sexta-feira, janeiro 11, 2019

Governo Bolsonaro nega criar equipe para debater o Nordeste


O Ministério da Casa Civil descartou ontem (10), a intenção de realizar, nesta sexta-feira (11), uma reunião com um grupo de até oito ministros para discutir temas relativos ao Nordeste. A decisão de criar um time do primeiro escalão para tratar dos problemas regionais havia sido anunciada pelo ministro titular da pasta, Onyx Lorenzoni, a deputados da região, mas ele não deu sinais de que azeitou a engrenagem. Por meio da assessoria, a Casa Civil informou que “não há tal reunião na agenda do ministro” e que ele não tratou da possibilidade de criar uma equipe ministerial com esse olhar específico. Essa é pelo menos a quarta vez que o governo Bolsonaro recua ou nega uma relação institucional mais próxima com o Nordeste, onde perdeu a disputa presidencial nos nove estados.

A notícia sobre a criação do grupo ministerial que atendesse às demandas do Nordeste foi divulgada no Diario de Pernambuco, em outros jornais do estado, da Bahia e do Ceará. A medida foi interpretada como uma reação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) à mobilização de uma Frente Parlamentar em Defesa do Nordeste, com cerca de 200 deputados federais e senadores. Também coincidiu com uma audiência solicitada ao militar reformado pelo governador Paulo Câmara.

Quem propôs a Frente Parlamentar e está recolhendo assinaturas para estreá-la em fevereiro é o deputado federal Danilo Cabral, cotado para ser o líder do PSB na próxima legislatura. “O Nordeste é parte da solução do Brasil. Não vamos admitir posições discriminatórias e preconceituosas com nossa gente. Queremos ações e projetos que assegurem o desenvolvimento da região, melhorando a qualidade do nosso povo. A Frente Parlamentar em Defesa do Nordeste lutará para aprimorar o diálogo com o novo governo e pela defesa intransigente dos interesses da região”, disse Danilo, ao saber dos impasses envolvendo a proposta do grupo interministerial.

Com o anúncio da Casa Civil, essa é mais uma vez que Bolsonaro fecha as portas para a região. O presidente não escalou nenhum ministro nordestino entre os 22 nomes. Depois, ele prometeu, por meio de ministros, criar uma secretaria especial do Nordeste e não concretizou.

Na semana passada, o militar reformado afirmou que o presidente dos governadores nordestinos está em Curitiba, numa referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, por sua vez, a Casa Civil negou ter cogitado a reunião sobre os nordestinos, os que mais sofrem com o desemprego nos últimos anos. Bolsonaro já voltou atrás, por exemplo, em relação a estabelecer uma base militar dos Estados Unidos no Brasil. Recuou sobre a questão da reforma agrária, depois de determinar que todos os processos fossem paralisados no país. Ele também escolheu um nome para chefiar A Agência de Promoção de Exportações e já o demitiu

A idas e vindas causam preocupação em quase todo meio político e o Nordeste enfrenta o risco de retaliação. No final de janeiro, segundo a assessoria do governador da Bahia, Rui Costa (PT), o petista vai apresentar aos governadores do Nordeste, durante uma reunião, uma proposta de consórcio entre os nove estados para a compra de equipamentos e para atuação em conjunta em diversas áreas, como na segurança pública.

A ideia do governador baiano é baratear a compra de equipamentos e agir em bloco para blindar e fortalecer a região. Na Bahia, o governo realizou consórcio com os municípios, onde o estado constrói unidades hospitalares (com todos os equipamentos) e os municípios custeiam. A assessoria de Rui Costa informou ao Diario que a proposta de consórcio entre os nove estados nordestinos ainda está sendo desenhada.

O governador Paulo Câmara (PSB), por sua vez, foi o primeiro nordestino a solicitar uma reunião com Bolsonaro e ainda não recebeu resposta. Não é à toa que se fortalecem, entre os governadores da localidade, as propostas de atuar em bloco, seja no Executivo, seja no Legislativo.

Por: Aline Moura/Diario de Pernambuco

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