segunda-feira, fevereiro 04, 2019

''Nenhuma polícia, governo ou hospital atestará a morte de minha mãe'' diz filho da ativista Sabrina Bittencourt

Sabrina Bittencourt e o filho Gabriel Foto: Acervo pessoal

Um dia após a alegação de suicídio da ativista Sabrina Bittencourt por pessoas próximas, um de seus três filhos, Gabriel Baum, de 16 anos, deu detalhes sobre a polêmica que envolve a morte da brasileira que denunciou abusos sexuais do médium João de Deus. Em entrevista exclusiva a ÉPOCA, por mensagens em uma rede social, contou que a tragédia teria acontecido no jardim de uma casa no Líbano, para onde costumava viajar, e que a família não autorizará a confirmação de morte a nenhuma autoridade brasileira ou estrangeira — ainda que não se saiba o que isso quer de fato dizer.

"Nenhuma polícia, governo ou hospital atestará a morte de minha mãe. Não vou dar esse prazer para eles", disse. De acordo com o protocolo do Itamaraty, nenhum consulado repassa informações sobre a situação de cidadãos brasileiros a terceiros sem a autorização da família. "Minha mãe não é propriedade do Estado. O Itamaraty ou qualquer governo corrupto do mundo jamais terá qualquer informação sobre a minha mãe", relatou o adolescente que disse ter visto a mãe pela última vez em Paris, antes de ela viajar a Barcelona e posteriormente ao Líbano.

Segundo Baum, o velório "acontecerá em dois ou três dias", a depender do tempo para o embalsamento do corpo a partir de uma "técnica ancestral". Sem falar o nome da cidade libanesa (mesmo sendo indagado mais de uma vez), ele diz que a morte "aconteceu em meio a uma comunidade, perto de uma oliveira", onde a ativista deve ser enterrada. "Ela fez questão de morrer num país em que sempre foi bem tratada e que tinha sua árvore favorita." Bittencourt era judia sefardita (termo usado para designar descendentes de judeus originários de Portugal e Espanha) e fazia parte de grupos militantes que lutavam pela paz na Palestina.

A informação de que a morte teria acontecido no Líbano é diferente do que foi veiculado originalmente na manhã de domingo (3) por Maria do Carmo, presidente do grupo Vítimas Unidas, para o qual Bittencourt colaborava, e que divulgara que a morte havia ocorrido em Barcelona. O filho explicou que a mãe estava de fato na cidade espanhola nos últimos dias, mas sustenta que o suicídio "de fato" ocorreu no Líbano. "Eu agradeço e entendo a boa vontade da Maria do Carmo, mas ela se baseou numa informação incompleta, porque falou com a minha mãe na quinta-feira e ela [Sabrina Brittencourt] estava em Barcelona. (...) Ela [Maria do Carmo] não fez por mal."

Ao velório, devem comparecer a namorada de Bittencourt, uma atleta de ascendência libanesa e francesa de 32 anos com quem a ativista se relacionava havia dois anos. Gabriel Baum não quis identificá-la. Rafael Tedesco, ex-marido e amigo, está, segundo o adolescente, "dopado de calmantes, sem condição de falar". Além dos três filhos (os outros dois irmãos de Baum têm oito e dez anos) e duas líderes espirituais. Baum se apresenta como o "único porta-voz autorizado da família" a falar sobre a morte da mãe. No momento da entrevista, o adolescente disse que estava a caminho de pegar um barco, a partir da Itália, com destino ao Líbano.

Questionado a compartilhar as últimas conversas que teve com a mãe no WhatsApp, aplicativo usado com frequência pela ativista, Baum negou o pedido e alegou que sabia distinguir "a vida pública da privada". Também disse que nos últimos dias Bittencourt se sentia "frustrada" e com a saúde debilitada, devido ao estresse e a complicações decorrentes de um linfoma. Por fim, acrescentou que a mãe deixou "dezenas de cartas para amigos, centenas de vídeos para ele, irmãos e sociedade", que poderão ser divulgados oportunamente. Inclusive para jornalistas de ÉPOCA. "Ela morreu pra deixar a gente vivo. Agora só queremos estar em paz."

Por: Luís Lima, da Espanha
G1 via Época

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