terça-feira, abril 21, 2015

Sanfoneiro pernambucano Camarão morre no Recife aos 74 anos


Morreu na manhã desta terça-feira (21), aos 74 anos, Reginaldo Alves Ferreira, mais conhecido como Camarão, um dos maiores mestres sanfoneiros de Pernambuco. De acordo a família do artista, Camarão estava internado há seis dias no Hospital Santa Joana, no bairro do Derby, área central do Recife, onde tratava uma infecção intestinal. O velório acontece na Câmara Municipal do Recife e o enterro será na quarta (22), às 14h, no Cemitério Dom Bosco, em Caruaru, no Agreste do estado.

Salatiel, filho de Camarão, informou ao G1 que o pai era paciente renal e sentiu-se mal na última segunda-feira (13). "Ele fez uma consulta, passaram medicação e ele voltou para casa. Na quarta [15], foi fazer hemodiálise na Unimed, e a médica indicou que ele fosse internado. Na quinta [16], ele deu entrada na UTI do Santa Joana, onde descobriram que umas feridas no intestino grosso provocaram uma infecção instestinal. Agora de manhã, ele ia fazer hemodiálise, mas a pressão dele baixou muito, e o coração não resistiu", contou.

De acordo com o site da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Camarão nasceu em Fazenda Velha, Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano, em 23 de junho de 1940, véspera de São João. Radicado no Recife há 25 anos, ele vivia de shows e das aulas de sanfona que ministrava na sua Escola Acordeom de Ouro, no bairro de Areias, na Zona Sul do Recife. Foi professor de sanfoneiros como Cezzinha e Targino Gondim.

Camarão era casado com Maria da Penha e deixou quatro filhos - Salatiel, Sérgio, Sandro e Tadeu. O artista foi nomeado Patrimônio Vivo de Pernambuco, por meio da Lei estadual nº 12.196, de 2 de maio de 2002.

A Secretaria de Cultura de Pernambuco e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) divulgaram nota oficial conjunta, lamentando o falecimento de Camarão. "Após mais de meio século animando a música nordestina e formando novos sanfoneiros - especialmente na Escola Acordeom de Ouro, fundada por ele e localizada em Areias (Recife) -, Camarão parte deixando um rico repertório e um exemplo de dedicação à difusão da nossa cultura. Que a alegria de suas imortais criações e seu exemplo de mestre generoso sigam inspirando não apenas as novas gerações de sanfoneiros, mas a todos nós, que assumimos como missão contribuir para a formação cultural da nossa gente", diz o documento.

O prefeito do Recife, Geraldo Julio, também emitiu nota sobre a morte. "A perda do Mestre Camarão deixa um hiato na cultura Nordestina, que ele tão bem defendeu com sua sanfona. Músico que fazia questão de ensinar os acordes para os mais jovens, teve homenagem justa no Carnaval do Recife de 2007. Recentemente, estivemos juntos em homenagem a Luiz Gonzaga, no lançamento de painel com imagem do velho Lua na fachada da prefeitura, e ele carregava como sempre sua sanfona e seu bom humor. A cultura popular perde um ícone e os amigos e familiares perdem uma grande figura humana."

Trajetória
A página da Fundaj dedicada ao Mestre Camarão informa que ele aprendeu a tocar sanfona observando os movimentos do pai, o sanfoneiro Antônio Neto, e se aperfeiçoou ouvindo Luiz Gonzaga e estudando os métodos de Mário Mascarenhas. Iniciou a carreira artística emCaruaru, onde tocava nas feiras e festas da região.

Aos 18 anos, conheceu Luiz Gonzaga, com quem participou de 28 gravações, entre discos long plays,78 rotações e CDs. Camarão formou com os músicos Jacinto Silva e Ivanildo Leite seu primeiro conjunto musical, o Trio Nortista e, em 1968, criou a primeira banda de forró do Brasil, a Banda do Camarão, e ainda a Orquestra Sanfônica de Caruaru.

Seu repertório era composto por ritmos regionais como o xote, o xaxado, o baião, o forró e o arrasta-pé. Mestre Camarão costumava a acompanhar grandes nomes da música nordestina, como Dominguinhos, Santanna, Marinês, entre outros.

Em 1961, representou Pernambuco junto com o mestre Vitalino no primeiro aniversário de Brasília, a convite do então presidente da República, Jânio Quadros. Em 2002, foi a São Paulo apresentar-se no projeto Sanfona Brasil. Em 2004, participou do projeto O Brasil da Sanfona.

G1 PE

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