25 julho 2025

Quem é o general que assumiu autoria do plano para matar Lula e Moraes

Reprodução/Youtube

Por O Globo — Rio de Janeiro

Ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro, o general da reserva Mário Fernandes é apontado na denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) como um dos líderes mais radicais na articulação do suposto plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre Moraes. Em interrogatório nesta quinta-feira, no STF, o militar admitiu ser o autor do documento que ficou conhecido como “Plano Punhal Verde e Amarelo” — texto que, segundo a Polícia Federal, traçava cenários para o homicídio das três autoridades públicas.

Fernandes é réu no processo que trata do chamado “núcleo 2” da tentativa de golpe de Estado, e falou pela primeira vez desde que foi preso, em novembro do ano passado. Na ocasião, minimizou o conteúdo encontrado em seus dispositivos eletrônicos e disse que se tratava de uma análise individual, feita por hábito pessoal.

— Esse arquivo digital, que retrata um pensamento meu que foi digitalizado, é um estudo de situação. Uma análise de riscos que fiz e, por costume próprio, resolvi digitalizar. Esse pensamento digitalizado não foi compartilhado com ninguém — afirmou o general.

Ao longo do depoimento, Fernandes tentou afastar a ideia de que o plano tivesse objetivo prático. Disse que o material foi impresso apenas para leitura pessoal e que logo em seguida o rasgou.

— Imprimi por um costume pessoal de evitar ler documentos na tela. Imprimi para mim. Logo depois, rasguei — disse.

Apesar da tentativa de despolitizar o documento, o conteúdo apreendido pela PF descreve estratégias para ataques a autoridades públicas e embasa parte da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República no processo principal da tentativa de golpe.

'Punhal Verde e Amarelo'

O "Punhal Verde e Amarelo" foi impresso por Fernandes no Palácio do Planalto e previa, após os assassinatos, a instituição do "Gabinete Institucional de Gestão da Crise", que deveria ser ativado em 16 de dezembro de 2022. Caberia ao próprio general da reserva ser o assessor estratégico neste gabinete que passaria a funcionar após a execução do plano.

"Se trata, de fato, de um dos militares mais radicais que integrava o mencionado núcleo militar, fato que foi ressaltado pelo colaborador Mauro César Barbosa Cid em seu acordo de colaboração premiada”, diz o relatório da PF.

Fernandes era secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência quando imprimiu, no Palácio do Planalto, o planejamento operacional do golpe. Segundo a PF, era ele quem organizava a operação para monitorar Moraes. De acordo com o Portal da Transparência, Fernandes tinha em 2022 cargo comissionado executivo “11.8”, o que corresponde atualmente a um salário de R$ 18.887. Além disso, ele é militar da reserva desde 2020. A remuneração militar bruta dele de agosto desse ano foi de R$ 33.223

Ele foi também assessor do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro de Bolsonaro. Em nota, Pazuello afirmou que Fernandes "trabalhou em seu gabinete como assessor de 28 de março de 2023 a 04 de março de 2024, quando foi identificado seu impedimento para exercer o cargo".

Em reunião anterior às eleições de 2022, com a presença do então presidente Jair Bolsonaro e outros integrantes do primeiro escalão do governo, Fernandes defendeu a necessidade de tomar medidas antes das eleições, questionando se seria necessário um novo golpe, como o de 1964. A PF identificou também a presença dele em manifestações que pregavam a ruptura democrática após a derrota de Bolsonaro para Lula.

"As informações obtidas indicam que Mário Fernandes atuou no planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos, inclusive com registros de frequência ao acampamento montado nas adjacências do Quartel General do Exército e, ainda, de relação direta com manifestantes radicais que atuaram no período pós-eleições de 2022”, diz a PF.

O general teria ainda falado diretamente com Bolsonaro sobre sua preocupação dos atos golpistas estarem perdendo a força

"No dia 08 de dezembro de 2022, Fernandes indica ter conversado pessoalmente com o então presidente Jair Bolsonaro. Além disso, mostra grande preocupação com os movimentos antidemocráticos que estavam nas ruas, principalmente com a possibilidade de perder o controle sobre a massa de pessoas envolvidas nas manifestações”, diz a PF

Fernandes também tinha linha direta com o general Luiz Eduardo Ramos, ex-chefe da Casa Civil. Há registros de áudios enviados por Fernandes a ele entre os dias 15 e 16 de dezembro. No primeiro, ele pede que Ramos “blinde o presidente [Bolsonaro]” contra qualquer desestímulo. Já mais para o final de dezembro daquele ano, Fernandes parecia frustrado com as Forças Armadas, segundo a PF.

Fernandes é filho de militar e de professora. Ele nasceu em Brasília (DF) e entrou para o Exército Brasileiro em 26 de fevereiro de 1983, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Assim como Bolsonaro, ele também é paraquedista. Segundo informações divulgadas pelo Exército, ele é doutor em ciência e arte da guerra na Escola de Comando e Estado- Maior e já recebeu diversas condecorações da corporação.

Por O Globo — Rio de Janeiro

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