sábado, junho 15, 2013

A hora da nova classe média

No Brasil se diz que Luiz Inácio Lula da Silva anda comentando com amigos que está um tanto arrependido por ter antecipado a campanha política para as eleições que, em outubro de 2014, decidirão se Dilma Rousseff permanece na presidência ou se é sucedida por alguém da oposição.

A reportagem é de Eric Nepomuceno e publicada no jornal Página/12, 13-06-2013. A tradução é do Cepat.

No Brasil – bom, na realidade, em todas as partes – há rumores sobre o que dizem que andam comentando os políticos. Mas a verdade é que há uma certa lógica nos rumores. O ambiente está tenso e já começam a ser traçadas as estratégias com vistas a 2014, principalmente na oposição.

De acordo com a legislação eleitoral, a campanha começa em julho do ano que vem, três meses antes das eleições. Por que Lula se antecipou um ano e meio? Para terminar com outro rumor, que dizia que ele seria o candidato do PT. Diante do risco de que tal rumor debilitasse o governo de Rousseff, Lula da Silva quis esclarecer o cenário. Fica difícil imaginar que com sua habilidade e, principalmente, intuição, Lula não tenha calculado os riscos. Talvez por essa experiência acumulada na década da ação política siga aparentando tranquilidade diante da tensão que impera entre os partidos da esdrúxula e muito desigual aliança de governo, de um lado, e a presidência de outro.

Tampouco aparenta inquietude em relação à contundência do postulante do PSDB, mesmo partido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do senador Aécio Neves, único até agora declaradamente candidato.

Aécio Neves parece disposto a realizar o que o sociólogo e ex-presidente Cardoso vem defendendo há tempo, até agora em vão: entender que seu PSDB não tem como disputar com o PT o eleitorado mais pobre. Suas propostas são melhor digeridas e defendidas pelas classes médias. São sua melhor plateia. Qualquer tentativa de conquistar o voto dos pobres seria inútil.

Pois bem, ao longo dos últimos 10 anos o Brasil experimentou uma extraordinária onda de inclusão social. Cerca de 50 milhões de brasileiros ingressaram na classe média. É verdade que integram a chamada “classe C”, ou seja, a classe média baixa, o último degrau. Mas já não se sentem pobres. Têm outras demandas, outras exigências e expectativas.

São o resultado de um intenso programa social levado a cabo pelo PT, primeiro com Lula e agora com Dilma. Os estrategistas do PSDB pretendem lançar-se num jogo tão ousado quanto arriscado: deixar claro, à classe C, que o PTé perfeitamente capaz de solucionar os grandes dramas sociais do país, mas muito pouco capaz de dar os passos seguintes.

Quer dizer: incapaz de assegurar crescimento econômico e desenvolvimento, neutralizar o dragão da inflação, garantir as conquistas alcançadas por esses mesmos milhões de brasileiros. O PT é bom para emergências, mas ruim para garantir o conquistado.

O liberal PSDB tem a seu favor a estabilidade monetária alcançada em 1994: fulminou o fantasma da hiperinflação e levou Cardoso à presidência por duas vezes consecutivas. Pretende mostrar agora que tem melhor capacidade de gestão que o PT, e que está melhor habilitado para retomar o crescimento da economia, manter e ampliar a oferta de empregos e projetar o futuro com bases sólidas.

É uma aposta de altíssimo risco. A popularidade de Rousseff continua acima dos 60%, de acordo com as pesquisas mais recentes. Lula continua sendo um formidável transferidor de popularidade. O carisma que falta em Dilma sobra em Lula. A estratégia de Dilma passa por vários pontos. Tudo dependerá, em boa medida, da economia. Este ano há consenso: o crescimento será pequeno, inferior a 3,5% do PIB inicialmente projetado. E a inflação poderá, uma vez mais, situar-se em torno dos 6% ao ano.

Não é o melhor quadro. Crescimento baixo e inflação alta são o prato favorito da oposição. Por essa razão, Dilma deu um giro forte em sua política econômica: decidiu combater abertamente a inflação e esperar que a retomada da economia comece a ganhar impulso a partir do quarto trimestre do ano, avançando com força em 2014, ano chave.

O PSDB parece disposto a apostar todas as suas fichas em um cenário que seja o contrário do previsto por Dilma e oPT. Fica, então, a grande dúvida: como vai reagir a nova classe média? Esses 50 milhões de brasileiras e brasileiros defenderão o projeto que os tirou da pobreza ou defenderão os interesses dos que sempre lhes pediram para que esperassem um pouquinho mais porque sua hora logo chegaria? Bom, sua hora já chegou, e agora?

Fonte: Ihu - Instituto Humanitas Unisinos

Nenhum comentário:

Postar um comentário