Os pankararus adotaram isolamento social prolongado, desde março, indicado pela (Fundação Nacional do Índio (Funai). São mais de cinco mil pessoas que vivem em Tacaratu, Petrolândia e Jatobá, no Sertão.
O novo coronavírus avança pelo interior de Pernambuco, atinge comunidades indígenas e provoca mortes. Dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Instituto de Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD) e da Rede de Monitoramento de Direitos Indígenas (Remdipe) apontam que oito dos 13 povos indígenas do estado foram atingidos pela Covid-19.
Ainda segundo as entidades, foram confirmados 66 casos. Ao todo, 30 indígenas estão curados e dez morreram. Não resistiram aos efeitos da doença, no interior, um pankará, uma bebê pipipã, e quatro fulni-ôs.
A Remdipe também contabilizou casos de mortos na Região Metropolitana do Recife. A entidade informa que foram três xucurus, que moravam em Jaboatão dos Guararapes, e um warao, da Venezuela, que residia na capital pernambucana.
Para a antropóloga Vânia Fialho, da Remdipe, há muitos obstáculos para saber a situação das comunidades.
“Falta saber a quantidade de teste que chegam, quais são os números exatos de pessoas que estão sendo testadas ou não, além da necessidade do material que chega e como ele está sendo distribuído”, disse.
Precaução
Por causa da pandemia, cada povo atua como pode. Entre os xucurus, de Pesqueira, no Agreste, quem entra no carro para sair da aldeia recebe máscara e álcool em gel. Na área indígena, também ocorre a entrega de material para proteção.
O povo tem 12 mil habitantes. A Associação indígena Xucurú de Ororubá comprou 10 mil máscaras pra distribuir pra todas as famílias.
Além disso, foram tomadas outras providências, como a montagem de barreiras de contenção nas entradas do território. A ideia é proibir a entrada de pessoas estranhas.
Nessas barreiras, automóveis e motocicletas são higienizados. Mesmo assim, a doença deixou algumas marcas. Sete pessoas da comunidade foram infectadas. Levadas para um espaço de acolhimento, todos tiveram alta, no domingo (31).
“Foi necessário que o povo xucuru tomasse medidas mais enérgicas para evitar pessoas estranhas”, afirmou o cacique Marcos Xucuru.
Os pankararus adotaram isolamento social prolongado, desde março, indicado pela (Fundação Nacional do Índio (Funai). São mais de cinco mil pessoas que vivem em Tacaratu, Petrolândia e Jatobá, no Sertão.
Eles fizeram barreiras sanitárias Também evitam sair da comunidade e impedir que pessoas de fora entrem. Coordenador-executivo da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo, Sarapó Pankararu diz que é uma maneira para evitar que o vírus chegue às aldeias.
Mesmo com esses cuidados, três pankararus foram contaminados com a Covid-19. Ninguém teve sintomas graves. Todos estão em observação.
Por causa da doença, os indígenas estão assustados. Há uma semana, eles entraram em plantões de 24 horas na barreira sanitária e pretendem ficar assim por, no mínimo, mais 14 dias.
A estudante Helen Wanessa, que vive no local, afirmou que algumas pessoas, tanto de fora como da aldeia mesmo, acabam não apoiando as medidas.
“A grande maioria está ajudando, está vindo, dando auxílio como pode. A gente vai continuar até conseguir controlar e que esse mal se acabe logo", afirmou.
Para sobreviver em meio à pandemia, eles plantam e fazem artesanato. Como estão em sair de casa, não conseguem vender o que produzem. Por isso, dependem do auxílio emergencial do governo. Assim, quando têm que ir retirar o dinheiro no banco, existe o risco de pegar a Covid-19.
Edilene Souza lamenta as dificuldades para conseguir o auxílio. “Pensamos que ia ser melhor. É difícil receber esse benefício na cidade com essa tal de epidemia", disse.
João Vitor Pankararu, coordenador do Movimento Jovem Indígena, reclama da falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para voluntários e trabalhadores.
Segundo ele, as instituições governamentais indigenistas têm feito pouco caso. “Os trabalhadores, que são nossos familiares, também estão correndo risco. Não têm nenhuma seguridade de testagem maciça desse vírus", observou.
Risco
Na Aldeia Fulni-ô, em águas Belas, no Agreste, moram cerca de quatro mil pessoas. Um homem de 42 anos foi o primeiro a ter a morte confirmada pela Covid-19. Rondinelle Sá era guerreiro e cantador de músicas tradicionais do povo.
Outra pessoa que morreu foi Mourizon Torres, de 70 anos. Na área, há uma terceira vítima, que a família não quis identificar, bem como Enide Paulino, de 78 anos.
Por causa da pandemia, na área, há distribuição de cestas básicas e máscaras. Mas a comunidade aposta mesmo é nas barreiras sanitárias.
Os mais novos têm papel importante na s ações contra a doença. “Nós não poderíamos esperar a burocracia institucional. A gente buscou através de parceira, doações para podermos efetivar nossas ações. Até porque não dá pra simplesmente pedir às pessoas que fiquem nas suas casas sem dar um suporte pra elas”, declarou Mike Torres, um dos voluntários da comunidade.
Interiorização
No fim de maio, a pandemia da Covid-19 havia atingido a maioria dos 184 municípios do estado, mais Fernando de Noronha. Só 12 não tinham casos confirmados dessa doença causada pelo novo coronavírus.
Esse avanço do vírus Sars-Cov-2 pelo interior pernambucano vem sendo constatado desde abril pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). No dia 13 daquele mês, o mapa elaborado pela instituição mostrava registros da doença em 52 cidades do estado, além de Noronha (veja vídeo acima).
No dia 7 de maio, o mapa registrava uma mancha ainda maior no interior de Pernambuco, com o aumento no número de casos sobretudo no Agreste. No penúltimo fim de semana de maio, a Covid-19 se espalhou ainda mais no estado, principalmente no Sertão.
Por G1 PE