07 julho 2025

Trump defende Bolsonaro e chama julgamento de 'caça às bruxas'

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. — Foto: Divulgação/Casa Branca

Por Jamil Chade, Colunista do UOL, em Nova York

Numa primeira manifestação explícita de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro desde que a reassumiu a Casa Branca, Donald Trump foi às redes sociais para criticar uma suposta "caça às bruxas" de autoridades brasileiras contra o capitão da reserva.

"O Brasil está agindo de forma terrível no tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Eu observei, assim como o mundo, como eles não fizeram nada além de persegui-lo, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano! Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo POVO. Conheci Jair Bolsonaro, e ele era um líder forte, que realmente amava seu país - além disso, um negociador muito duro no comércio.

. Sua eleição foi muito acirrada e, agora, ele está liderando as pesquisas. Isso não é nada mais, nada menos, do que um ataque a um oponente político", disse.

"Algo que eu sei muito sobre isso! Isso aconteceu comigo, 10 vezes, e agora nosso país é o "MAIS QUENTE" do mundo! O grande povo do Brasil não vai tolerar o que estão fazendo com seu ex-presidente. Estarei acompanhando de perto a Caça às Bruxas de Jair Bolsonaro, sua família e milhares de seus apoiadores. O único julgamento que deveria estar acontecendo é o julgamento pelos eleitores do Brasil - isso se chama Eleição.".

Ingerência em eleição de 2026 e possibilidade de convocar embaixadora
A declaração de Trump não veio com uma sanção, como esperavam os bolsonaristas. Por meses, Eduardo Bolsonaro e parlamentares fizeram visitas aos gabinetes de aliados de Trump, na esperança de convencer a base mais radical dos republicanos a agir contra as autoridades brasileiras.

O máximo que conseguiram, até agora, foi uma decisão por parte do governo de Trump de vetar a concessão de vistos para autoridades que "ataquem a liberdade de expressão". Mas não há nenhuma implicação imediata que possa afetar os processos conduzidos pelo STF no Brasil.

Ainda assim, a declaração de Trump foi considerada dentro do Itamaraty como um sinal de alerta do que pode ocorrer, caso o destino do ex-presidente não agrade ao movimento de extrema direita nos EUA. O gesto também foi visto por uma ala do Palácio do Planalto como uma sugestão de que o americano irá promover uma ingerência direta na eleição no Brasil em 2026.

O UOL apurou que o governo brasileiro poderá convocar de volta sua embaixadora de Washington DC caso Donald Trump adote medidas e sanções de amplo impacto contra o STF (Supremo Tribunal Federal), seus ministros e outras autoridades.

O cenário faz parte dos instrumentos que o Palácio do Planalto considera aplicar, numa atitude para demonstrar repúdio ao eventual ato de Trump e que será considerado um ataque às instituições da república.

Na semana passada, o STF consolidou uma posição que implica responsabilidades para que as plataformas atuem contra a disseminação de postagens criminosas ou anti-democráticas. Fontes do alto escalão em Brasília não descartam que, depois da decisão do STF, as empresas do setor façam pressão por ações.

Na praxe diplomática, um país convoca seu embaixador de volta para a capital quando quer demonstrar a insatisfação com a atitude do outro governo. O gesto marca uma ruptura e uma mensagem de que não irá tolerar a decisão por parte da Casa Branca.

Ao UOL, três fontes de alto escalão em Brasília indicaram que a opção por convocar a embaixadora Maria Luiza Viotti é um dos caminhos avaliados. Não se trata de uma retirada completa da diplomata de Washington, mas um recado político por parte do Brasil.

A decisão final vai depender da magnitude da eventual decisão americana. O que o governo não quer, porém, é "gastar todos seus cartuchos" caso as supostas sanções sejam insignificantes ou apenas um teatro por parte da Casa Branca para atender ao movimento de extrema direita no Brasil.

O que o governo Lula insiste é que a resposta será "política". Brasília já mandou mensagens aos americanos de quais são suas "linhas vermelhas" e que atitudes por parte de Trump que atravessem esses limites serão alvos de respostas.

O entorno de Lula admite que vê a situação das redes sociais como uma "potencial área de conflito" com os EUA.

O Brasil também admite que existe uma "preocupação" em relação à ingerência externa nas eleições. Para membros do governo, a questão é "potencialmente um tema de conflito" com os EUA, principalmente em 2026.

Se aplicada, a sanção seria inédita na relação entre os dois países e não foi adotada nem mesmo durante a ditadura militar, enquanto generais e membros do governo torturavam e matavam.

O governo brasileiro, porém, considera que as audiências públicas no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mandaram um recado de que a Justiça no país é transparente e que, portanto, não haveria motivo para um ataque.

Jamil Chade, Colunista do UOL, em Nova York

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