No início desta semana, apresentamos diversas reportagens em homenagem ao mérito do jovem Lucas Luciano, 14 anos, que, na manhã do último domingo (09), conquistou o título de Campeão Nacional de Salto em Distância, categoria 12 a 14 anos. O Campeonato Brasileiro de Atletismo, etapa nacional das Olimpíadas Escolares, foi realizado em Poços de Caldas (MG).
Lucas Luciano, aluno da Escola Municipal 6 de Março, em Petrolândia, representou o Estado de Pernambuco naquela competição e, na qualidade de campeão brasileiro de salto em distância, representará o Brasil nos Jogos Escolares Sulamericanos.
Na terça-feira (11), com honras ao mérito, Lucas Luciano foi recepcionado em nossa cidade. O jovem desfilou em carro do Corpo de Bombeiros e foi homenageado em solenidade realizada na Câmara de Vereadores. Durante o percurso do desfile, Lucas Luciano concedeu entrevista ao Blog de Assis Ramalho, na qual afirma que seu talento foi revelado por Marcelo Epifânio.
Após a publicação dessas matérias, algumas pessoas reivindicaram do Blog uma entrevista com Marcelo Epifânio, professor de Educação Física, descobridor do talento de Lucas Luciano para o atletismo, e consideram que o professor foi esquecido durante as homenagens e injustiçado, não tendo o seu valor reconhecido.
Marcelo Epifânio, 25 anos, cursa Educação Física na cidade de AESA-ESSA, em Arcoverde (PE). Felizmente, coincidiu de ele estar em Petrolândia neste período. Procuramos Marcelo e ele concordou em conversar com a reportagem. Durante a entrevista, Marcelo se emocionou em alguns momentos.
Acompanhe na íntegra a entrevista
Assis Ramalho: Marcelo, você deve estar muito orgulhoso e até mesmo um pouco chateado. Nas festas, falaram pouco de você. Fale sobre o atleta Lucas Luciano, campeão agora para seu orgulho, e conte como tudo começou.
Marcelo: Tudo começou com a inspiração de minha tia, Zelminha (Gizelma Epifânio), e de um atleta promissor, que foi o Jânio (Charles). Foi a partir dali que pensamos em investir em um grande atleta. Em 2007 Jânio esteve na cidade de Poços de Caldas, a cidade onde Lucas foi vencedor este ano. Só que não deu certo ele correr, por conta da organização do pessoal de Pernambuco. Teve um problema com a documentação e ele não foi inscrito. Mas ele viajou com Zelminha. Foi ali que eu percebi que nosso forte não era somente no esporte coletivo. Foi ali que eu vi que Petrolândia tinha e tem bons atletas para serem trabalhados. Tem vários Lucas, tem vários Jânios para a gente lapidar.
Assis Ramalho: Como foi que você descobriu que Lucas Luciano levava jeito para o atletismo, porque gostar de futsal quase toda criança gosta, mas atletismo...
Marcelo: Rapaz, foi até interessante! Eu fiquei até emocionado quando ele ganhou, eu estava até conversando com Zelminha, lembrando como foi. Mais ou menos em junho do ano passado, a gente estava tentando selecionar os alunos para o atletismo. Eu levei um grupo do futsal lá para o bairro Nova Esperança, uns 7 ou 8 meninos, para ver se alguns deles tinham jeito para o atletismo. Na estrada, eu fiz uma linha no chão e disse aos meninos: “vamos ver quem salta mais.” Selecionei o Lucas e ele ganhou o Campeonato Municipal de Atletismo. Em seguida eu comecei a limpar o terreno da Escola 6 de Março. Na época, dentro da escola, o terreno tinha muito mato, então eu comecei limpando e os meninos viram que podiam me ajudar também, inclusive o Lucas. Limpamos o terreno e fizemos a pista, com uma caixa de salto no final. Foi ali que ele começou a se desenvolver. Na hora do recreio a gente colocava uns saltos para ele e o pessoal para torcer, mesmo alguns não sabendo nem o que era aquilo.
Assis Ramalho: De todo o currículo de conquistas dele no atletismo, era você quem estava acompanhando ele?
Marcelo: Assis, eu só não acompanhei (de ver ele) em Poços de Caldas, mas o restante da trajetória dele eu acompanhei. Eu acho que eu tenho um papel importante, não sei se é o principal, mas a base.
Assis Ramalho: A partir do momento em que você viu o menino Lucas campeão, o que passou na sua cabeça?
Marcelo: Um dia antes eu falei com ele, no sábado (08). Ele estava triste, estava abatido. Foi onde ele falou: “Professor, fiquei em quinto (lugar)”. Eu senti que ele estava abatido. Depois de um ano estando junto com ele, no dia em que ele precisava, eu estava sempre com ele, percebi que ele estava triste. Eu disse: “Lucas, você é de primeiro para terceiro, velho. Se concentre. A gente tem a medida do salto, você aumenta, você vai diminuir um passo seu.” A gente conversou, eu orientei ele. Eu disse “você consegue, você tem força de vontade, confie em você que tudo é possível”. Quando foi no outro dia, Zelminha liga pra mim (eu estava até saindo da igreja): “Olha, o menino ganhou! “ O momento foi de chorar, de pular, fiquei sem os pés no chão., sem saber o que fazer.
Assis Ramalho: Bateu um pouco de chateação, no meio de tanta festa , por ninguém convidar você pra vir receber Lucas?
Marcelo:(antes de responder, da uma pausa e chora) Muita tristeza, muita decepção. No momento eu fiquei me sentindo inútil. Antes e depois da chegada dele, eu me senti assim, inútil. A ida dele para o Recife foi conseguida por mim e por Zelminha. E depois que ele vence, a pessoa ser esquecida, é muito ruim.
Assis Ramalho: Então, quando foi para ele ir para Minas Gerais, a direção da escola já não procurou mais você?
A esta pergunta, o professor Marcelo respondeu apenas com lágrimas.
Da Redação do Blog de Assis Ramalho
Fotos: Assis Ramalho