|
Sacola plástica sob a água transparente (Fotos: Lúcia Xavier)
Por Lúcia Xavier
|
No último domingo (15), visitamos a Praia do Sobrado, em Petrolândia, para viver um dia de lazer em família. Buscamos o local, distante aproximadamente 40 Km do centro da cidade, por ser conhecido como uma praia paradisíaca, com areia limpa e água límpida, vegetação nativa (caatinga) e cenários perfeitos para fotos, inclusive o sítio arqueológico Letreiro do Sobrado, tombado pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. O lugar é ideal para um piquenique e para o banho de rio. Essa foi a agradável impressão que trouxemos de nossa primeira excursão àquela praia, realizada no mês de outubro passado.
Desta feita, porém, foi grande nossa decepção e indignação aos nos depararmos com a degradação ambiental que está se instalando naquele local. Muito lixo na areia, na água, nas árvores. A caatinga queimada por fogueiras e árvores arrancadas. Não andamos 10 metros sem encontrar lixo.
O sítio do Sobrado é um local ermo, desabitado. A comunidade mais próxima, com lotes praticamente à beira da praia do Sobrado, é a Associação Miguel Arraes, reassentamento do INCRA, mas as casas ainda não foram construídas. Justamente pelo fato de ser um lugar isolado e despovoado, grande parte do material para construção, despejado no local pelos fornecedores, já foi roubada das propriedades (deste assunto trataremos em outra matéria).
O acesso à praia é feito por uma estrada de terra, com alguns trechos precários, o que transforma a viagem de lazer quase em uma aventura. Essa dificuldade de acesso manteve a área preservada durante muito tempo, mas agora é praticamente um atrativo a mais. A visitação aumentou bastante, incentivada pela divulgação como ponto turístico do município.
Os frequentadores daquela praia deserta, que têm que levar todos os mantimentos para apreciar algumas horas de recreação no local, mas infelizmente não trazem de volta aquilo que levaram.
Falta a conscientização para não poluir o local. Poucos se dão ao trabalho de, pelo menos, enterrar o lixo orgânico longe da areia da praia. Quase ninguém traz de volta seu lixo inorgânico. Em toda a área, inclusive dentro d'água, encontramos sacolas plásticas, garrafas PET e de vidro, copos descartáveis, latinhas de refrigerante e cerveja, embalagens de óleo para motor etc. Fraldas descartáveis e sacolas plásticas vimos até enfeitando árvores. Latas velhas enferrujadas, armadilhas para os pés de quem passeia deslumbrado com a beleza da paisagem e não olha onde pisa.
Outro aspecto que nos chamou bastante a atenção foi a vegetação queimada por fogueiras acesas pelos visitantes, numa época em que vivemos a famosa "maior estiagem dos últimos 40 anos". Quem não se dá ao trabalho de retirar o próprio lixo, tampouco vai apagar a fogueira antes de deixar o local.
O Letreiro do Sobrado recebeu esse nome porque ali foram encontradas antigas inscrições nas paredes das rochas. Precisaremos de um guia em nossa próxima visita, pois há muitas inscrições rupestres, mas não conseguimos distinguir o antigo do recente.
Diante do que encontramos ali, concluímos que é urgente a realização de um mutirão de limpeza na área, para retirada do lixo. Também é inegável a necessidade de fiscalização e regulamentação das visitas a um local que deveria ser protegido. Instalar cercas e determinar dias e horários de visitação, quem sabe até cobrar taxa para ingresso, talvez ajude a retardar a degradação e levante fundos para a manutenção adequada do local.
O resultado do povoamento programado para a área ainda é uma incógnita. Poderá vir em benefício da preservação ambiental e do patrimônio histórico, caso todos os membros da comunidade ali assentada abracem a ideia. Ou poderá acelerar o processo de degradação, já iniciado com a cada vez mais frequente visitação da praia por pessoas sem educação, em todos os sentidos da expressão.
Assim passamos mais um dia no paraíso quase perdido, nos perguntando até quando um dos mais belos cartões postais de Petrolândia, remanescente dos sítios arqueológicos encobertos pelo Lago de Itaparica, que resistiu às intempéries e ao tempo, resistirá à presença humana.