quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Empresário argentino nega sequestro e grava vídeo com apelo do filho

Pai levou o menino desde o ano passado após as festas de fim de ano. Mãe denunciou ex-marido e pediu a intervenção da PF e Interpol para localizá-lo.

O empresário argentino Carlos Attias, 53 anos, acusado pela ex-mulher Cláudia Boudoux, 39, de sequestrar um dos filhos, quebrou o silêncio. Em e-mail enviado ao G1, ele apresentou, pela primeira vez, sua versão para o caso, que ganhou repercussão nacional no início deste ano, negando a prática de qualquer crime. Na carta, criticou o Poder Judiciário e anexou um vídeo com apelo contundente feito pelo menino, de 8 anos.

Em 45 segundos de gravação, a criança é enfática. Trata a mãe como responsável por maus-tratos e afirma: “Não posso acreditar em tanta mentira. Meu pai não me sequestrou. Eu que pedi a ele para me proteger de você. Você me batia e me chantageava. Eu pedi a várias pessoas para não morar mais com você.”

Nascido na Argentina, o menino tem um leve sotaque estrangeiro. No vídeo, fala com muita desenvoltura, embora deixe claro ter sido instruído por um adulto. Fala palavras como “chantagear” e “desembargador” e olha sempre para o lado, como se estivesse sendo orientado a proferir certas expressões. No fim do pequeno filme, a criança dispara: “Eu não quero ficar com você. Será que você não pode entender isso?”

Além do vídeo, Attias enviou, por correio eletrônico, um texto incisivo contra o que chamou de “absurdos” do caso. No início da carta, ele apresentou as justificativas para tê-la escrito. “Tenho uma boa razão para fazer isso: os verdadeiros destinatários são os homens do Poder Judiciário que deveriam ser os encarregados de administrar a justiça e zelar pelo interesse supremo das pessoas em risco, como meus filhos".

Carlos Attias informa que tudo começou quando as crianças denunciaram a mãe por casos de violência e agressões morais e físicas. “Eles falaram disso para a psicóloga do colégio e para as advogadas. Logo, por indicação profissional, foram ouvidos por uma psicóloga particular. Prestaram depoimento na Delegacia da Criança e do Adolescente, por duas vezes. Foram até o IML (Instituto de Medicina Legal) para verificar as lesões. Foram ouvidos por assistentes sociais do Judiciário, por psicólogas do Judiciário. Por juízes e desembargadores….”

O argentino fez duras críticas a autoridades do Judiciário. Declarou que por determinação de um desembargador do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) os meninos “deram” mais uma chance e voltaram a morar com a mãe. Em seguida, Attias apontou “problemas” na condução do caso, que corre sob sigilo de Justiça.

“Um desembargador, que jamais tinha ouvido o meu filho, mandou ele ficar com a mãe e com a avó. E privou a criança de morar comigo, deixando ele sem custódia e somente ser visitado por mim aos domingos, das 10h às 18h, mudando a visitação e me tirando a guarda compartilhada sem que isso tivesse sido feito por meio de um processo judicial .”

Carlos Attias se referiu a um trágico caso de repercussão nacional e fez um alerta: “Meu filho tem pânico de converter-se em um novo menino Bernardo, morto do Rio Grande do Sul (Com suspeita de envolvimento do pai e da madrasta). Por isso, com muito medo a ser pego e levado pela força, me pediu para gravar uma mensagem para a mãe, com o intuito de ser difundido publicamente, pedindo que ela pare com tudo isto.”

Por fim, o argentino apresentou a versão para o suposto sequestro: “Não sequestrei e nunca maltratei o meu filho, como diz a mãe. Foi ela que durante dois anos e meio impediu todo contato deles comigo e com a minha família, até que a Justiça finalmente imperou e conseguimos, meus filhos e eu, voltar a ter o vínculo que nunca deveríamos ter perdido. Nesse período, a mãe, igual que agora, falou para eles que eu tinha ido para Argentina e abandonado eles".

Diante das denúncias feitas pelo empresário argentino Carlos Attias, por meio da carta enviada ao G1, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) explicou que dois desembargadores se envolveram no caso.

Agenor Lima Filho era responsável pelo plantão judiciário quando o empresário argentino e a ex-mulher, a fisioterapeuta Cláudia Boudoux, começaram a travar a briga judicial pela guarda das crianças. Por isso, Lima Filho limitou-se a informar que não poderia falar sobre o caso.

O desembargador Bartolomeu Bueno recebeu o caso e informou que durante o plantão foi feito um acordo provisório entre as duas partes. Ao avaliar a situação, o desembargador justificou ter tomado uma decisão preliminar, assegurando a guarda das crianças para a fisioterapeuta Cláudia Boudoux.

Sem entrar em detalhes, por causa do segredo de Justiça, Bueno acrescentou que o sua decisão teve caráter provisório. Alegou que o futuro das crianças ainda será definido pelo Judiciário de Pernambuco. “O caso vai tramitar de forma natural e todas as partes serão ouvidas.” O G1 entrou em contato com a Polícia Federal e aguarda as respostas.

Entenda o caso
O caso envolvendo as acusações de Cláudia Boudoux ganhou repercussão no último dia 10 de fevereiro. A fisioterapeuta denunciou à Polícia Federal o desaparecimento do filho e acusou o ex-marido. Um dia antes, já havia feito uma denúncia no Grupo de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil.

A fisioterapeuta contou que, na noite de Natal, um oficial de Justiça chegou à casa dela, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, com um mandado para que dois filhos, uma menina de dez anos, e o menino fossem para casa do pai. Eles têm ainda outra filha de 13 anos.

No dia seguinte, as duas crianças seguiram para a casa do pai, com previsão para retornar dois dias depois, mas isso não aconteceu. Sem encontrar as crianças e nem conseguir contato com o ex-marido, Cláudia procurou a Justiça.

A mãe das crianças conseguiu mais dois mandados de busca e apreensão na Justiça, mas os oficiais continuam sem conseguir localizar o pai e a criança. A Polícia Civil está investigando o caso e a Polícia Federal está acionada.

Quando casados, Cláudia e o empresário moraram na Argentina. Em 2010, voltaram ao Recife e um ano depois ela pediu a separação. Segundo ela, o ex-marido não aceitou o fim do casamento, sendo necessário procurar a Justiça para conseguir o divórcio e a guarda das crianças. O processo ficou durante três anos na 8ª Vara da Família, até que Cláudia conseguiu uma audiência de conciliação, onde ficou definido que ela ficaria com a guarda das crianças e que o pai as veria duas vezes por semana

Mãe será chamada para depor

Autora da denúncia, na qual aponta o ex-marido, o argentino Carlos Attias, como responsável pelo sequestro dos filhos menores, a fisoioterapeuta Cláudia Boudoux é investigada em outro inquérito policial.

Nesta terça-feira (23), a delegada da Polícia Civil de Pernambuco Lydia Gonçalves informou que a mãe das crianças é suspeita de maus-tratos e figura como acusada em dois procedimentos que estão em andamento. “Ela será chamada para depor. Deveremos encerrar os inquéritos em 15 dias.”

A denúncia de maus-tratos contra os menores foi feita por Calos Attias e levou a Polícia Civil a ouvir as crianças. Uma delas passou por exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML). Como o caso corre sob segredo de justiça, por envolver menores de idade, a delegada não pode informar o teor dos laudos nem dos depoimentos das crianças.

G1 PE

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