O estado possui, atualmente, 110 feiras orgânicas cadastradas, segundo levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) (Foto: Divulgação)
Produtos originalmente de carne animal passando a ser elaborados com plantas ou o aumento crescente do universo fitness. A demanda por uma alimentação mais sustentável é um dos sintomas da busca por um estilo de vida mais saudável. Um contexto que apresenta reflexos no mercado e onde Pernambuco ocupa posição de destaque no país. O estado possui, atualmente, 110 feiras orgânicas cadastradas, segundo levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA). Um número que cresceu 24%, saindo de um total de 83 feiras, no início do cadastramento no Programa Circuito Pernambuco Orgânico, em 2019. Atualmente, o estado possui a maior rede de espaços orgânicos do Norte e Nordeste e a segunda maior do país. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a quantidade de produtores orgânicos cadastrados também cresceu, saltando de 849 para 1.044, ao longo de 2019.
De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco, Dilson Peixoto, o cenário reflete, também, o crescimento da quantidade de OCSs (Organizações de Controle Social) em Pernambuco. Hoje são 52. “A vinculação a uma OCS permite o reconhecimento como produtor orgânico. O desafio, agora, é ampliar o número de espaços no interior do estado, já que, atualmente, um terço desses espaços está concentrado na capital”, afirma, complementando que quando se interiorizam as feiras, incentivam-se os chamados circuitos curtos, aproximando o produtor do consumidor. “Isso representa menos custos para quem produz, que passa a gastar menos com combustível e transporte, e também para quem consome um alimento saudável muitas vezes mais barato do que encontramos nos supermercados”, explica. Uma das metas da secretaria para 2020 é contribuir para a formação de uma Organização Participativa de Avaliação da Conformidade (Opac), que permitirá ao produtor utilizar o selo de produtos orgânicos, por meio do Sistema Participativo de Garantia (SPG), e sua comercialização por terceiros.
Produtores produzem e comercializam em vários espaços
O orgânico é mais do que fonte de renda, muitas vezes única, de boa parte dos produtores rurais do estado. É modo de vida. Amadeu Andrade, 55, da associação de agricultores agroflorestais Terra & Vida, com sede em Igarassu, emociona-se ao falar sobre seu dia a dia como um dos associados do grupo que possui sócios em Abreu e Lima, Tracunhaém, Glória do Goitá, Goiana e São Lourenço da Mata. “Vivemos do sítio e para ele. Não há nada melhor do que poder cuidar da terra, vê-la responder, fazer o adubo orgânico, ver a reciclagem dentro da própria terra e tudo o que falamos sobre agroecologia ser implantado. Isso é muito bom”, afirma.
No Recife, a associação participa de feiras em bairros como Graças, Boa Viagem, Olinda, Santo Amaro, Setúbal, Várzea, Rosarinho, Casa Forte, Camaragibe e Pina, a fim de escoar uma produção de 400 a 500 kg por semana, em média. Um mix de mais de 200 itens plantados e processados nos sítios como batata-doce, macaxeira, inhame, goiaba, araçá, maracujá, manga, caju e acerola. “Somos conhecido também por fazer a famosa carne de jaca e a polpa de azeitona roxa (jamelão). Utilizamos insumos orgânicos – farinhas de trigo e arroz por exemplo - em tudo o que é produzido como pães, bolos e geleias”, relata. Até a baunilha é plantada nos locais, que também passarão a receber o plantio de itens como cacau. “Só tenho 30% da minha área aberta, o restante é tudo agrofloresta. E este trecho é voltado a plantações que precisam de incidência solar, sendo o restante todo associado à mata nativa. É muito tocante cuidar da natureza e ela fazer o mesmo por você”, afirma. Para 2020, a meta é ampliar a busca da qualidade e cuidados com a terra, além de ampliar a produção. “Atualmente, nossa capacidade está toda tomada em relação à comercialização. Por isso, estamos buscando parceiros para atender à demanda”, finaliza.
Adeildo Barbosa da Silva, 42, faz parte da Agroflor, rede com várias outras organizações, localizada em Bom Jardim, e que comercializa em Recife. A Associação é formada por 115 agricultores de sete famílias, vindas de locais como Gravatá, Chã Grande e Abreu e Lima e que participam também de comércio em 35 feiras do Recife como as de Boa Viagem, Setúbal, Santo Amaro, Várzea e Camaragibe. Além disso, a associação participa de programas como o de aquisição de alimentos do governo federal e o PNAE, de merenda escolar. Cerca de 70% das frutas - como banana, laranja, limão, abacate, manga – e 90 a 05% hortaliças - alface, coentro, cebolinha e couve – são destinados ao comércio. A dedicação ao agro, para Adeildo, tem valido a pena. “Já são quase 15 anos e não me arrependo. Tenho uma renda suficiente para mim, minha esposa e filho”, afirma. Os benefícios mensais, em média, de um agricultor da Agroflor é de 2,5 a três salários-mínimos.
Dicas de segurança para o consumidor, em uma feira agroecológica:
*Conversar com o comerciante e tirar suas dúvidas. É bom, inclusive, procurar saber se ele é o produtor ou atravessador.
*Verificar se o agricultor tem exposto em sua barraca a marca da OCS (ORGANIZAÇÃO De Controle Social), registrada no Ministério da Agricultura.
* Se possível, marcar visita na propriedade do agricultor para conhecer o trabalho do mesmo.
Sobre agricultura agroecológica/orgânica?
São utiliza agrotóxicos, hormônios, drogas veterinárias, adubos químicos, antibióticos ou transgênicos em qualquer fase da produção. Não faz queimadas. Para impedir a disseminação de doenças, plantas consideradas daninhas são usadas para atraírem para si as pragas.
* Todo alimento cultivado sem o uso de agrotóxicos é agroecológico/orgânico?
Não. A produção agroecológica/orgânica vai além disto. O cultivo deve respeitar aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos, garantindo um sistema de produção sustentável, não deixando de pensar na água, no ar, no homem, nos seres vivos embaixo do solo e nos animais.
*Frutos grandes e bonitos indicam o uso de agrotóxico?
O mito de que o produto agroecológico/ orgânico é menor, ou mais feio, já foi superado pela produção agroecológica/orgânica. Depende do solo já estar recuperado ou não.
*Por que produtos agroecológicos/orgânicos são mais caros?
O produto pode ter seu custo de produção um pouco maior, o que muitas vezes não influencia no seu preço final. O que é considerado na hora de definir o preço é o quanto o agricultor consegue produzir de forma limpa levando em consideração os seus custos. Atualmente, entretanto, estes alimentos estão com o seu preço bem equiparado ou mais barato do que os convencionais.