terça-feira, setembro 01, 2015

'El Niño' deve ganhar força antes do fim do ano e poderá se tornar um dos maiores desde 1950

Índicios são de que fenômeno deve repetir ocorrências extremas de 1982 e 1997, quando afetou não somente as características climáticas de várias regiões do planeta, mas também a economia global. No Nordeste, o evento é temido por agravar a seca e a escassez hídrica.

Nas últimas três décadas, as pessoas aprenderam a temer "El Niño". Desde o evento de 1997-1998, quem nunca se defrontou com os efeitos do fenômeno meteorológico, pelo menos ouviu falar dele.

O fenômeno ocorre entre a costa oeste da América Latina e o Sudeste Asiático, mas seus efeitos podem ser sentidos em todo o mundo – atingindo Japão e a região norte do Pacífico. Várias vezes, ele levou a desastres naturais.

Especialistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirmaram nesta terça-feira (1º) que o fenômeno climático El Niño deverá ganhar força antes do fim do ano, atingindo picos de temperaturas entre outubro e janeiro, e poderá se tornar um dos maiores desde 1950.

O órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), com sede em Genebra, disse que o El Niño, que resulta de uma interação entre a superfície do mar e a baixa atmosfera sobre o Oceano Pacifico tropical, poderá ganhar força no segundo semestre de 2015.

"Nós temos um El Niño bem estabelecido a caminho", disse o diretor de previsão de clima da OMM, Maxx Dilley, acrescentando que agricultores, equipes de resgate e operadores de reservatórios estariam se preparando para uma piora.

A corrente equatorial quente do Pacífico, El Niño, que reapareceu há alguns meses, estará entre os quatro episódios mais intensos observados desde 1950, indicou nesta terça-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

A temperatura da água na superfície no centro-leste do Pacífico superará provavelmente o aumento médio normal de 2 graus Celsius, assegura a agência das Nações Unidas, que prevê que o episódio ganhará força antes do fim do ano.

Esta corrente periódica se associa a precipitações superiores ao normal no outono e inverno nos Estados Unidos. Também reduz as frequências das tempestades e furacões no Atlântico que já este ano vive uma temporada (junho-novembro) abaixo da média anual.

Alta semelhante da temperatura do Pacífico foi registrada apenas três vezes nos últimos 65 anos: 1972-73, 1982-83 e 1997-98.

El Niño intensifica a formação de tempestades no leste e centro do Pacífico.

O episódio deve alcançar sua intensidade máxima entre outubro e janeiro e persistir durante boa parte do primeiro trimestre do próximo ano, antes de enfraquecer, segundo a OMM.

"Ele continua sendo uma anomalia na região equatorial, mas uma anomalia de larga escala que abrange uma parte ampla da circunferência do globo. Eventos que começam no oceano e se conectam à atmosfera são transmitidos por longas distâncias por padrões de ondas e anomalias", explica Lydia Gates, pesquisadora do Serviço Meteorológico da Alemanha (DWD).

"El Niño" e "La Niña" são duas partes do ciclo "Oscilação Sul-El Niño". A cada ano, acontece um ou outro. Em termos gerais, "El Niño" é caracterizado pelas temperaturas altas na superfície dos mares no Pacífico tropical, enquanto "La Niña" é caracterizada pelo frio.

Segundo Gates, o sistema acompanha as anomalias da temperatura da superfície do mar no Pacífico – quando a anomalia se movimenta, a atmosfera se movimenta também, mudando os eventos climáticos de um lado do Pacífico a outro. Isso acontece em uma escala extrema durante "El Niño": portanto, é perfeitamente lógico que o fenômeno possa causar tanto incêndios como enchentes.

As anomalias vistas na Europa são pequenas em comparação com o que acontece nos trópicos. Mas, sob o ponto de vista sócio-econômico, a Europa tem de se preocupar porque "El Niño" afeta os mercados globais, a produção de alimentos e a gestão de desastres.

Os impactos do El Niño no Brasil são bastante variados, haja vista que o território brasileiro possui dimensões continentais e, portanto, uma elevada diversidade climática. Em algumas áreas, o El Niño produz secas extremas; em outras, ele apenas eleva as temperaturas, ao passo em que chuvas torrenciais acometem determinadas regiões.

Para resumirmos essa grande complexidade de acontecimentos, podemos assim sintetizar a influência do El Niño no Brasil:

Região Norte – redução das chuvas nas porções leste e norte da Floresta Amazônica, caracterizando algumas estiagens cíclicas para a região da floresta e aumento de problemas com as queimadas.

Região Centro-Oeste – aumento das chuvas durante o verão e elevação intensiva das temperaturas na segunda metade do ano, quando já faz muito calor.

Região Nordeste – secas severas nas áreas centrais e norte da região Nordeste, afetando, principalmente, a região conhecida como Polígono das Secas, que passa a viver crises dramáticas relativas à escassez hídrica.

Sudeste – Aumento das temperaturas durante o inverno e intensificação do regime de chuvas.

Sul – Manifestação de chuvas torrenciais, muito acima das médias históricas para a região, além da intensificação das temperaturas.

Mesmo com todas essas alterações climáticas, é errado o pensamento existente entre muitas pessoas de que o El Niño seja algo “ruim” ou “maléfico” ou que ele provocaria uma “bagunça climática”. No caso da seca do Nordeste, por exemplo, a “culpa” não é só do El Niño, mas da ausência de investimentos públicos para abastecer a população local. No Sul, embora as chuvas excessivas causem problemas, a preparação para elas com planejamento adequado evitaria graves catástrofes.

Fontes: Deutsche Welle (DW), Associated Press em Estado de Minas e Mundo Educação

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