terça-feira, março 17, 2015

"Não haverá pizza na CPI da Petrobras", diz Hugo Motta


A palavra "pizza" não vai entrar no vocabulário da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, segundo garantiu, ontem, o deputado federal Hugo Mota (PMDB-PB), que a preside desde a semana passada. Com apenas 25 anos, o paraibano disse que a nova comissão terá um desfecho diferente da primeira, presidida pelo seu conterrâneo, Vital do Rêgo, também do PMDB. Em entrevista exclusiva ao jornalista Beto Calmon, do Grupo Opinião de Comunicação, ele disse que botará em votação todos os requerimentos apresentados pelos deputados. E não descartou ouvir a presidente Dilma Rousseff (PT), bem como já avisou haver requerimento para ser votado que pede o depoimento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Este último elaborou a lista com nomes de mais de 50 lideranças políticas e pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal para que pudessem ser investigados. Minutos depois da entrevista que concedeu ao jornalista Beto Calmon, no início da 10ª fase da Operação Lava-Jato, Mota enviou ofício ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, pedindo que Renato Duque, suspeito de ser o operador do PT no esquema de desvio de recursos da Petrobras, seja transferido para a sede da PF em Brasília. Duque deveria ser o próximo a depor na CPI, na quinta, mas, como está preso, por normas do regimento da Câmara, não pode depor no Congresso.

Requerimentos
No momento em que eu tiro um requerimento da pauta, vão dizer que estou tirando para beneficiar, proteger ou ajudar alguém. E eu não irei me passar para agir dessa forma. Existe lá um requerimento, por exemplo, de convocação do procurador-geral (Janot), de convocação do ministro da Justiça (José Eduardo Cardozo), como também tem o pedido de quebra de sigilo do procurador-geral e do ministro da Justiça. Iremos votar. Eu sou escravo do regimento interno da Câmara e da maioria do plenário. Aquilo que a maioria da CPI resolver, diante dos requerimentos apreciados, iremos seguir. Não cabe ao presidente convocar, cabe ao presidente pautar, e o presidente sério sempre pauta todas as matérias. Eu irei pautar todos os requerimentos.

Diferença
entre as CPIs
A CPI é totalmente diferente das CPIs que aconteceram no âmbito de 2014. Primeiro, porque essas etapas subsequentes da operação policial, que correm paralelamente ao trabalho nosso, ao do Ministério Público, são etapas que cada vez mais trazem fatos concretos desse escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras. Temos, a cada dia, uma verdadeira indignação com o que aconteceu, com a quantidade de recursos desviados. E o Congresso Nacional precisa, nesse momento, ser pautado nesses fatos, que dão à CPI uma responsabilidade ainda maior.

CPI como palanque
Eduardo Cunha esteve lá (na sessão da CPI), espontaneamente. Houve dele a disponibilidade, pelo fato de seu nome estar envolvido na lista. Sua ida lá foi uma demonstração de respeito aos trabalhos da CPI. Aquele que está na lista e queira ir espontaneamente, daremos o espaço para que possa fazer a sua defesa. Temos que fazer com que a CPI seja transparente e ser transparente é dar a oportunidade para que as pessoas possam se defender. Não temos o intuito de proteger ninguém. Nosso compromisso é com a investigação, é ter a participação maciça dos deputados, agindo nas quebras de sigilo, indo fundo no que diz respeito ao que já tem na investigação da Polícia Federal. Queremos, ao fim dos trabalhos, ter esse resultado positivo que, com certeza, culminará com o pedido de indiciamento dos culpados. Temos uma preocupação maior, que é tirar a Petrobras desse mar de denúncias.

Impeachment
Eu vejo um ambiente de muita insatisfação popular. As manifestações foram muito grandes, principalmente no Sudeste do país, em Brasília, até no exterior. Isso mostra que, não só o Congresso, mas o governo federal precisa ouvir o que a população espera. A população deixou muito claro que não quer que fique como está e cabe ao Congresso ter a sabedoria e a sensatez para entender a linguagem do povo nas ruas. Não tenho dúvidas de que essas manifestações vêm em forma de alerta para os homens públicos que querem contribuir com o Brasil. A população foi às ruas para dizer que não aguenta mais tanta corrupção, o estado ineficiente. Cabe ao Congresso, ao Executivo e ao Poder Judiciário entender essa mensagem.

Fernando Bezerra
Não posso aqui estar fazendo pré-julgamento. O MPF tem a nossa admiração, é um órgão que presta um grande serviço ao país. O procurador é quem tem que explicar porque não levou todos os nomes de uma vez só (para o Supremo). O que precisamos, neste momento, é saber quem realmente está envolvido. O que a CPI precisa é da elucidação das pessoas que cometeram delitos e pedir para que os órgãos tomem as providências necessárias. Inovamos nestsa CPI com a contratação de uma empresa de investigação internacional que fará a busca de ativos no exterior. Há uma suspeita que nem todo dinheiro foi devolvido em forma de delação premiada. Queremos ir a fundo. Se houver dinheiro da Petrobras no exterior que esteja escondido, que a gente possa, ao final da CPI, entregar aos órgãos de controle para que nossos recursos sejam repatriados.

Moleque
Aquilo foi uma forma de responder a um gesto de desrespeito de Edmilson Rodrigues, do PSol, que nos agrediu verbalmente (nos chamando de moleque). Enquanto presidente, não posso abrir mão da autoridade. No momento em que criamos quatro sub-relatorias, foi um gesto para dizer que a CPI é diferente de todas as outras. As poucas CPIs que tiveram resultados foram as que tiveram sub-relatorias. Iremos reagir sempre, com autoridade, com firmeza, todas as vezes que o trabalho da CPI for colocado em xeque.

Renato Duque
O que eu posso garantir é que ele será ouvido pela CPI. Farei um esforço pessoal à frente da CPI para que ele possa ser ouvido ainda na quinta. A CPI não pode parar o seu trabalho. Essa posição não tem recuo. Vamos avançar sempre. É a forma de o Congresso demonstrar que quer esclarecer os fatos da Petrobras.

Aline Moura - Diario de Pernambuco

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