25 julho 2025

Corpo de Preta Gil será cremado às 14h no RJ; o que dizem as religiões de matriz africana

Preta Maria Gadelha Gil Moreira Crédito: Reprodução

Ana Beatriz Sousa - Correio da Bahia

Preta Gil será velada nesta sexta-feira (25), das 9h às 13h, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, lugar simbólico escolhido para a despedida pública da artista, que morreu no último domingo (20), aos 50 anos, vítima de um câncer no intestino. Em seguida, o corpo será cremado em cerimônia reservada à família e amigos próximos, às 14h, no Cemitério da Penitência, no bairro do Caju/RJ.

A decisão pela cremação, um pedido feito por ela ainda em vida, surpreendeu parte do público, especialmente por Preta Gil ser conhecida por sua ligação com o candomblé. A dúvida que surgiu para muitos: “Cremar é permitido dentro das religiões de matriz africana?”

Preta Gil nunca se limitou a uma única tradição religiosa. Ao longo da vida, ela transitou entre o candomblé, o catolicismo (era devota de Nossa Senhora Aparecida), e práticas espirituais diversas. Era comum vê-la vestindo branco às sextas-feiras, carregando guias de Oxalá, frequentando terreiros e ao mesmo tempo usando água benta e expressando respeito por todas as manifestações de fé.

Essa vivência espiritual múltipla refletia sua personalidade aberta: Preta valorizava amor, união e tolerância entre as crenças. Para ela, espiritualidade era acolhimento e conexão.

Cremação no candomblé: é proibida?

Nas tradições afro-brasileiras, como o candomblé, há um valor simbólico forte na devolução do corpo à terra. Segundo a religião, Nanã entregou a Oxalá o barro com o qual os humanos foram moldados, e por isso, o sepultamento costuma ser preferido. A terra representa o ciclo da vida e a reconexão com os orixás, especialmente Obaluaiê, ligado à cura, morte e à renovação.

No entanto, isso não significa que a cremação seja proibida. De acordo com o babalorixá Rodney William, em entrevista ao Mundo Negro, não existe uma regra rígida que impeça a cremação. As práticas variam entre as diferentes nações e casas de santo. "Cabe à família e à vontade da pessoa. Não há uma proibição formal no candomblé", afirmou.

Em entrevista recente à revista Quem, Pai Celinho, babalorixá ligado à trajetória espiritual de Preta Gil, contou que ela foi cuidada em vida de forma especial. A primeira obrigação de santo da artista foi realizada no tradicional terreiro do Gantois, em Salvador, aos 15 anos.

Pai Celinho D'Omolu e Preta Gil Crédito: Reprodução/Instagram

“Ela era filha de Oxum. Não foi iniciada formalmente, mas isso não tira sua ligação espiritual”, explicou. Para ele, a escolha pela cremação não diminui o valor da transição espiritual, "Uma pessoa que teve todo esse processo, essa pessoa está evoluindo. O espírito dessa pessoa está evoluindo. Ela entra num processo de evolução muito rápido, principalmente por ter sido uma doença terminal. Então, ela está muito bem neste momento".

Ana Beatriz Sousa - Correio da Bahia

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