segunda-feira, junho 22, 2020

Recife e mais sete capitais brasileiras não estavam prontas para flexibilizar, diz pesquisa de Oxford

São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, Goiânia, Manaus e Porto Alegre 'não atenderam aos critérios da OMS, embora as políticas de resposta à Covid-19 tenham reduzido a mobilidade', de acordo o levantamento.

Oito das principais capitais do Brasil não estavam prontas para flexibilizar as medidas de isolamento social, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Oxford publicada nesta segunda-feira (22).

São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, Goiânia, Manaus e Porto Alegre "não atenderam aos critérios da OMS, embora as políticas de resposta à Covid-19 tenham reduzido a mobilidade" dos habitantes, diz a pesquisa.

As principais deficiências, segundo os autores, são as seguintes:
  • Não há testes em volume adequado
  • Não há um programa de rastreamento de contato para tentar conter o contágio
  • Os brasileiros não sabem o que fazer se apresentarem sintomas ou se tiverem contato com pessoas que tiverem sintomas
A Escola de Governo da Universidade de Oxford tem analisado a forma como 170 países deram respostas à epidemia do coronavírus.

A pesquisa levantou quais foram as políticas públicas implementadas, e com qual grau de rigidez, em cada um deles.

Há alguns países, especialmente aqueles que se organizam como uma federação, onde as decisões dos governos subnacionais são relevantes. É o caso do Brasil.


O Brasil foi o primeiro para o qual foi feito um estudo com dados de unidades subnacionais --estados e municípios.

O projeto no país é resultado de um projeto realizado por pesquisadores da Blavatnik School of Goverment, de Oxford, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas e da Universidade de São Paulo.

Equipe da USP e da FGV levantaram as medidas para as unidades federativas.

"Para esse estudo, foi feita uma pesquisa telefônica entre 6 e 27 de maio, com 1.654 pessoas, para avaliar qual é o entendimento das pessoas a respeito da crise da Covid-19 e o que é preciso fazer.

Por fim, também foram levados em consideração os dados de mobilidade com base nos deslocamentos de telefone celular.

"Com os dados que coletamos, as cidades não atingiram os critérios da OMS para que a flexibilização fosse feita de forma segura", afirma Beatriz Kira, autora e pesquisadora na Escola de Governo de Oxford.

Problemas com os testes

Um dos principais problemas encontrados pelos autores é a falta de testagem.

Entre as pessoas ouvidas que afirmaram ter tido sintomas, 13% foram testadas a tempo e 7% disseram que tentaram fazer o teste, mas não conseguiram. "De fato, o único fator que previu significativamente a realização de um teste, no período anterior à pesquisa e enquanto a carga viral ainda era detectável, era ter uma renda mensal de pelo menos 10 salários mínimos", diz a pesquisa.

Falta de compreensão

As pessoas sabem quais são os sintomas da Covid-19 e sabem que não se trata de uma gripe comum.

Há, no entanto, uma falta de compreensão em relação ao que fazer se se entrar em contato com o vírus.

Se alguém tem sintomas ou se tiver contato com alguém que teve sintomas, é preciso ficar completamente isolado, sem nem mesmo ir ao mercado para comprar comida durante duas semanas.

A maioria das pessoas (95%) não faz distinção entre o isolamento que todos devem fazer, em que há possibilidade para atividades essenciais, com o de quem tem sintoma ou se expôs a quem tem sintomas.

Programa de rastreamento

Um programa de rastreamento possibilita interromper a transmissão: as autoridades de saúde identificam as pessoas que entraram em contato com contaminados, orientam a fazer um isolamento severo, para interromper a disseminação, e, assim, estancam o surto da doença.

É algo que tem sido muito discutido no Reino Unido, diz Kira. As cidades brasileiras não têm isso.

O que fazer

O estudo traz recomendações de políticas públicas a serem adotadas.

Uma delas é melhorar as campanhas públicas de informação para que as pessoas que têm sintomas --ou para quem entrou em contato com os sintomáticos-- se auto-isolem totalmente.

É preciso incentivar empresas e empregadores a implementarem mais completamente medidas de distanciamento físico nos locais de trabalho.
O estudo recomenda prolongar o período do auxílio emergencial além dos 3 meses iniciais, especialmente enquanto locais de trabalho permanecerem fechados. "É importante considerar que é improvável que a renda dos trabalhadores informais se recuperará rapidamente após a reabertura dos locais de trabalho."

Por fim, sugere expandir os testes e estabelecer uma política para rastreamento de contatos.

G1 Bem-Estar

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