10 julho 2025

Exportadores de frutas de Petrolina temem prejuízo com nova tarifa dos EUA: Produtores afirmam que medida pode inviabilizar comércio


Somente em 2024, a exportação de frutas de Petrolina para os EUA gerou quase US$ 90 milhões em receita — Foto: Lucas Sinigaglia/ Embrapa

Por Diana Silva/G1 Petrolina

O anúncio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros causou apreensão entre produtores rurais do Vale do São Francisco. A medida, prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto, pode atingir em cheio as exportações de frutas da região, especialmente manga e uva, carro-chefe da fruticultura irrigada de Petrolina, no Sertão de Pernambuco.

Somente em 2024, a exportação de frutas de Petrolina para os EUA gerou quase US$ 90 milhões em receita: foram US$ 45,8 milhões em manga (36,8 mil toneladas) e US$ 41,5 milhões em uva (13,8 mil toneladas), segundo dados dos observatórios de mercado de manga e uva da Embrapa Semiárido. Esses números colocam a cidade entre as maiores exportadoras de frutas do Brasil.

Petrolina é a 1ª colocada no ranking do setor agro, como a melhor para se fazer negócios

O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina, Jailson Lira de Paiva, classificou a decisão como "unilateral" e "prejudicial aos dois países". Segundo ele, a medida pode afetar toda a cadeia produtiva da região. "Não é uma situação agradável, nem para nós, nem para os americanos. Esperamos que a diplomacia atue rapidamente para reverter esse quadro", afirmou.

Jailson explicou ainda que, embora a safra de uva só comece a ser exportada em meados de setembro, há preocupação com o efeito imediato da decisão no mercado e nas negociações com importadores.

“Hoje, a tarifa é de 10%. Um salto para 50% é um avanço considerável. Se não houver mudança até setembro, será um grande desafio.”

“Inviabiliza as exportações”, diz pesquisador da Embrapa

O Coordenador dos Observatórios de Mercado de Manga e Uva da Embrapa Semiárido, João Ricardo Lima, também destacou o impacto direto da medida na viabilidade econômica do setor. Segundo ele, com os preços médios de 2024, o aumento da tarifa torna as exportações inviáveis para os produtores da região.

“Se os preços forem os mesmos do ano passado, e forem descontados os 50% do imposto, o que o produtor receberia não pagaria os custos totais de produção, embalagem e logística”, afirmou o pesquisador".


Atualmente, 10 exportadores de manga de Petrolina têm os Estados Unidos como destino regular. — Foto: Aline Oliveira/Vereda Comunica

O pesquisador ainda reforça que a medida afeta diretamente os dois países:

"Para manter os envios, os preços precisariam aumentar proporcionalmente, mas dificilmente o consumidor americano vai aceitar pagar mais. Isso pode gerar queda no consumo e redução ou suspensão dos embarques para os EUA.”

Atualmente, 10 exportadores de manga de Petrolina têm os Estados Unidos como destino regular. O setor é um dos principais motores econômicos da região semiárida, responsável por milhares de empregos diretos e indiretos.

“Dependemos das exportações para gerar empregos e renda. Se essa medida for mantida, pode haver retração no setor e redirecionamento das frutas para Europa ou para o mercado interno”, completa João Ricardo.

Além de todo o prejuízo econômico e queda na geração de emprego e renda, o pesquisador também alerta para o desequilíbrio nos indicadores de desenvolvimento humano.

"Somos uma região com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e se não fosse a fruticultura, não teríamos condições de gerar empregos para tantas pessoas. Uma medida desta impacta diretamente o setor que contribui para a melhoria das condições de vida na região, que ajuda a reduzir as desigualdades regionais", reforça.

Impacto nacional

O anúncio do aumento de 50% na tarifa sobre produtos brasileiros vem causando preocupação em produtores de todo o país. Nesta quinta-feira (10), a Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) divulgou uma nota expressando "profunda preocupação".

De acordo com a instituição, o volume de negócios com frutas entre o Brasil e os EUA gerou, em 2024, o expressivo valor de USD 148 milhões para o setor e para a economia brasileira, com tendência de um desempenho ainda melhor em 2025.

A Abrafrutas também destacou que as relações comerciais são pautadas pelo "respeito mútuo, equilíbrio e elevado nível de profissionalismo" e quer continuar exportando seus produtos para os EUA, assim como acredita que os americanos desejam contar com as frutas brasileiras. Confira o trecho da nota:

"A fruticultura brasileira quer continuar exportando seus produtos para os EUA e, certamente, os importadores americanos desejam contar com nossas frutas para complementar o abastecimento do varejo, em um modelo de negócio ganha-ganha. Foi através desse modelo, que os consumidores norte-americanos passaram a ter acesso a frutas tropicais saborosas e seguras, que tem contribuído para a saúde e o bem-estar daquela sociedade. A continuidade desse processo é uma aspiração legítima dos empreendedores dos dois países".

Lula rebate Trump e diz que Brasil “não aceitará ser tutelado”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém”, e que qualquer medida econômica unilateral será respondida com base na Lei da Reciprocidade Econômica. Lula também declarou que o processo judicial contra os envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 é de competência da Justiça brasileira.

No comunicado oficial, Donald Trump justificou a tarifa alegando, sem apresentar provas, que o Brasil estaria promovendo "ataques contra eleições livres" e restringindo a liberdade de expressão. Ele também criticou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), chamando o processo de "vergonha internacional".

Apesar da tensão diplomática, os produtores de Petrolina ainda aguardam um desfecho mais favorável. “Temos uma relação de mais de 200 anos com os EUA. Não é com bravatas que se resolve isso. É preciso diálogo”, reforçou Jailson Lira.

Por Diana Silva/G1 Petrolina

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