quarta-feira, outubro 30, 2019

Caso Marielle: Bolsonaro diz que vai pedir a Moro para PF ouvir porteiro sobre citação ao seu nome

Presidente Jair Bolsonaro em visitação ao Forte Masmak, Riade, na Arábia Saudita Foto: José Dias / Presidência da República

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira, ao sair de seu hotel para o evento chamado de “Davos no Deserto”, que pedirá ao ministro da Justiça, Sergio Moro , para a Polícia Federal (PF) ouvir o porteiro que anotou a entrada do suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes no condomínio onde mora, na Barra da Tijuca. Bolsonaro afirmou que, há um mês, ouviu do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel , em uma cerimônia na Escola Naval, que iria para o Supremo Tribunal Federal (STF) uma investigação sobre o caso envolvendo o presidente. Witzel teria citado também a Bolsonaro o depoimento do porteiro.

— Estou conversando com o ministro da Justiça para a gente tomar, via Polícia Federal, um novo depoimento desse porteiro pela PF para esclarecer de vez esse fato, de modo que esse fantasma que querem colocar no meu colo como possível mentor da morte de Marielle seja enterrado de vez — disse.

Nesta terça-feira à noite, o "Jornal Nacional" revelou que um dos suspeitos de matar a vereadora foi ao condomínio onde mora Bolsonaro alegando que iria à casa do presidente. Registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde mora o sargento aposentado da Polícia Militar Ronnie Lessa, principal suspeito de matar Marielle e o motorista Anderson Gomes, mostram que horas antes do assassinato, no dia 14 de março de 2018, o outro suspeito do crime, o ex-policial militar Élcio Queiroz, entrou no condomínio dizendo que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro.


Os registros de presença da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro estava em Brasília em 14 de março de 2018. Ainda segundo o depoimento revelado pelo "JN", o porteiro contou que, depois que Élcio entrou, ele acompanhou a movimentação do carro pelas câmeras de segurança e viu que o veículo tinha ido para a casa 66 do condomínio, onde, na época, morava Ronnie Lessa.

De acordo com o "JN", às 17h10m do dia do assassinato, o porteiro registrou no livro de visitantes o nome de Élcio, o modelo do carro, um Logan, a placa, AGH 8202, e a casa a que o visitante iria, a de número 58, que pertence a Bolsonaro. Élcio é acusado pela polícia de ser o motorista do carro usado no assassinato da vereadora e do motorista. O porteiro disse ainda que interfonou para o número 58 e que a pessoa que atendeu, que ele identificou como "seu Jair", autorizou a entrada de Élcio no condomínio.

Em tom indignado, o presidente disse que dormiu apenas uma hora na noite desta terça-feira, e acrescentou:

— Sou militar, eu aguento.

Bolsonaro também fez uma live no Facebook e, depois, convidou três emissoras de TV a falar sobre o caso. Para os veículos do grupo Globo, ele falou durante uma coletiva. Disse que as informações da reportagem podem prejudicar os investimentos que colheu para o país.


— No (dia) 9 deste mês, outubro, às 21h, eu estava no Clube Naval do Rio de Janeiro quando chegou o governador Witzel. Ele me viu lá, foi uma surpresa eu estar lá. E para mim também, que eu fui ao aniversário de uma autoridade — contou o presidente a jornalistas no hotel onde está hospedado, em Riad.

O presidente reproduziu o diálogo que teve com o governador do Rio de Janeiro.

— Ele chegou perto de mim e falou o seguinte: o processo está no Supremo. Eu falei ‘que processo?’. ‘O processo está no Supremo?’. ‘Que processo?’. ‘Ah, o processo da Marielle’ . ‘O que eu tenho a ver com o caso da Marielle?’. ‘Não, o porteiro citou o teu nome’. Ou seja, Witzel sabia do processo que estava em segredo de justiça — disse Bolsonaro.

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Porteiro desconhecido

Pela prerrogativa de ser presidente, a investigação poderá ser levada ao STF. Visivelmente irritado e consultando um rascunho, o presidente afirmou que o processo estava em segredo de justiça. E que vai pedir que a Polícia Federal volte a ouvir o porteiro. Bolsonaro afirmou ainda que o governador do Rio de Janeiro “estava conduzindo o processo com o delegado da Polícia Civil para tentar me incriminar ou pelo menos manchar o meu nome com essa falsa acusação de que eu poderia estar envolvido na morte da Marielle”, a quem o presidente chamou de "Mariella" ao menos três vezes.

O presidente disse ainda que não sabe quem é o porteiro. Bolsonaro afirmou também que o painel da Câmara dos Deputados tem o registro de sua presença na Casa, às 17h41, e acrescentou que o porteiro disse que, às 17h10, teria ouvido a voz dele, ao interfonar para seu condomínio, a pedido de um dos suspeitos de matar Marielle, o ex-policial militar Elcio Queiroz.

Os registros da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro estava em Brasília naquele dia. O então deputado registrou a presença em duas votações no plenário: às 14h e às 20h30. No mesmo dia, Bolsonaro também postou vídeos nas redes sociais do lado de fora e dentro do gabinete em Brasília.

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Fontes disseram à equipe do "Jornal Nacional" que os dois criminosos saíram do condomínio dentro do carro de Ronnie Lessa, minutos depois da chegada de Élcio. Eles teriam embarcado no carro usado no crime nas proximidades do condomínio.

— Não sei quem é o porteiro. Eu não tive acesso como a Globo teve, como o Witzel teve. O processo corre em segredo. Nós sabemos que são pessoas humildes, que quando são tomados depoimentos sempre estão preocupados com alguma coisa. No meu entender o porteiro está sendo usado pelo delegado da Polícia Civil, que segue ordem do senhor Witzel, governador — disse.

Bolsonaro continuou falando de Witzel e afirmou que o governador se aproximou dele e do filho Flávio para se eleger em 2018.

— Por que ele tem essa tara em cima de mim? Exatamente para destruir minha reputação. O Witzel era uma pessoa desconhecida, colou no Flávio Bolsonaro e em mim para poder se eleger governador. Tomou posse e elegeu Flávio e eu como inimigos dele — disse o presidente.

Maiá Menezes, enviada especial
O Globo

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