domingo, setembro 05, 2021

Aneurisma e AVC: entenda o quadro que levou à morte da ex-BBB Josy Oliveira


No sábado (4), a ex-BBB Josy Oliveira morreu após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) durante uma cirurgia para tratar de um aneurisma. A cantora mineira nascida em Juiz de Fora, MG, estava em coma induzido no Hospital Santa Catarina, em São Paulo.

O neurorradiologista intervencionista e neurologista Fabricio Buchdid Cardoso explicou ao G1 o que é um aneurisma, como identificá-lo, o tratamento e o AVC. Fabricio trabalha nos Hospitais de Clínicas Unicamp e no Centro Médico de Campinas, além do Instituto Neuron Campinas.

Segundo Fabricio, existem dois tipos de AVC:

Hemorrágico: onde há o extravasamento do sangue na artéria que nutre o cérebro
Isquêmico: onde há a interrupção do fluxo de sangue na artéria que nutre o cérebro

1 - O que é um aneurisma cerebral?


Os vasos cerebrais são constituídos de artérias e veias, assim como todos os órgãos do corpo. As artérias são constituídas por uma quantidade de músculos na parede maior que nas veias, então elas são mais resistentes. O aneurisma cerebral é uma dilatação na parede da artéria por uma determinada fragilidade, uma descontinuidade muscular em uma determinada parte da parede e que, ao longo do tempo, ocasiona uma dilatação. Essa região mais frágil é submetida à pressão sanguínea que vai abaulando, aumentando de tamanho, e fica cada vez mais frágil e irregular até o momento em que estoura.

2 - Há uma idade em que seja mais comum, ou predisposição?

Não tem predileção por idade. É mais comum em adulto jovem, mas pode acometer todas as faixas etárias, incluindo crianças. Nas crianças, uma das principais causas são as pós-traumáticas, após acidentes em que há traumatismo craniano.

É importante citar a genética no caso de predisposição, ou seja, quando uma pessoa da família é diagnosticado com aneurisma, pais, tios, primos, irmãos e filhos devem passar por exames.

Existem fatores de risco, como tabagismo, por conta da fragilidade da parede vascular ocasionada pelo uso do cigarro, e doenças renais como rins policísticos, o que pode causar a formação de aneurismas cerebrais ou em outras partes do corpo.

3 - Como pode ser detectado?

Muitas pessoas ao longo da vida podem acabar tendo um aneurisma cerebral que passa desapercebido, que não é rompido. Contudo, o aneurisma pode ser detectado por exames seja na fase em que haja a ruptura como quando ainda não há sintomas.

Sem sintomas: o paciente pode descobrir o aneurisma durante exames de rotina;
Com sintomas: o principal sintoma é uma cefaleia, dor de cabeça súbita, intensa e explosiva e, segundo o neurologista Amaury Bara, também com paralisia de algum lado do corpo ou até coma.

O aneurisma pode ser detectado por exames de imagens que contrastam os vasos cerebrais, como a angioressonância (que pinta as artérias cerebrais), a angiotomografia (que injeta um contraste que passa por dentro das artérias) e a angiografia cerebral (uma espécie de cateterismo cerebral pela virilha ou braço que chega à artéria do pescoço --é injetado um contraste direto na vasculatura arterial para permitir a detecção via exame de imagem).

Existem graus de sangramento diferentes, como a escala de Fischer Modificado, que considera níveis de 0 a 4. Quanto maior a escala, mais grave e com riscos de piora.

4 - Como é o tratamento?

Existem critérios de tratamento conforme o quadro do paciente: o cirúrgico se dá com uma "clipagem" do aneurisma, ou via endovascular, uma embolização por dentro da artéria. Para definir o melhor tratamento, é preciso uma série de exames que definirão se o aneurisma é grande ou pequeno. Para aneurismas menores de 5 milímetros há uma tendência de monitorar anualmente; mas, se for irregular, com bifurcações, a opção mais indicada é o o tratamento cirúrgico.

Cirurgia aberta do crânio: há uma exposição do tecido cerebral até a chegada do vaso sanguíneo no qual há o aneurisma. Ele então recebe um clipe metálico para manter a circulação dos vasos, evitando que o paciente tenha uma complicação.

Endovascular: um cateter é colocado na artéria da virilha (femoral) ou na do braço (radial) e segue o trajeto até o pescoço. Então, realiza um cateterismo das artérias até chegar ao aneurisma. Na região, são usados dispositivos como se fossem fios de pesca para entrar dentro do aneurisma e recheá-lo com molas platinadas.

Foi esse o procedimento adotado para tratar Josy Oliveira, segundo a irmã dela declarou ao G1. Fabricio disse que houve uma complicação: "São colocados materiais metálicos dentro de uma artéria frágil, mas acabou gerando uma complicação. Existem estratégias para conter o sangramento, mas nem sempre é possível, devido às complicações".

Técnicas endovasculares têm baixas taxas de complicação, mas, como todo procedimento, pode haver complicações, como no caso de Josey. São elas: sangramento, a ruptura do aneurisma, a formação de pequenos coágulos e o fechamento do vaso cerebral com o aneurisma.

5 - O AVC na cirurgia para corrigir um aneurisma

Um dos efeitos possíveis durante uma cirurgia para correção de um aneurisma é um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A hemorragia do AVC faz aumentar a pressão intracraniana, pois o espaço onde fica o cérebro não tem muita capacidade de se estender. A caixa craniana, formada por ossos, impede o inchaço do cérebro até determinado ponto; mas é um ambiente contido.

Associado a isso, uma das complicações é a hidrocefalia: dentro do cérebro existem espaços em que há produção do liquido cefalorraquidiano, produzido pelo próprio cérebro e que fica contido em alguns bolsões dentro do cérebro, chamado ventrículos. No caso da hemorragia intracraniana, isso dificulta que esse líquido seja produzido e reabsorvido, ou seja, o líquido é mais produzido do que reabsorvido.

Isso faz com que o líquido se acumule dentro do cérebro e o ventrículo aumenta, o que se chama hidrocefalia. Para tentar controlar a complicação, é feita a sedação para que o paciente fique com o menor metabolismo cerebral possível, intubado, em coma induzido. Pode ser necessária a aplicação de medicamentos na veia para diminuir o inchaço e a colocação de um dreno para que esse líquido em excesso diminua a pressão.

Por Nathália Alves, G1 Zona da Mata — Juiz de Fora

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