quarta-feira, abril 29, 2020

Bolsonaro diz que cobrança sobre mortes por coronavírus precisa ser feita a governadores e prefeitos


Criticado por reação à alta das mortes pela covid-19, presidente citou decisão do STF que garantiu também a estados e municípios poder de implementar medidas de combate à pandemia.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (29) que a cobrança sobre as mortes provocadas pelo novo coronavírus no Brasil deve ser feita a governadores e prefeitos que adotaram medidas de isolamento para tentar conter o contágio pela covid-19.

Bolsonaro também afirmou que os países que adotaram o chamado isolamento horizontal, mais abrangente e que não inclui apenas pessoas que têm mais risco de desenvolver complicações pela doença, registram maior número de mortes por coronavírus, o que contradiz os dados divulgados (leia mais abaixo).

Bolsonaro deu as declarações na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada um dia após receber duras críticas por ter respondido "e daí?" ao ser perguntado por jornalistas sobre o fato de o número de mortes por covid-19 no Brasil ter superado o registrado na China, onde a doença surgiu.


“O Supremo decidiu que quem decide essas questões [de combate ao coronavírus] são governadores e prefeitos. Então, cobrem deles. A minha opinião não vale. O que vale são os decretos dos governadores e prefeitos”, afirmou Bolsonaro nesta quarta, ao lado de deputados aliados e diante de apoiadores.

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a que Bolsonaro se refere foi tomada no início de abril pelo ministro Alexandre de Moraes e determinou que o governo federal não pode derrubar decisões de estados e municípios sobre isolamento social, quarentena, atividades de ensino, restrições ao comércio e à circulação de pessoas, adotadas durante a pandemia do novo coronavírus.

No julgamento, Moraes afirmou que a coordenação das medidas compete ao governo federal, mas, a partir de critérios técnicos, estados e municípios, dentro de seus espaços normativos, podem fixar regras de distanciamento social, suspensão de atividade escolar e cultura, e de circulação de pessoas.

A decisão foi tomada em meio ao crescimento do embate entre Bolsonaro, que é contra medidas de isolamento mais abrangentes, e governadores, que são favoráveis a essas ações, adotadas por orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Nesta quarta, Bolsonaro reclamou da cobertura feita pela imprensa da sua resposta ao aumento das mortes por covid-19 no Brasil. De acordo com ele, os veículos deixaram de destacar um “complemento” dito por ele na terça, em que ele diz lamentar as mortes, que já passaram da marca de 5 mil no país.

O presidente destacou em mais de um momento da fala desta quarta que as medidas de restrição, como fechamento de comércio, foram definidas por governadores e prefeitos.

“Questão de mortes: a gente lamenta as mortes profundamente. Sabia que ia acontecer, tá? Agora, quem tomou todas as medidas restritivas foram os governadores e prefeitos", disse. "Eu desde o começo me preocupei com vida e com emprego. Desemprego também mata. Então, essa conta [das mortes por covid-19] tem que ser perguntadas para os governadores”, disse o presidente.

Questionado por um repórter se ele também tinha responsabilidade pelas mortes, Bolsonaro disse: “A pergunta é tão idiota que eu não vou te responder”.

Bolsonaro citou o governador de São Paulo, João Doria, e o prefeito da capital paulista, Bruno Covas, entre os gestores que devem ser questionados sobre as mortes pelo coronavírus. O estado de São Paulo é o que registra mais mortes no país (2.049 até terça-feira).

“São Paulo é o estado, não é que é o mais populoso não, mesmo proporcionalmente, que mais óbitos tem. Perguntem ao senhor João Doria e ao senhor Covas de o porquê terem tomando medidas tão restritivas, que eliminou 1 milhão de empregos em São Paulo, e continua morrendo gente. Eles têm que responder. Vocês não vão botar no meu colo essa conta”, declarou o presidente.

Crítico das medidas de restrição, Bolsonaro discute com governadores e prefeitos desde o início do surto no Brasil. O presidente defende o retorno do comércio, das aulas e dos jogos de futebol.

Bolsonaro cita a preocupação com o aumento do desemprego para defender o isolamento somente de idosos e pessoas com doenças crônicas. Essa posição gerou um dos atritos que resultou na demissão do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defensor do isolamento de toda a população.

Isolamento

Bolsonaro também declarou que sugere ao Ministério da Saúde medidas para o retorno à normalidade “com responsabilidade” e que países que adotaram isolamento horizontal (mais restritivo) registram maior número de mortes por coronavírus.

"O que eu tô fazendo é sugerir ao Ministério da Saúde medidas pra gente voltar rapidamente, com responsabilidade, a uma normalidade. Como disse outro parlamentar aqui, os países que adotaram isolamento horizontal foram os que mais faleceram gente. Então, essa é uma realidade", afirmou.

O isolamento social se mostrou efetivo no chamado "achatamento da curva" de contaminações em diferentes países. Com medidas duras de quarentena e rastreamento dos infectados, a China, por exemplo, conseguiu estabilizar o surgimento de novos casos. Do começo do ano a 20 de fevereiro, o país teve 75 mil casos confirmados, com epicentro em Wuhan. A partir daí, até esta semana, conseguiu manter-se na casa dos 83 mil casos -- uma clara desaceleração.

A Nova Zelândia ordenou no fim de março um confinamento de quatro semanas, que incluiu o fechamento das fronteiras, a obrigação de permanecer em casa, o fechamento dos comércios e a suspensão de todas as atividades não essenciais. Nesta segunda-feira (27), o governo anunciou que não registrava mais casos de contágio locais. O país tem pouco menos de 1.500 casos do novo coronavírus e está estacionado em 19 mortes desde o começo da semana.

A Itália, com quarentena menos rígida no início da epidemia, viu o seu número de mortos ultrapassar o da China, onde a pandemia começou -- o que também já aconteceu no Brasil. Atualmente o país contabiliza mais de 200 mil casos confirmados e mais de 27 mil mortes. Quando a contaminação já atingia níveis alarmantes, o governo restringiu a circulação por todo o país, no começo de março. Um mês e meio depois, o país finalmente atingiu o patamar em que tem mais pessoas curadas que novos infectados.

A Alemanha, por sua vez, demorou mais tempo que a Itália para colocar em prática medidas de distanciamento social, mas a boa preparação do seu sistema de saúde ajudou a garantir uma letalidade mais baixa que o vizinho europeu.

Enquanto governos de países da Europa impuseram fortes restrições aos movimentos dos cidadãos, a Suécia se diferencia porque adotou uma estratégia menos reforçada –as autoridades chamam de “baixa escala”– contra o vírus. Nesta quarta, o país registra mais de 20 mil casos confirmados e mais de 2.400 mortes. O primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven, afirmou que o país, que tem bem mais mortes que seus vizinhos Noruega e Dinamarca, não se preparou adequadamente.

Os EUA demoraram a implementar ações de isolamento e, quando foi feita uma testagem em massa, o país apareceu como o novo epicentro da doença no mundo -- está na casa das 60 mil mortes. Na Espanha, também duramente afetada pela Covid-19, o governo espanhol decidiu decretar emergência e tornar o isolamento obrigatório.

G1

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