terça-feira, abril 28, 2015

Fernando Bezerra Coelho quer cancelar depoimento na Lava Jato

Fernando Bezerra Coelho em entrevista a Assis Ramalho

A defesa do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) apresentou pedido nesta segunda-feira (27) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para cancelar seu depoimento no curso das investigações da Operação Lava Jato.
O interrogatório está marcado pela Polícia Federal para o próximo dia 5 de maio, mas a defesa alega que o órgão "inverteu a ordem" das diligências previamente definidas pela Procuradoria Geral da República, que tem o comando dos inquéritos junto ao STF.

Fernando Bezerra Coelho responde à investigação por suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras. A acusação partiu do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em sua delação premiada.

Em depoimento dado em agosto do ano passado, Costa relatou que, em 2010, Bezerra Coelho pediu R$ 20 milhões para a campanha à reeleição do então governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto em 2014 . Na época, Bezerra Coelho era secretário de Desenvolvimento da administração de Campos. Ele nega as suspeitas.

No pedido feito ao STF, as advogadas do senador apontam supostas contradições entre a versão de Paulo Roberto e a de Alberto Youssef sobre o esquema de pagamento de propinas em obras da Refinaria Abreu e Lima, de onde teria saído o dinhero dado a Bezerra Coelho.


Para a defesa de Bezerra Coelho, a diferença nas versões exigiria que a PF ouvisse primeiro os dois delatores para esclarecer os fatos e, só depois, o senador, de modo que ele pudesse se defender adequadamente.

"Tem-se tolhida a oportunidade de apresentação da versão dos fatos do investigado, como quer a PGR, uma vez que a Polícia Federal marcou sua oitiva antes mesmo da oitiva dos réus colaboradores. Se os únicos indícios aptos a ensejar a instauração do presente Inquérito são as declarações dos delatores, o esclarecimento quanto à absoluta incompatibilidade de seus depoimentos é medida que se impõe", diz o pedido.

As advogadas ressaltaram que, no pedido de abertura de inquérito contra o senador, apresentado no início de março ao STF, a PGR requeria oitivas com Paulo Roberto, Youssef e Bezerra Coelho "nessa ordem", isto é, ouvindo primeiro os delatores.

O pedido de cancelamento do depoimento ocorre depois que vieram à tona divergências entre a PF e a PGR na condução dos inquéritos. A disputa por protagonismo nas investigações levou o STF a cancelar depoimentos que haviam sido marcados nas duas últimas semanas, atendendo a pedido da PGR, que reivindicou para si o comando das diligências.

Suspeita
No pedido de abertura de inquérito contra Bezerra Coelho, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse ver indícios de que tenha ocorrido lavagem de dinheiro e corrupção passiva nos relatos sobre o senador.

Em seu depoimento, Youssef disse que parte de uma “comissão” em um contrato teria sido destinada ao governo de Pernambuco para que fossem resolvidos problemas que poderiam prejudicar a obra. Ele disse acreditar que quem recebeu os recursos foi Bezerra Coelho, que, como secretário, iria “resolver o assunto”.

Quando o inquérito foi aberto, Bezerra Coelho divulgou nota em que expressava “perplexidade” e dizia-se “tranquilo e preparado para responder a todos os questionamentos” sobre o caso. Afirmou que irá colaborar com a Justiça e que está confiante de que vai provar sua inocência.

“O senador reafirma que em 2010 não ocupou nenhuma coordenação na campanha à reeleição do ex-governador Eduardo Campos. Não conhece nem teve contato com o sr. Alberto Youssef, como confirma o próprio depoimento do doleiro”, diz a nota.

Ele admite contatos com Paulo Roberto Costa, mas diz que foram “estritamente institucionais, próprios do cargo que ocupava no estado de Pernambuco”. “A generalidade da referência ao nome do Senador Fernando Bezerra Coelho não converge para uma circunstância mínima capaz de justificar a abertura de investigação”, completa o texto.

O senador é uma das 50 pessoas alvos de inquéritos relacionados à Lava Jato no âmbito do STF. Desses, 48 são políticos, entre senadores, deputados e ex-parlamentares. Dois governadores e um ex-governador serão investigados no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Renan Ramalho
Do G1, em Brasília

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