segunda-feira, outubro 07, 2019

Casas legislativas devem formar frente nacional para prevenir suicídio e autolesão

Segundo dados apresentados pelo psiquiatra Evaldo Melo de Oliveira, a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo

A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e outras casas legislativas devem compor uma frente nacional pelo combate ao suicídio e à autolesão. Essa foi uma das diretrizes estabelecidas pelo grupo de trabalho sobre esse tema, que integrou o Seminário Regional de Promoção e Defesa da Cidadania da Unale. O debate ocorreu na última quinta (3), no Auditório Sérgio Guerra, na sede do Poder Legislativo Estadual.

“Em Pernambuco, devemos reunir especialistas em saúde mental e assistência social em audiências públicas e percorrer o Estado para detectar focos de ocorrência. Há um número alarmante de autolesão e suicídio entre jovens de 15 a 23 anos”, descreveu o deputado estadual Diogo Moraes (PSB-PE). “Precisamos ter profissionais de psicologia nas redes de ensino pública e privada para efetivar esse trabalho de prevenção”, considerou o parlamentar, que coordenou a reunião do grupo.

Presidente da Unale, o deputado estadual Kennedy Nunes (PSD-SC) chamou atenção para o fato de que “o número de mortes por suicídio no mundo permanece o mesmo desde 1965, enquanto outros motivos de letalidade (doenças cardíacas, mortes violentas) vêm caindo desde então”.

Segundo dados apresentados pelo psiquiatra Evaldo Melo de Oliveira, a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo, totalizando cerca de 800 mil casos anuais. “No entanto, apenas 28 países têm estratégias nacionais para tratar da questão, que é relacionada, principalmente, à depressão e ao uso de drogas”, salientou o especialista.

Ele também registrou que a taxa de suicídios no Brasil subiu de 5,1, a cada 100 mil pessoas em 2014, para 5,6 em 2017, no grupo dos jovens entre 15 e 29 anos. “O suicídio é a segunda causa de morte nessa idade, e 90% dos casos podem ser prevenidos. Mas temos dificuldade de nos aproximar e escutar quem passa por depressão, porque todos nós temos traços depressivos e não gostamos desses traços”, complementou Oliveira.

Por outro lado, a presença de políticas públicas de saúde mental faz diferença para mudar esse cenário, pontuou Elias Lacerda, presidente da Comissão de Prevenção de Automutilação, Bullying e Suicídio da Rede Internacional de Excelência Jurídica do Distrito Federal (Riex-DF). “Segundo dados Ministério da Saúde, municípios que têm Caps (Centros de Atenção Psicossocial) reduzem em 14% o índice de suicídios. Mas ainda não possuímos equipamentos desse tipo suficientes para cumprir o princípio da universalidade de atendimento, previsto na Constituição Federal”, observou.

Uma das ideias apresentadas no seminário foi implantar, em outros locais do País, a experiência do Distrito Federal com um núcleo de profissionais especializados em saúde mental – psicólogo, psiquiatra e assistente social – dentro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A iniciativa tem diminuído números de internações psiquiátricas e encaminhado pacientes para a Rede de Atenção Psicossocial (Raps). “De 80 a 90% dos casos de intervenção em crises, nossa equipe resolve na própria cena”, registrou a psicóloga Andréa Chaves, que trabalha no projeto do Samu-DF.

“A saúde mental é uma urgência. Ninguém marca uma consulta quando quer se matar”, chamou atenção a especialista. Andréa também comentou que hospitais, muitas vezes, não dão a prioridade devida aos pacientes psiquiátricos. “Uma pessoa que tentou se matar corre tanto risco como aquela que sofreu um acidente de moto”, defendeu a psicóloga. Ela também acredita que o Recife pode ser uma das primeiras candidatas a replicar o modelo, já que um serviço dedicado a emergências psiquiátricas já foi implantado na cidade.

A prevenção à automutilação e ao suicídio está no foco também do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Representante do órgão federal na reunião, a secretária nacional da Família, Angela Gandra, frisou que esse núcleo “é protagonista no papel de percepção de sintomas que podem levar ao suicídio”. “Nosso papel é conscientizar as famílias para fazer esse acolhimento”, enfatizou a gestora.

Alepe

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