quarta-feira, outubro 15, 2014

Os oceanos pedem ajuda a gritos por causa do lixo plástico

“Embora existam diferentes causas da contaminação marinha em cada país, o denominador comum é que consumimos mais e geramos mais lixo, e a maioria é de plástico”

Um albatroz alimentando seus filhotes com bolinhas de plástico, um bebê foca no Polo Norte com uma bolsa envolvida no pescoço ou um barco de pesca à deriva em alto mar porque um aparelho de pesca penetrou na hélice, são exemplos que multiplicados por mil dão ideia da condição dos oceanos .
A reportagem é de Manipadma Jena, publicada por Rebelión, 14-10-2014. A tradução é do Cepat.

Estima-se que cerca de 13.000 resíduos plásticos flutuam por cada quilômetro quadrado do oceano e que 6,4 milhões de toneladas de lixo marinho desembocam neles a cada ano.

Pesquisadores e cientistas prognosticam um futuro nefasto para essas vastas extensões de água que são vitais para a existência de nosso planeta.

Um cálculo conservador do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) destaca que o prejuízo econômico do plástico nos ecossistemas marinhos ascende a 13 bilhões de dólares por ano, segundo um comunicado divulgado no dia 1º deste mês.

A saúde dos mares e dos ecossistemas oceânicos concentra a atenção da 12ª Conferência das Partes (COP12) doConvênio sobre a Diversidade Biológica, que começou na cidade sul-coreana de Pyeongchang, no dia 6 deste mês, e se estenderá até o dia 17.

Entre as 20 Metas de Aichi para a Diversidade Biológica, acordadas na cidade japonesa de Nagoya, em 2011, a preservação da biodiversidade marinha é um dos objetivos fundamentais. A meta 11 destaca a importância em identificar “áreas protegidas” para preservar os ecossistemas marinhos, em especial dos efeitos daninhos das atividades humanas.

Na 16ª reunião global dos Planos de Ação e Convênios sobre Mares Regionais do PNUMA, que ocorreu em Atenas, do dia 29 de setembro até o dia 1º deste mês, houve um consenso quase unânime de que os resíduos marinhos são um “tremendo desafio” para o desenvolvimento sustentável.

Nessa oportunidade, cientistas e autoridades do mundo se reuniram para traçarem um novo percurso capaz de frear a rápida degradação de oceanos e mares e criar políticas para um uso sustentável, assim como integrá-las a agenda de desenvolvimento posterior a 2015.

O tema está entre as maiores prioridades desde a Cúpula da Terra, como se chama a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, realizada no Brasil em 2012, conhecida como Rio+20.

O número 14, dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) debatidos para substituir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a partir de 2015, concentra-se em reduzir de forma significativa a contaminação marinha para 2025.

“Não tivemos nenhuma dificuldade em promover a explícita inclusão desse objetivo nos ODS propostos”, destacouJacqueline Alder, diretora de ecossistemas marinhos e de água doce da Divisão de Implementação da Política Ambiental do PNUMA.

“Afinal de contas, os oceanos são um problema de todos e todos nós geramos lixo”, apontou em diálogo com a agênciaIPS.

“Os resíduos orgânicos são o principal elemento dos lixos marinhos, que representam entre 40 e 80% do lixo municipal nos países em desenvolvimento, comparado a porcentagem entre 20 e 25% dos países ricos”, explicou Tatjana Hema, oficial de programa para controle de componentes e avaliação de contaminação do Plano Mediterrâneo de Ação.

Porém, os microplásticos estão entre os contaminadores mais daninhos que inundam os mares.

A substância daninha se forma quando os plásticos se fragmentam e se desintegram em partículas com não mais do que cinco milímetros de diâmetro e até um milímetro.

“Descobriu-se que os micro e nanoplásticos haviam passado para as microparedes das algas”, explicou Vincent Sweeney, coordenador do Programa Global de Ação para a Proteção do Ambiente Marinho através de Atividades Terrestres (GPA).

“Porém, ainda não se sabe como afetará a cadeia alimentar de animais marinhos, nem a saúde humana quando forem ingeridos por meio dos peixes”, destacou-se.

“A extensão do problema do microplástico até agora é especulativo. Ainda não temos noção da medida em que isto afeta os oceanos”, acrescentou.

Os ODS relacionados aos oceanos devem se ajustar a quatro critérios: que sejam viáveis, factíveis, quantificáveis e alcançáveis.

Diferente, por exemplo, da redução da acidificação do oceano (cuja única causa é o dióxido de carbono), que facilmente cumpre com os quatro critérios, o problema dos resíduos marinhos não é tão simples, em parte porque “o que aparece na praia não necessariamente é um indício do que ocorre no oceano”, destacou Sweeney.

“Os lixos marinhos se deslocam por longas distâncias, tornam-se internacionais. É difícil encontrar seu dono”, observou. Os resíduos se acumulam em torvelinhos no meio do oceano, um fenômeno de circulação de água que costuma juntar os materiais que flutuam.

“O risco de não conhecer a magnitude exata dos resíduos marinhos é que tendemos a pensar que é muito grande para manejar”, apontou o coordenador do GPA. Porém, mediante a sensibilização se gera um “impulso” e agora se torna prioritário em diferentes níveis.

“Eliminar a contaminação dos oceanos é uma pretensão que não veremos em vida, mesmo se deixarmos de jogar lixo ao mar, o que ainda não conseguimos. O custo é impensável. A maioria dos resíduos está fora de nosso alcance. Sem contar que limpar a superfície dos resíduos flutuantes levará muito tempo”, sublinhou.

“Embora existam diferentes causas da contaminação marinha em cada país, o denominador comum é que consumimos mais e geramos mais lixo, e a maioria é de plástico”, destacou.

Além da falta de informação e do alto custo de limpar a contaminação, os meios de execução ou de financiamento das metas dos ODS relacionadas ao oceano representam um desafio adicional para as regiões.

Na Grécia, tomou-se consciência da crise quando Evangelos Papathanassiou, diretor de pesquisa do Centro Helênico de Pesquisa Marinha, em Attiki, a 15 quilômetros de Atenas, relatou à imprensa que encontrou uma máquina de costurar a 4.000 pés (1.219 metros) de profundidade, no mar Mediterrâneo.

“A contaminação marinha derivada da aquicultura, do turismo e do transporte é mais premente no mar Negro e no Mediterrâneo, mas não recebe a atenção que merece”, disse Sweeney.

Para que a nova era de desenvolvimento seja exitosa, nós, seres terrestres, devemos prestar urgente atenção ao mar e ao oceano, que pede ajuda a gritos.

Fonte: IHU Online

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