terça-feira, janeiro 29, 2019

Governo e Vale tentam impedir que lama de rejeitos chegue ao Rio São Francisco



Enquanto em Brumadinho (MG) a luta ainda é para encontrar sobreviventes, governo federal e Vale têm agora uma nova preocupação: impedir que a lama de rejeitos de minério atinja o Rio São Francisco. Símbolo da integração nacional, o rio está a 30 quilômetros da hidrelétrica de Retiro Baixo, que deve reter a maior parte da pluma (mistura de rejeito e água) vazada da barragem da Mina do Feijão.

Caso Retiro Baixo não dê conta de segurar toda a lama que saiu da barragem em Brumadinho, o material irá para o lago da hidrelétrica de Três Marias, o primeiro do Rio São Francisco, que passa por cinco estados. O diretor-financeiro da Vale, Luciano Siani, anunciou ontem a empresa vai construir uma cortina de contenção de rejeitos, uma espécie de dique, no Rio Paraobeba, na altura de em Pará de Minas, a cerca de 75 quilômetros de Brumadinho.

“Vamos construir essa membrana a partir de amanhã (hoje). Objetivo é reter esses colóides, que são partículas muito grossas (de minério), e permitir a continuidade da captação de água. Nosso objetivo é que não haja ruptura na captação de água nas cidades a juzantes (que seguem a correnteza) do Rio Paraopeba”, disse o executivo.

Na mesma entrevista, a Vale anunciou que irá fazer uma doação emergencial de R$ 100 mil, de imediato, a cada família das vítimas fatais da tragédia; manterá a compensação financeira de recursos minerais para o município de Brumadinho; e usará uma equipe de psicólogos do Hospital Israelita Albert Einstein especializada em tratamento de vítimas de catástrofes atender a famílias dos atingidos.

Relatórios divergentes

O Rio Paraobeba é um dos principais afluentes do São Francisco. Por isso, a preocupação da lama da barragem de Brumadinho chegar a Três Marias. No último domingo (27), dois relatórios elaborados por pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e da Agência Nacional de Águas (ANA) divergiram sobre a possibilidade da água com barro invadir o Velho Chico.

O primeiro boletim, divulgado pela manhã, previa que lama chegaria a Três Marias entre 15 e 20 de fevereiro. Depois, à noite, o governo recuou, afirmando que a “expectativa é que todo o rejeito fique retido no reservatório” da usina da Retiro Baixo, onde chegará entre os dias 5 e 10 do próximo mês, “não alcançando o reservatório da Hidrelétrica de Três Marias”. A onda de lama percorre a região a uma velocidade de 1 km/h, segundo o governo.

O vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Maciel Oliveira, disse que equipes técnicas monitoram a qualidade da água do rio. Municípios da região de Três Marias e órgãos de abastecimento de água, Ibama e Cemig (responsável pela hidrelétrica), preparam uma força-tarefa para acompanhar a situação no reservatório.

“Estamos nos preparando para receber a lama. Vamos montar uma sala de situação para colher as informações oficiais“, disse Maciel. “Os municípios do entorno de Três Marias estão sendo mobilizados para traçar imediatamente uma estratégia de ação de como enfrentar essa situação”,acrescentou.

Apesar da ANA e do CPRM garantirem que Retiro Baixo será capaz de conter a lama, outro órgão, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) — responsável pela fiscalização de hidrelétricas — enviou ofício à usina solicitando relatório sobre a capacidade do seu reservatório de suportar os rejeitos. A barragem de Retiro Baixo foi uma das 122 estruturas fiscalizadas in loco pela Aneel entre 2016 e 2018 “e está em boas condições”, segundo nota.

A hidrelétrica de Retiro Baixo tem potência instalada de 82 MW e está atualmente operando em cerca de 20 MW, para diminuir o nível de seu reservatório a fim de reter a lama. Ela vai continuar gerando até que seu reservatório atinja o nível operacional mínimo. O reservatório tem área de 22,58 km2, com profundidade média de 22 metros.

Por: Jornal  O Globo)

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