Foto: Juciana Cavalcante/Tanto Expresso-CBHSF
Responsável por boa parte do abastecimento nacional com sua produção de coco, o município de Rodelas (BA) recebeu, nos dias 28 e 29 de maio, a capacitação de irrigantes da bacia do São Francisco, fechando o ciclo de atividades na região do Submédio São Francisco. O programa financiado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) tem como principal objetivo instruir produtores quanto ao uso eficiente da água, considerando que a irrigação, segundo o Plano de Recursos Hídricos do CBHSF, representa o maior consumo da bacia hidrográfica.
Este ano, na região do Submédio, após a realização da capacitação em Afogados da Ingazeira, a equipe técnica da empresa Água e Solo, contratada pelo Comitê através da Agência Peixe Vivo, aplicou o curso para 30 irrigantes na região que está entre as maiores produtoras de coco. O curso foi ministrado pelo engenheiro agrônomo e instrutor, João Júnior.
Segundo o coordenador técnico da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Rodelas, Dayclisson Nery de Souza, o município responde por uma produção de mais de 70 milhões do fruto por ano, além de também ter mercado para a manga, goiaba, mamão e banana. “Aqui se produz culturas como manga, goiaba, mamão e banana, mas o forte mesmo é o coco que abastece mercados como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Goiás, Salvador, Feira de Santana, Petrolina e Alagoas”, afirmou, destacando que a agricultura é a principal geração de receitas do município. “A cadeia produtiva emprega mão de obra intensiva, direta e indireta. Cada caminhão demanda até seis pessoas para carregamento e isso tem atraído pessoas de estados como Paraíba, Pernambuco, Sergipe e São Paulo, tanto para trabalhar como para investir na região”.
Com um mercado em expansão e demanda crescente pelo coco que além do consumo in natura, abastece indústrias de água de coco, sucos e cosméticos extraídos da casca e fibras, Rodelas enfrenta diversos desafios devido ao avanço das mudanças climáticas, entre eles, a desertificação, já que o município já possui áreas classificadas como desertificadas, de acordo com a Diretoria de Combate à Desertificação, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. E agora vive a ameaça da transição de semiárido para árido, o que pode intensificar o êxodo rural para o centro urbano, pressionando ainda mais o Rio São Francisco – único garantidor de água para consumo, irrigação e dessedentação animal na região. “Uma eventual redução na vazão do rio, por escassez ou priorização energética, por exemplo, teria impacto catastrófico: inviabilizaria a agricultura irrigada – base econômica regional – e agravaria a crise social”, acrescentou Dayclisson.
Com isso, a capacitação de irrigantes foi celebrada entre os irrigantes que, em sua maioria, afirmaram que a região consome mais água do que o necessário. O produtor Luís Antônio Neves de Almeida logo após o primeiro dia de aula disse ter desligado o sistema de irrigação. “Após analisar o terreno, constatei o excesso de irrigação, então decidi suspender por três dias para observar os efeitos; além de começar a substituição das mangueiras do sistema por modelos mais eficientes”, afirmou, confirmando que a capacitação foi fundamental para que ele realizasse esse teste prático. “O solo estava encharcado, e ao consultar a apostila, comprovei que o excesso hídrico danifica as culturas e até mesmo atrapalha o trabalho agrícola”. O produtor tem a meta de colher 20 mil cocos até o final do ano.
O Secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Geraldo José Lima Fonseca, afirmou ainda que o curso serviu para conscientizar os agricultores, quanto ao excesso no uso da água. “Além do uso excessivo, também há o uso de materiais inadequados e vazamentos frequentes. Por isso, precisamos de um trabalho contínuo de conscientização para um melhor aproveitamento hídrico, pois sem o rio São Francisco, nada disso existiria. Garanto que, após um curso como esse, a eficiência pode melhorar em 40% ou 50%. Os participantes já saíram com uma mentalidade completamente diferente sobre o uso da água, pensando no uso eficiente e necessário para a sobrevivência e boa produção da planta. Isso é uma necessidade urgente na região, e deu para perceber, entre os participantes, que muitos ainda cometem esses exageros”, afirmou, lembrando que a região, atualmente, tem cerca de 800 lotes de pequenos e médios produtores.
O Coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, destacou a iniciativa do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco ao propor ações em defesa da bacia. “Refletindo sobre cada propriedade ao longo do São Francisco, imagine uma simples torneira doméstica pingando gota a gota, dia após dia, quantos litros preciosos se perdem? Essa imagem simboliza nossa luta maior. Precisamos nos engajar firmemente nessa causa perante o governo federal, utilizando o diálogo, conforme estabelece o regimento interno do Comitê da Bacia. O momento exige união e luta, só assim transformaremos nossa realidade”.
Realidades distintas
Para o técnico em agronegócio e produtor José Carlos Souza da Silva, que atua na cidade de Macururé (BA), que já é considerada região árida e de escassez de água mesmo estando há 40 km do rio, a capacitação serviu para observação do uso da água e melhor aproveitamento. “Parte do meu trabalho durante a capacitação foi o de observar áreas que têm água abundante, como Rodelas, e que fica a poucos quilômetros da minha cidade que já tem uma realidade completamente diferente. Vejo que, diante dessa abundância, há muito desperdício e eles poderiam produzir muito mais, de forma muito mais rentável, se usassem a água com eficiência. O que me trouxe aqui, então, é tentar entender como aproveitar melhor a água de acordo com os tipos de solo. E, além disso, ver essas duas realidades – a nossa escassez e o desperdício onde há abundância – reforça minha busca por aprender a usar a água de forma inteligente e adaptada ao solo que temos.”
De acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) e pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em 2023 foi constatada a existência de uma zona de clima árido na bacia hidrográfica do Rio São Francisco. Os dados apontaram que oito municípios da Caatinga já enfrentam, pela primeira vez no Brasil, um clima árido, sendo eles Petrolina e Belém do São Francisco, em Pernambuco; Juazeiro, Abaré, Chorrochó, Curaçá, Macururé e Rodelas, na Bahia, todos pertencentes à bacia do São Francisco. Esses municípios correspondem a 5.763 km².
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Juciana Cavalcante
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