmente, a precocidade na colheita, qualidade das túberas, alto teor de matéria seca e incremento e/ou manutenção de suas altas qualidades culinárias.

NUC - Qual a origem do inhame?

Almir
- O inhame, também conhecido como cará-da-costa (Dioscoreacayenensis), é uma planta de origem africana, sendo cultivado no mundo inteiro por se tratar de um alimento energético e de alto valor nutritivo. Como pode ser cultivado? Essa cultura pode ser cultivada nas regiões tropicais com precipitação em torno de 1.000 a 1.600mm anuais ou sob regime de irrigação. Pode ser cultivado em diversos tipos de solos, desde aqueles com textura arenosa até os de textura argilosa-média, profundos, bem drenados, arejados e com o pH entre 5,5 a 6,0.

As amostras devem ser coletadas, percorrendo-se toda a área em “zigue-zague” e observando-se a textura e a coloração do solo, pois caso estas sejam diferentes, torna-se necessário realizar a coleta dos solos das respectivas áreas, separadamente.Caso a análise do solo indique a necessidade da aplicação de calcário, a sua distribuição deve ser feita dois a três meses antes do plantio, devido a sua baixa solubilidade.

NUC - Qual a melhor época para plantio?

Almir
- Quando o cultivo é feito em condições de sequeiro, o inhame deve ser plantado no início das chuvas, e quando em regime de irrigação, a melhor época é aquela em que a colheita coincide com o período da entressafra do inhame.
Como escolher e qual a quantidade de sementes devemos usar no plantio?

Para o plantio de um hectare usam-se entre 150 a 250 arrobas de semente, ou seja, de 2.250 a 3.750 quilos. Em plantios de sequeiro são mais recomendados os espaçamentos de 1,20 x 0,80m (10.417 plantas por hectare) ou 1,00 x 0,80m (12.500 plantas/ha) e em plantios irrigados os espaçamentos mais recomendados são 1,20 x 0,50m (16.667 plantas/ha) ou 1,20 x 0,60m (13.889 plantas/ha).Antes do plantio, deve-se selecionar as sementes, escolhendo-se sempre as maduras, com 30 a 60 dias de repouso fisiológico, sadias e sem sintomas de ataque de doenças como a casca-preta, cabeleira e podridão-verde.

NUC - E as túberas-sementes?

Almir
- A semente do inhame pode ser plantada inteira ou partida; se partida, deve-se ter o cuidado de separar a cabeça, o meio e a ponta, a fim de evitar a desigualdade na brotação.

NUC - E quanto ao plantio?

Almir
- O plantio pode ser feito em cova alta (matumbo) e em leirão ou camalhão, utilizando-se sementes inteiras ou partidas. O solo deve ser frouxo e profundo para propiciar um bom desenvolvimento das tuberas.

NUC - Qual a finalidade da cobertura morta?

Almir
- A prática da cobertura morta, válida apenas para cultivo de sequeiro, tem por finalidade manter a umidade do solo, proteger as túberas-sementes da influência dos raios solares e do calor excessivo, oferecendo, consequentemente, melhores condições para o desenvolvimento da lavoura. A adubação orgânica é feita utilizando-se antes do plantio, aproximadamente, um litro de esterco de curral bem curtido por cova. A adubação química é feita mediante recomendação da análise de fertilidade do solo.

NUC - Quais os tipos de tutoramento recomendados para a cultura do inhame?

Almir
- As plantas do inhame são tutoradas individualmente com varas de 1,20 a 1,50m de altura, colocadas ao lado da planta no momento do plantio ou por ocasião da emissão dos brotos. Podem também ser usados no tutoramento os fios de arames lisos, números 12 ou 14, estendidos entre uma estaca e outra, distando uma da outra de seis a oito metros, sendo as plantas orientadas por meio de barbante até o arame.

NUC - O que é capação? 

Almir - É uma técnica muito comum utilizada na produção de túberas-sementes de inhame e consiste em separar a túbera da planta-mãe para facilitar a formação das túberas-sementes. É feita quando a planta estiver com as flores secas e idade entre seis e sete meses.

NUC - Quando colher a túbera do inhame?

Almir
- O inhame deve ser colhido quando amadurecido, aproximadamente, aos 180 dias após o plantio. O amadurecimento do inhame pode ser constatado pela seca das flores e pelo amarelecimento das folhas. A operação é feita cavando-se lateralmente as covas ou camalhões e, cuidadosamente, descobrindo-se a túbera comercial, separando-a da planta-mãe através de um corte, exatamente no ponto de ligamento com a parte aérea. Um homem colhe entre 800 e 1.200 túberas por dia. Seguindo-se estas recomendações e as condições climáticas apresentando-se favoráveis, a produção de túberas comerciais poderá alcançar as médias de 20 a 25 toneladas por hectare. Utilizando-se os sistemas de cultivo tradicionais, a produtividade fica entre 9 a 12 toneladas por hectare.

NUC - Quais as formas de uso do inhame?

Almir
- Além das diversas utilizações na alimentação humana e animal, o inhame possui excelentes propriedades medicinais, sendo algumas espécies cultivadas com finalidades farmacológicas visando à obtenção de materiais para a síntese da cortisona e hormônios esteróides.

NUC - Quais as pragas e doenças mais importantes da cultura do inhame e como controlá-las? 

 Almir - A primeira delas é a formiga de roça (cortadeira), que pode ser controlada através de iscas formicidas ou aplicando-se o formicida diretamente no formigueiro. É recomendado o uso de formicidas líquidos no inverno e em pó ou em forma de iscas granuladas, no verão. Também enfretamos a lagarta da folhagem, cujo controle deve ser efetuado com inseticidas piretróides (Decis ou Karatê), logo após o aparecimento da praga. O controle do broca do caule deve ser realizado com os inseticidas Carbaryl na base de 200-250g do produto comercial para 100 litros de água ou Deltamethrin na base de 25-50ml do produto comercial para 100 litros de água.

A pinta-preta ou queima das folhas deve ser controlada preventivamente, a partir do 3º ou 4º mês, com Dithane M45, Folicur, ou Bayfidan, na dosagem recomendada pelo fabricante, de oito em oito dias. Por sua vez, a casca-preta é causada pelo nematóide Scutellonema, recomenda-se evitar o uso de semente atacada, pois pode aumentar a incidência da doença de ano para ano; usar rotação de cultura em áreas afetadas, substituindo o inhame por milho ou sorgo ou deixar a terra descansar por dois ou três anos. Existe ainda a cabeleira, causada pelo nematóide Melodoigyne, devendo-se seguir a recomendação anterior.

NUC - Que cuidados devem ser adotados ao se armazenar as túberas?

Almir
- Deve-se evitar o seu empilhamento e distribuí-las em camadas pouco adensadas. O armazenamento constitui uma prática importante para a boa conservação do produto, devendo-se escolher lugares frescos e arejados à sombra, pois o excesso de umidade, vento, luz solar, frio e calor, podem causar danos à conservação dos tubérculos.

Fonte: Núcleo de Comunicação (NUC) do IPA

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